Vendas ao exterior somaram R$ 7,26 bilhões de janeiro a março deste ano contra R$ 6,56 bilhões do mesmo período de 2024
Apenas no último mês de março, as empresas da RMC exportaram R$ 2,63 bilhões, uma elevação de 12,52% em comparação ao mesmo mês do ano passado (Kamá Ribeiro)
As exportações da Região Metropolitana de Campinas (RMC) fecharam o primeiro trimestre deste ano com crescimento de 10,71% em comparação ao mesmo período de 2024, passando de US$ 1,12 bilhão (R$ 6,56 bilhões) para US$ 1,24 bilhão (R$ 7,26 bilhões). O resultado apontado pela Comex Stat, plataforma de balança comercial do Ministério da Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), é o segundo melhor nos três primeiro meses do ano desde o início da série histórica, em 2013. O melhor desempenho ocorreu em 2023, quando foi de US$ 1,31 bilhão (R$ 7,67 bilhões).
O acumulado foi atingido após as empresas da região terem exportado US$ 449,01 milhões (R$ 2,63 bilhões) em março, aumento de 12,52% em relação aos US$ 399,04 (R$ 2,33 bilhões) de igual mês do ano passado. Foi o terceiro melhor março em 13 anos nas vendas para o exterior, inferior apenas aos US$ 509,55 milhões (R$ 2,98 bilhões) de 2023 e aos US$ 463,84 (R$ 2,71 bilhões) de 2022. “Por alguns índices, fica claro que a indústria está numa fase positiva de produção. O que vai ocorrer é esse movimento clássico de aumento da importação, pois é uma indústria dependente de insumos para produção. A exportação cresce um pouco, mas cresce abaixo, porque essa indústria também exporta”, avaliou o economista e professor da PUC-Campinas, Paulo Ricardo da Silva Oliveira.
As importações das empresas em março foram de US$ 1,36 bilhão (R$ 7,79 bilhões), elevação de 14,29% em relação ao US$ 1,19 bilhão (R$ 6,97 bilhões) de igual de 2024. O montante é o segundo maior da série histórica da balança comercial regional, superado apenas pelo US$ 1,42 bilhão (R$ 8,32 bilhões) de 2022. No acumulado do trimestre, as importações somaram US$ 4,1 bilhões (R$ 24,03 bilhões), novo recorde para o período da série histórica. O anterior havia sido registrado em 2022, quando foi de US$ 3,91 bilhões (R$ 22,92 bilhões). As compras feitas em outros países no três primeiros meses de 2025 tiveram alta de 16,48% quando comparado com os US$ 3,51 bilhões (R$ 20,57 bilhões) do ano passado.
SALDO
“Faz sentido as importações subirem mais porque as indústrias produzem mais também para abastecer o mercado interno”, esclareceu o economista. O déficit da balança comercial também aumentou. O saldo negativo ficou em US$ 2,86 bilhões (R$ 16,76 bilhões), também recorde no primeiro trimestre. O maior valor anterior foram os US$ 2,75 bilhões (R$ 16,12 bilhões) de 2022. O déficit cresceu 19,67% em relação aos US$ 2,39 bilhões (R$ 14,01 bilhões) do ano passado.
No acumulado de 12 meses, de abril de 2023 a março de 2024, as exportações da Região Metropolitana de Campinas somaram US$ 5,01 bilhões (R$ 29,36 bilhões), queda de 3,84% em comparação aos US$ 5,21 bilhões (R$ 30,43 bilhões) do período anterior. As importações, por sua vez, foram de US$ 16,47 bilhões (R$ 96,54 bilhões), aumento de 12,65% no comparativo com os US$ 14,62 bilhões (R$ 85,7 bilhões). Com isso, o déficit da balança comercial da RMC ficou em US$ 10,48 (R$ 61,43 bilhões), queda de 3,76% em relação aos US$ 10,89 bilhões (R$ 63,83 bilhões).
Uma tecelagem, com duas fábricas em Santa Bárbara d’Oeste, tem sentido o bom momento das exportações. A empresa atua em todo o território brasileiro e vende para países da América Latina, entre eles Argentina, México e Chile. Fundada há 56 anos, ela emprega hoje cerca de 2 mil funcionários e participa de feiras internacionais em busca de novos clientes. Em janeiro, a indústria participou da Colômbia Têxtil 2025, a maior feira do setor do mercado latino-americano. Ela foi uma das 36 empresas nacionais a marcar presença no evento expondo seus produtos, o que ocorreu por meio de uma parceria entre a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).
