Máquinas de construção civil e medicamentos se destacam nas vendas ao exterior
Multinacional instalada em Indaiatuba, responsável por fabricação de tratores e máquinas agrícolas, anunciou investimentos de R$ 190 milhões neste ano para duplicar capacidade de produção em suas duas plantas na cidade (Divulgação)
As empresas da Região Metropolitana de Campinas (RMC) registraram um crescimento de 18,55% nas exportações em 2022 em comparação ao ano anterior e somaram US$ 5,58 bilhões (R$ 29,27 bilhões). Apesar do resultado positivo, a participação da RMC nas vendas ao exterior no Estado de São Paulo ficou em 6,4%, ligeiramente menor em relação a 2021, quando a taxa foi de 7,3%.
As importações cresceram 21,85% no ano passado frente a 2021, totalizando US$ 18,33 bilhões (R$ 96,16 bilhões), o que é explicado pela compra de matéria-prima pelas indústrias da região. Nesse caso, a participação em relação ao Estado foi de 20,53%. O deficit na balança comercial foi de US$ 12,75 bilhões (R$ 66,69 bilhões).
As informações fazem parte de um estudo sobre balança comercial divulgado pelo Observatório PUC-Campinas, coordenado pelo economista Paulo Ricardo da Silva Oliveira, que também é professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC).
Segundo o economista Paulo Oliveira, a queda de desempenho da região nas exportações no Estado é reflexo do aumento da comercialização de commodities agrícolas presentes em outras regiões. “Isso não é bom para a economia da região, de São Paulo e do Brasil”, diz.
A RMC se destaca por vendas de produtos de alto valor agregado, que perdem espaço em relação a comercialização de grãos. Isso, de certa forma, também reflete o processo de desindustrialização do País.
Setores
Na RMC, o setor de máquinas de construção civil liderou o volume de exportações, com US$ 350,16 milhões (R$ 1,84 bilhão) e também está entre os três que registram a maior alta em relação a 2021, 83,47%. Uma fabricante desses equipamentos e também de máquinas agrícolas instalada em Indaiatuba e que está entre os três maiores exportadores do setor no País, anunciou para este ano um investimento de R$ 190 milhões em suas duas plantas na cidade para duplicar a capacidade de produção.
Algumas operações passarão de um turno para três e a previsão é de contratar 500 novos funcionários até o final de 2023. Os recursos também serão destinados ao desenvolvimento de uma série de ferramentas inteligentes e processos relacionados à indústria 4.0, com a adoção de um amplo sistema de tecnologias avançadas, como inteligência artificial, robótica e internet.
“Esse aporte reforça a posição da empresa como inovadora e apta a utilizar tecnologia inteligente de maneira que garanta a excelência dos produtos. Para isso, é necessário que haja aperfeiçoamento constante dos colaboradores, modernização dos processos e da capacidade fabril”, disse o diretor de Vendas e Marketing da divisão de construção da multinacional para América Latina, Adilson Butzke. A empresa exporta para 80 países, com as máquinas de construção civil sendo vendidas, principalmente, para países do Leste Europeu, entre eles, a Rússia, Américas e Sudeste Asiático. Em Indaiatuba está instalada a única fábrica de tratores de esteira da marca fora dos Estados Unidos.
O segundo lugar no ranking das exportações é ocupado por medicamentos, com US$ 302,99 milhões (R$ 1,59 bilhão), alta de 4,1%. O centro de pesquisa de uma multinacional de medicamentos em Campinas encerra em 2023 um ciclo de investimento de 13 milhões de euros (R$ 72,8 milhões) em três anos para o desenvolvimento de novos produtos. A empresa é uma das maiores fabricantes de genéricos do país e exporta para países da América Central e outros, como Equador, Venezuela e México.
O estudo do Observatório PUC-Campinas reforça o perfil industrial da RMC marcado pela produção de itens de alto valor agregado. O segmento de média-alta complexidade liderou as exportações no ano passado, com uma participação de 72,03%, o que representou o total de US$ 936,37 milhões (R$ 4,91 bilhões), crescimento de 11,88% em relação a 2021. A categoria de média-baixa complexidade também teve alta (13,53%), somando US$ 80,37 milhões (R$ 421,6 milhões).
Já as de baixa e alta complexidade tiveram queda, respectivamente, de 61,82% e 9,67%. Em dezembro, as exportações da RMC foram de US$ 413,8 milhões (R$ 2,17 bilhões), uma redução de 4,3% em comparação aos US$ 432,41 (R$ 2,27 bilhões) do último mês de 2021. Apesar da queda, foi o terceiro melhor dezembro dos últimos 11 anos. Além de 2021, foi superado pelo mesmo mês de 2018, o melhor do período, com US$ 446,26 milhões (R$ 2,34 bilhões).
De acordo com o estudo do Observatório PUC, Campinas foi o município da RMC que mais exportou em 2022, fechando o ano com US$ 1,023 bilhão (R$ 5,37 bilhões). Em segundo lugar aparece Paulínia (US$ 980,92 milhões), seguido por Indaiatuba (US$ 920,72 milhões), Americana (US$ 523,16 milhões) e Vinhedo (US$ 417,74 milhões).
O relatório revela ainda que a Argentina é o principal destino das exportações das empresas da RMC. Elas somaram US$ 1,08 bilhão (R$ 5,66 bilhões), representando 19,42% das vendas ao exterior). Os outros países que estão entre os cinco que mais compraram produtos da RMC são os Estados Unidos (15,44%), México (6,93%), Alemanha (6,15%) e Chile (5,78%).
Quanto as importações, a China é o principal fornecedor da região. O país asiático vendeu US$ 5,98 bilhões (R$ 31,37 bilhões), com uma participação de 32,64% do total. O montante é maior do que a soma dos outros quatro países que formam o top 5, que é de US$ 5,4 bilhões (R$ 28,33 bilhões). A segunda colocação é ocupada pelos Estados Unidos (14,06% do total), vindo depois a Alemanha (6,56%), Índia (4,91%) e Japão (4,03%).
Perspectivas
Para o economista Paulo Oliveira, é cedo para traçar qual deve ser o comportamento da balança comercial da RMC em 2023, “mas a tendência deve ser de estabilidade ou um pequeno crescimento”. De acordo com o professor da PUC-Campinas, os fatores econômicos internacionais terão maior influência sobre o desempenho das exportações do que os locais. Entre eles, o risco de uma recessão mundial para tentar conter a alta da inflação e o aumento da taxa de juros nos Estados Unidos.
Já o cenário nacional deverá ser mais favorável às indústrias. Ele lembra que a proposta do novo governo federal é de adoção de medidas para incentivar o crescimento do setor e a geração de empregos. “Eu costumo dizer que nos últimos quatro anos não ser falou em política industrial”, afirma o economista.
Oliveira acrescenta que o país também está retomando as relações com os países do Mercosul e outros das Américas, o que pode beneficiar as exportações. “O Brasil é uma liderança industrial na América do Sul e essa retomada pode beneficiar as exportações das indústrias”, afirmou o economista. Ele lembra que a diversidade industrial faz com que a RMC reaja rapidamente a medidas de incentivo que eventualmente venha a ser adotadas.