EM AGOSTO

Exportações crescem 21%, mas balança comercial está negativa na RMC

É o segundo melhor desempenho da região para o mês de agosto em 10 anos

Isadora Stentzler/ [email protected]
09/09/2022 às 20:14.
Atualizado em 09/09/2022 às 20:14
Máquinas de construção civil, peças e acessórios de veículos, e pneus estão entre os itens mais exportados (Gustavo Tilio)

Máquinas de construção civil, peças e acessórios de veículos, e pneus estão entre os itens mais exportados (Gustavo Tilio)

As exportações de empresas da Região Metropolitana de Campinas (RMC) cresceram 21,18% em agosto deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado. É o segundo melhor desempenho das exportações para o mês de agosto em 10 anos, conforme estudo divulgado ontem pelo Observatório PUC-Campinas. Apesar do aumento, a balança comercial segue desequilibrada, com importações 28,45% acima das registradas em 2021. O resultado disso é um deficit comercial regional 31,72% maior do que no ano passado. 

O estudo do Observatório PUC-Campinas foi coordenado pelo professor doutor Paulo Ricardo da Silva Oliveira, com auxílio de João Pedro Toledo Tricoli. Foram analisados indicadores da balança comercial da RMC de agosto, disponibilizados na base de dados do Ministério da Economia. Além dos dados quantitativos, agregados e desagregados por município, o estudo cruzou informações do comércio com os índices de Complexidade de Produtos, calculados pelo Observatório de Complexidade Econômica do MIT Mídia Lab1.

De acordo com o estudo, “apesar dos problemas estruturais do déficit comercial regional causados pela dependência das importações de insumos externos, os dados mensais evidenciam melhora da atividade do setor externo da RMC em relação ao mesmo período do ano anterior”. Ele ainda cita que as estatísticas de volume de comércio também sofreram “efeitos inflacionários importantes no período”. 

Exportação 

Em números absolutos, as exportações de agosto deste ano somaram US$ 542,60 milhões, um crescimento de 21,18% em relação ao mesmo mês de 2021. Esse valor, de acordo com o estudo, corresponde ao segundo melhor desempenho das exportações para o mês de agosto em 10 anos – o primeiro foi em 2012, que registrou US$ 542,84 milhões. 

Puxaram a alta das exportações os inseticidas e os produtos agrícolas, seguidos pelas máquinas de construção civil, pneus, peças e acessórios de veículos. Por outro lado, caíram as exportações de componentes de motores e medicamentos. 

Os principais destinos de exportação da região foram Argentina, que sozinha corresponde a 20% dos produtos exportados, Estados Unidos (14,53%) e China (6,93%). Na sequência, aparecem México (6,52%), Chile (6,15%), Alemanha (6,13%), Colômbia (5,16%), Bélgica (3,46%), Peru (3,35%) e, em menor escala, o Paraguai (2,93%).

“Sem sombra de dúvidas, a gente está retomando o ritmo normal da economia”, explica o economista da PUC-Campinas, Roberto Brito, sobre o impacto desse indicador. “Em 2021, nós estávamos, iniciando a saída daquela condição de muitos fechamentos e de muitos setores que não estavam operando com muita fluidez. Depois desse período — e podemos citar o primeiro semestre de 2022 em que ainda tivemos alguns repiques da pandemia, que evitou o pleno funcionamento de alguns setores —, a gente já tem praticamente uma retomada normal das atividades econômicas como um todo, que tem resultado numa dinâmica de maiores exportações para o mundo e um volume maior de importações para nossa região também."

Apesar disso, a participação nas exportações no Estado de São Paulo, foi de 7,41%, indicando que a RMC continua perdendo participação relativa nas exportações do Estado, quando comparada com o mesmo período em 2021.

Importações 

Na outra ponta, as importações deram um salto e somaram US$ 1,85 bilhão em agosto deste ano: um crescimento de 28,45% em comparação ao mesmo mês de 2021. A participação da RMC nas importações do Estado foi de 21,61%. 

Com isso, o saldo da balança comercial ficou negativo, com deficit de US$ 1,3 bilhão, um aumento de 31,72% em relação ao cenário de agosto do ano passado. 

Entre os importados, as principais altas se deram para compostos inorgânicos, diodo, transístores e dispositivos semelhantes, semicondutores, máquinas para processamento de dados, compostos heterocíclicos de nitrogênio, ácidos nucleicos e seus sais, outros compostos heterocíclicos, inseticidas e produtos agrícolas. Na outra ponta, caíram as compras de veículos, telefones, componentes de máquinas e de circuitos eletrônicos. 

Só a China foi responsável por 33,11% das importações, liderando entre os países que mais venderam à RMC. Após o país oriental, aparecem Estados Unidos (13,5%) e Alemanha (6,4%).

