PANORAMA REGIONAL

Exportações crescem 35% nas indústrias da região de Campinas em julho

São sete meses de desempenho positivo neste ano em comparação a 2021

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
26/08/2022 às 16:30.
Atualizado em 26/08/2022 às 16:36
Perfil industrial da região é marcado principalmente por indústrias da área de tecnologia com produtos de alto valor agregado, o que demanda a importação de matérias-primas (Gustavo Tilio)

Perfil industrial da região é marcado principalmente por indústrias da área de tecnologia com produtos de alto valor agregado, o que demanda a importação de matérias-primas (Gustavo Tilio)

As indústrias da região de Campinas registraram aumento de 35,6% nas exportações em julho, o sétimo mês seguido de crescimento em comparação a 2021 e o segundo melhor desempenho deste ano. No mês passado, as vendas ao exterior foram de US$ 326,4 milhões (R$ 1,67 bilhão), alta de 35,3% em comparação aos US$ 241,3 milhões (R$ 1,23 bilhão) de julho de 2021, de acordo com o Panorama Regional do Comércio Exterior divulgado ontem pelo Centro das Indústrias do Estado de São Paulo – Regional Campinas (Ciesp). O maior volume de exportações deste ano foi em junho, de US$ 338,9 milhões (R$ 1,73 bilhão).

Nos sete primeiros meses do ano, o valor acumulado é US$ 2,06 bilhões (R$ 10,54 bilhões), crescimento de 30,6% em relação ao mesmo período de 2021, quando as exportações totalizaram US$ 1,58 bilhão (R$ 8,08 bilhões).

Para o diretor titular do Ciesp, José Henrique Toledo Corrêa, esses números e outros indicadores mostram que “as empresas estão a todo o vapor, passam por um crescimento sustentável, não é uma bolha de consumo”.

Importações

Apesar do resultado positivo das exportações, a balança comercial da indústria regional segue negativa em virtude do volume maior das importações. Em julho, o valor foi US$ 1,42 bilhão (R$ 7,26 bilhões), resultado 26,8% maior do que o registrado no mesmo mês do ano passado — US$ 1,12 bilhão (R$ 5,73 bilhões). 

As importações acumuladas nos sete primeiros meses deste ano foram de US$ 7,93 bilhões (R$ 40,55 bilhões), aumento de 22,5% sobre os US$ 6,47 bilhões (R$ 33,08 bilhões) de janeiro a julho de 2021. 

Com isso, o saldo negativo da balança comercial é de US$ 5,86 bilhões (R$ 29,97 bilhões) no acumulado do ano, 19,9% a mais do que os US$ 4,89 milhões (25 bilhões) registrados nos primeiros sete meses de 2021. 

Para o diretor de Comércio Exterior do Ciesp, Anselmo Félix Riso, o resultado ocorre em virtude do perfil industrial da região, marcado principalmente por indústrias da área de tecnologia com produtos de alto valor agregado, o que demanda a importação de matérias-primas.

Produtos

De acordo com a entidade, os principais produtos exportados pela região são máquinas, caldeiras, aparelhos mecânicos e suas partes, que respondem por 14,2% do total. Em seguida, aparecem produtos plásticos e derivados (10,7%) e produtos farmacêuticos (7,8%). Os principais municípios exportadores, entre os 19 abrangidos pelo Ciesp, são Paulínia, Campinas e Sumaré, que juntos foram responsáveis por 66,1% das vendas ao exterior no acumulado de janeiro a julho deste ano. Os principais destinos são a China, Estados Unidos e Argentina, que somam 70% das exportações. 

Já as empresas que mais importam são as de produtos químicos orgânicos; químicos diversos; e de máquinas, aparelhos e materiais elétricos e aparelhos de gravação e reprodução. Esses três setores responderam por 65,4% das compras feitas pelas indústrias da região nos primeiros sete meses do ano. 

Para Riso, o resultado mostra que as indústrias “continuam crescendo e a internacionalização das nossas empresas”. O diretor de Comércio Exterior do Ciesp aponta que o desempenho a curto prazo “depende dos cenários externo e interno e do resultado das eleições do próximo mês”. Entre os fatores que podem afetar o resultado também, estão a guerra na Ucrânia, os casos de covid-19 na China, a inflação em todo o mundo e a alta nos custos de importação/exportação.