As empresas participam do Programa de Internacionalização da Indústria Têxtil e de Moda Brasileira (Texbrasil), que atua no desenvolvimento de estratégias para conquistar o mercado global. Ao longo de 22 anos, ele auxiliou cerca de 1,9 mil marcas a entrarem no caminho da exportação, gerando mais de US$ 9 bilhões (R$ 52,75 bilhões) em negócios. “A alta do dólar valoriza a exportação, mas também eleva os custos que estão atrelados à moeda estrangeira, como máquina, algodão e produtos químicos que, por sua vez, reverberam nos custos da produção", disse o presidente emérito e superintendente da Abit, Fernando Pimentel.
DESEMPENHO
Campinas foi a cidade da RMC que mais exportou no mês passado, com o valor de US$ 101,96 milhões (R$ 597,68 milhões) representado 22,71% do total regional. Os itens mais exportados pelo município foram óleos de petróleo ou de minerais betuminosos, algodão não cardado nem penteado, motores e geradores elétricos, partes de motores e bombas para líquidos. Já as importações do município ficaram em US$ 288,35 milhões (R$ 1,69 bilhão), com os principais produtos sendo aparelhos elétricos para telefonia, circuitos integrados e microconjuntos eletrônicos, óleos de petróleo ou de minerais betuminosos, medicamentos e provitaminas e vitaminas.
A plataforma do MDIC mostrou Paulínia na segunda colocação, com exportações de US$ 72,79 milhões (R$ 426,69 milhões). A pauta das exportações do município foi liderada por produtos não misturados ou misturados para medicamentos, inseticidas, polímeros de etileno, fenóis e álcoois acíclicos. As importações somaram US$ 438,12 milhões (R$ 2,56 bilhões), puxadas por compostos heterociclos, inseticidas, ácidos nucleicos, compostos de função carboxiamida e sulfonamidas.
Com exportações de US$ 68,54 milhões (R$ 401,78 milhões) em março, Indaiatuba ficou na terceira posição no ranking da RMC. Os automóveis foram o item mais vendido pelo município para o exterior, seguido de máquinas agrícolas e para construção civil, peças para automóveis, aparelhos mecânicos e peças para máquinas. Já as importações locais ficaram em US$ 104,82 milhões (R$ 614,45 milhões), sendo principalmente de peças e acessórios para máquinas, partes e acessórios para automóveis, máquinas automáticas para processamento de dados, peças para automóveis e aparelhos elétricos para telefonia.
TARIFAÇO
Para o professor da PUCCampinas, “ainda é cedo” para ter uma avaliação do aumento de 10% nos produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, determinado pelo presidente Donald Trump (Republicano) e que entrou em vigor ontem. O mercado estadunidense é o principal destino das exportações das empresas da Região Metropolitana de Campinas, com uma participação em torno de 18% do total, comprando principalmente máquinas, um produto de alto valor agregado.
Os outros países que mais compram produtos da RMC são Argentina (17%), México (7%), Chile e Alemanha (com 5% cada). “A gente está falando de uma tarifa de 10% para o Brasil. A Argentina também ficou nesse grupo, enquanto a Ásia, a China, por exemplo, terá de enfrentar uma tarifa de 34%. Isso deve causar uma movimentação bem grande, que a gente chama de preços relativos”, projetou o economista. Para ele, isso pode beneficiar os produtos brasileiros, por se tornarem mais competitivos devido a terem um preço mais atrativo. Por outro lado, forçará a China a buscar outros mercados, podendo aumentar a concorrência com o Brasil em outros países e também inundar o mercado brasileiro com seus produtos, afetando a indústria nacional.
Para o economista, o tarifaço também aumentará a inflação nos Estados Unidos, o que forçará o país a aumentar a taxa de juros para tentar segurar a alta de preços. “Isso é o que a gente enxerga num primeiro momento, o que é ruim para o mundo como um todo. A taxa de juros dos Estados Unidos influencia todas as outras taxas de juros. Se ela está alta, nossa taxa de juros deve aumentar aqui também, o que é ruim para a produção. Isso é um efeito macroeconômico”, explicou Paulo Ricardo Oliveira.
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