Balança comercial 

O estudo também apresenta o cenário acumulado do último ano, de setembro de 2021 a agosto de 2022. Nesse período, as importações atingiram a marca dos US$ 17,39 bilhões na região, enquanto as exportações somaram R$ 5,4 bilhões. Esse desequilíbrio entre importações e exportações rendeu um deficit comercial regional de — R$ 11,92 bilhões no ano analisado. O deficit estadual foi um pouco menor, somando — R$ 7 bilhões no mesmo período. 

Sanar esse gargalo, aponta Brito, passa por uma união de atores políticos, sociais e privados que invistam, sobretudo, na exportação de produtos com maior valor agregado, principalmente os desenvolvidos nas áreas de ciência e tecnologia .

“O resultado da nossa Região Metropolitana de Campinas é um déficit bastante elevado. Por quê? Porque é uma região que importa multiprodutos de valores agregados elevados, para que a gente possa fazer a produção. E grande parte da produção que acontece aqui fica no mercado doméstico. Portanto, a gente importa para o Brasil inteiro, produz na região e acaba espalhando essa produção dentro da região, o que, de uma certa forma, acaba por comprometer o resultado da balança. Teríamos que tornar a RMC numa região muito exportadora de valores agregados elevados. Para que possamos fazer isso, temos que efetivamente ter uma política de Estado que promova a inovação, e isso estaria atrelado a investimentos em ciência e tecnologia”, pondera.

Municípios da RMC 

Dentro da RMC, o município que liderou as exportações foi Paulínia, com US$ 982,74 milhões em produtos vendidos ao mercado internacional. No entanto, com mais de US$ 5,7 bilhões em importados, a balança do município ficou negativa em mais de US$ 4,7 bilhões. 

O mesmo ocorreu com Campinas, a segunda cidade na RMC com melhor indicador nessa categoria. O município exportou US$ 948,95 milhões, mas importou mais de US$ 3,2 bilhões. Com isso, o déficit foi de US$ 2,2 bilhões para o acumulado do ano. 

Ficaram com a balança positiva apenas os municípios de Americana, que teve saldo positivo de US$ 97,39 milhões; Santa Barbara d’Oeste, com US$ 44,63 milhões; e Cosmópolis, com US$ 45,47 milhões. 

Apesar desse cenário desequilibrado, Brito aponta que a região possui um alto potencial para reverter o quadro. Ele elenca uma série de medidas, que perpassam pela área de tecnologia, mas também adoção de modelos que acelerem e viabilizem o escoamento das produções. 

“É necessário uma política científica e tecnológica que nos permita avançar na competitividade das empresas brasileiras. Também é necessário uma rede de apoio para que a cidade possa ser, cada vez mais, apresentada internacionalmente como um polo de geração de negócios. Isso é muito importante que se reconheça. O escoamento da produção pelo modal de transporte marítimo tem que ser facilitado. A gente tem um acesso relativamente importante para o porto de Santos, mas ainda existem dificuldades em operacionalizar isso em outros portos. Também são importantes a exploração e ampliação do Aeroporto de Viracopos, com maiores possibilidades de voos, o desenvolvimento das linhas férreas e a retomada de investimentos no modal ferroviário”, cita. 

Manutenção 

Em Campinas, o responsável pelo Departamento de Comércio Exterior de uma empresa de alimentos, Roberto Bloj, disse que a empresa manteve o mesmo faturamento e valor exportado que o ano anterior. Ele aponta que, embora haja desequilíbrio econômico no País, alguns investimentos puderam ser mantidos, deixando estável a balança da empresa. “Apesar da pandemia, com a situação econômica instável do País, alto preço da farinha e da crise do transporte marítimo global, houve nesse período um crescimento das exportações, um volume maior, superando as nossas expectativas de vendas para o exterior”, defende. 

Hoje, integram a rota comercial da empresa 37 países, para onde são exportadas todas as linhas de produtos como massas, biscoitos, farinhas e bolos. Eles também dependem da importação de sêmola da Argentina e de azeite da Itália para fabricação dos produtos. 

“A empresa triplicou o número de exportações em um período de sete anos. Os números hoje são favoráveis e crescentes e isso se deve ao alto investimento em tecnologia feito pela empresa que a torna competitiva no mercado. Como exemplo, temos a nossa rapidez na entrega: enquanto outras empresas levam 30 dias, ficamos em torno de 12 a 14 dias, no máximo, para a entrega dos biscoitos ao destino final. Trata-se de um crescimento que também se deve ao lançamento constante de novidades no mercado, com destaque para o investimento na saudabilidade”, aponta.

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