Produção

A Sondagem Industrial Mensal, também divulgada ontem pelo Ciesp-Campinas, mostra que 64% das indústrias da região trabalham este mês com mais de 70% da capacidade de produção instalada. Para o diretor titular da entidade, esse e outros indicadores mostram que “as empresas estão a todo o vapor, o crescimento é sustentável, não é uma bolha de consumo”.

O levantamento mostra ainda que 82% das empresas mantiveram ou aumentaram a produção em relação a julho, 77% preservaram o número de funcionários e 86% tiveram aumento ou ficaram estáveis em relação ao faturamento. A sondagem mostra ainda que 40% das empresas consideram como maior desafio do segmento a elevada carga tributária do País, 27% apontam a falta de mão de obra qualificada e 21% indicam a alta taxa de juros. 

Os empresários apontam ainda como maiores custos fixos os impostos e taxas (37%), compra e manutenção de materiais (21%) e salários dos colaboradores e pró-labore (17%). Corrêa resume esses pontos como “custo Brasil” e defende a adoção de medidas pelo governo federal para revê-los e tornar o País competitivo para atrair investimentos estrangeiros.

Há um consenso mundial de que a pandemia de covid-19 colocou em xeque o processo de globalização da economia, com as grandes multinacionais devendo investir em novas fábricas em vários países para descentralizar a produção de matérias-primas e evitar a dependência de poucos mercados fornecedores. 

Para o diretor titular do Ciesp, o Brasil precisa fazer as reformas tributária e administrativa (redução do tamanho da máquina do governo) para ter um cenário mais atrativo para receber os investimentos.

Raul Sadir, diretor-geral de indústria de filtros e equipamentos de alta tecnologia que ampliou exportações (Gustavo Tilio)

Raul Sadir, diretor-geral de indústria de filtros e equipamentos de alta tecnologia que ampliou exportações (Gustavo Tilio)

O diretor-geral de uma empresa de equipamentos de alta tecnologia com fábricas em Campinas e Sumaré, Raul Alejandro Sadir, acrescenta a essas mudanças que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) libere financiamentos para que as médias empresas possam investir e aumentar a competitividade internacional. “Hoje, investimos com capital próprio, mas é abaixo do que gostaríamos e precisamos”, diz.

“O BNDES financia apenas as grandes indústrias e a agroindústria”, completa o empresário, com as demais ficando privadas de obter linhas de crédito com juros mais atrativos. Com 200 funcionários, a indústria exporta 5% de produção, o dobro do que fazia há cinco anos, principalmente para a Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia. 

A empresa de 48 anos de fundação produz filtros e equipamentos usados em setores como saúde, indústria farmacêutica e de cosméticos, hospitalar, pesquisa, biotecnologia e outros. Para Sadir, o Brasil já tem uma infraestrutura e capacidade industrial que o coloca em vantagem em relação aos demais países da América do Sul, mas precisa reduzir os impostos e o custo da mão de obra para não perder novos investimentos para o México, Cingapura e África do Sul.

O empresário aponta que um ambiente atrativo para as empresas as tornaria mais competitivas, geraria novos empregos e o que se convencionou chamar de círculo virtuoso de desenvolvimento. Resumidamente, isso pode ser traduzido em investimento, criação de postos de trabalho e aumento do consumo, com um fator alimentando o outro.

Para Sadir, a situação econômica do País faz com que o “empresário durma de um jeito e acorde de outro”. Essa variabilidade é causada por fatores locais como câmbio e alta das matérias-primas, além de questões internacionais, como a elevação dos custos de logística. Ele cita que o preço de um contêiner para a China saltou de US$ 2,5 mil (R$ 12,8 mil) no final de 2019, no início da pandemia de covid-19, para os atuais US$ 15mil (R$ 76,7 mil). Todos esses fatores influenciam o custo de produção e afetam o desempenho das indústrias, diz o empresário.

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