SÃO PAULO

Expectativa de vida no interior é menor que na Capital, diz estudo

Levantamento foi realizado pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) e serve para adoção de políticas públicas

Bianca Velloso/ [email protected]
26/04/2023 às 09:02.
Atualizado em 26/04/2023 às 09:02
Políticas públicas vigentes no Brasil para a população mais idosa precisam ser melhoradas, aponta médica geriatra Fátima Bastos (Kamá Ribeiro)

Políticas públicas vigentes no Brasil para a população mais idosa precisam ser melhoradas, aponta médica geriatra Fátima Bastos (Kamá Ribeiro)

No estado de São Paulo, a expectativa de vida no interior é menor em relação à capital, segundo apontou estudo da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade). A diferença é de 0,8 anos. No interior o cálculo é que as pessoas vivem em média 75,8 anos, já em São Paulo, a estimativa dá conta que as pessoas vivam 76,3 anos. Acesso à educação, saneamento básico e segurança, são fatores que contribuem para essa diferença. Embora não seja um número determinante, ou seja, as pessoas podem viver mais do que aponta o levantamento, ele ajuda na elaboração de políticas públicas, como a Previdência Social.

Segundo o pesquisador do Núcleo de Estudos de População “Elza Berquó” (NEPO) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Everton Lima, é esperado que áreas mais urbanizadas tenham uma esperança de vida mais alta. “Essa diferença entre a capital e o interior tem relação com questões relacionadas ao acesso e disponibilidade de serviço de saúde. Portanto, é sempre esperado que áreas mais urbanizadas e industrializadas tenham a expectativa de vida mais alta”.

O pesquisador explica que a expectativa de vida é um termômetro para medir a saúde da população. “Ela é um indicador indireto da qualidade de vida da população. Para realizar esse cálculo, nós utilizamos, basicamente, duas informações. Os óbitos, catalogados por idade, e a população, dado que vem do Censo”, explicou.

Esse dado é fundamental para a elaboração de políticas públicas por parte do poder público. “Caso a esperança de vida esteja crescendo, é um indicador que está havendo uma melhoria na qualidade da saúde da população. Quando há uma reversão, algo que não acontece normalmente, isso pode servir como um termômetro para pensar em quais políticas públicas podem ser aplicadas para melhorar a qualidade de vida de uma população”, disse Lima. 

Uma dessas políticas públicas que tem como base esse cálculo é a Previdência Social. Segundo o pesquisador do NEPO da Unicamp, há uma diferença entre homens e mulheres. “Normalmente as mulheres vivem mais. Por isso, toda essa discussão de rever a Previdência necessita passar por esse indicador”, explicou.

Com esse aumento da expectativa de vida, o pesquisador disse que o poder público deverá passar a investir mais em ações para abarcar cada vez mais essa população idosa. “A oferta de serviços tem que ser adaptada para essa população. Toda a área de gerontologia tem que aumentar. Por exemplo, devem construir mais asilos. Existe uma oferta, mas ela é pequena e tem o fator do crescimento da população idosa”, destacou.

A médica geriatra Fátima Bastos, também presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas (SMCC), disse que acredita que as políticas públicas vigentes no Brasil para a população mais idosa precisam ser melhoradas. “A Política Nacional do Idoso deveria ter por objetivo assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade”. Ela sugeriu a promoção de um envelhecimento ativo e saudável, através da atenção integral à saúde da pessoa idosa. Além disso, ela sugeriu a implantação de serviços de atenção domiciliar. “O poder público deve garantir ao idoso condições de vida apropriadas, como o acesso aos bens culturais, participação e integração na comunidade”. A médica defendeu que o idoso tem o direito de viver preferencialmente com a família, direito à liberdade e autonomia.

Fátima também explicou como esse dado é utilizado na medicina. “Este cálculo serve para programar ações para a população em questão, inclusive para levantar dados em relação às doenças crônicas, como hipertensão, diabetes, osteoporose, entre outras”. Por fim, ela disse quais ações podem ajudar no prolongamento da vida. “As condições sociais também são importantes para o aumento da expectativa de vida. Lugares que possuem uma melhor condição, como taxas mais elevadas de saneamento básico entre as cidades, maior nível de educação, menor índice de violência e poluição, por exemplo, tendem a ter uma expectativa mais duradoura. Para fazer isto de forma individual é preciso avaliar não só a parte clínica do indivíduo, rotinas, onde mora, entre outros”, finalizou.

Conselhos Para

Antônio Hermidio da Silva, 89 anos, a receita para viver mais é não beber álcool, não fumar e dormir cedo. Além de ir ao médico anualmente. “Eu vou levando a vida bem. Não estrago minha saúde com besteira e procuro viver bem com as pessoas. Um velho doente é complicado”, brincou Silva que tem cinco netos e quatro bisnetos.

Sílvia Maria Pampana, 74 anos, prova que a receita não é composta só por proibições. Ela tem uma aliada para prolongar os anos de vida, a caminhada. “Eu caminho todos os dias, o médico pede. Minha saúde é ótima. Sempre quando faço exame está tudo bem. Me alimento direitinho. Faço a minha comida. É bom viver mais, porque morrer não dá”. Sílvia disse que tem muitas coisas boas na vida para aproveitar como passear.

Por outro lado, apesar de saber que precisa cuidar da saúde, Francisco Narcisio de Sousa, 80 anos, atribuiu à fé a esperança de vida. “Só Deus é quem sabe. Eu cuido da minha saúde. Vou ao médico, vou ao posto de saúde. Eu vou indo. A gente vai aproveitando para viver mais quando dá. Mas tem que ir cuidando. Quando não der mais, não tem o que fazer”, disse Sousa. “Tem que cuidar da saúde. Se não, como é que vai viver?”, finalizou a reflexão.

Silvia Maria Pampana, de 74 anos, tem a caminhada como aliada de sua saúde (Kamá Ribeiro)

Silvia Maria Pampana, de 74 anos, tem a caminhada como aliada de sua saúde (Kamá Ribeiro)

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