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Ex-xerife defende "swat brasileira"

Kevin Beary sugere a criação de uma força de elite para atuar nas favelas e combater milícias

Henrique Hein
05/10/2019 às 23:33.
Atualizado em 30/03/2022 às 15:03

O ex-xerife Kevin Eugene Beary, especialista em segurança pública nos Estados Unidos, esteve em Campinas na semana passada para ministrar uma palestra sobre segurança nas escolas a um grupo de alunos da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Em entrevista ao Correio Popular, Beary defendeu, entre outros assuntos, a diminuição da maioridade penal, a liberação do porte de armar e seu uso por professores em sala de aula, além da criação de uma polícia nos moldes da Swat americana no Brasil. Entre os anos de 1993 e 2009, Beary chefiou o gabinete do xerife do Condado de Orange, um dos maiores órgãos policiais da Região Sudeste dos Estados Unidos. Ao longo de sua carreira, ele também atuou por 42 anos como delegado regional na Flórida e por quatro anos como detetive da Melbourne Police Department. O especialista serviu ainda à força tarefa do FBI e o departamento de Defesa dos Estados Unidos. Confira abaixo os principais trechos da entrevista: Correio Popular: Como os Estados Unidos trabalham a questão da segurança e do combate à violência dentro das escolas? Que tipo de ações os senhores tomaram para evitar que casos como o de Columbine (ataque à Columbine High School, em abril de 1999, que deixou 13 mortos e 21 feridos) aconteçam novamente? Kevin Eugene Beary: Nos Estados Unidos a segurança e a polícia mudaram as suas estratégias depois de alguns casos de violência dentro das escolas. No caso de Columbine, foi um processo muito metódico e longo, no qual os indivíduos foram localizados, as pessoas foram evacuadas e a ameaça foi eliminada. Tudo isso levou tempo demais na época, o que fez com que a gente percebesse a importância de mudar a nossa forma de atuação. Primeiro a gente dá um jeito de parar a matança, depois salva as vítimas e sobreviventes para, só depois, com calma, investigar o incidente. Nos Estados Unidos há vários casos de atiradores que invadem e matam pessoas em escolas. Esses atiradores têm um tipo particular de perfil psicológico já identificado pelos senhores? O perfil de um atirador em massa costuma abranger a faixa etária dos 17 aos 35 anos. Geralmente, em nosso país, os ataques são orquestrados por homens brancos que tiveram um passado violento e que apresentam quadros depressivos. Muitos deles, inclusive, foram vítimas de abuso sexual quando crianças e apresentam um viés ideológico extremista.Como o Sr. vê a questão da liberação da posse e do porte de armas no Brasil? Eu acredito que é um direito de qualquer cidadão portar armas, desde que ele esteja habilitado para isso. Armas de fogo não são para todos. É preciso muito treinamento, mas eu recomendo fortemente que a população carregue uma arma por razões de segurança. Nos Estados Unidos e em partes do Brasil, você pode levar horas para se conectar a um policial numa ligação, então os cidadãos devem ter o direito de se proteger. Você tem lugares no Brasil, como o Nordeste, por exemplo, onde os fazendeiros que vivem nas fronteiras e levam dias para conseguir uma resposta da polícia. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, chegou a dizer que os professores americanos deveriam usar armas dentro das salas de aula. O senhor acha que o Brasil deveria adotar essas medidas ou isso só aumentaria a violência que já existe nas escolas brasileiras? O presidente Trump permitiu aos estados que tomassem suas próprias decisões sobre isso. Na Flórida, de onde sou, a maioria das pessoas não querem professores carregando armas, mas em outras localidades é diferente. Acho que cabe a discussão. Nos Estados Unidos, um terço dos professores apresenta condições de manusear uma arma perfeitamente. O Brasil é um país que vive um problema sério de violência e de combate às drogas nas escolas. Como o senhor acha que deveria ser a atuação do Estado para evitar que esse tipo de coisa continue acontecendo? O Congresso e os políticos do Brasil precisam dar uma olhada e rever o sistema juvenil de justiça, porque em muitos casos, os traficantes se aproveitam das crianças com menos de 18 anos e as recrutam para cometerem crimes que beneficiam apenas os próprios traficantes. Uma das coisas mais importantes para acabar com isso no Brasil é reduzir a maioridade penal. Em 2019, cinco crianças foram mortas por bala perdida no Rio em confrontos que envolveram a polícia. A ineficácia da polícia brasileira em operações como as que vêm ocorrendo nas favelas do Rio de Janeiro, na sua opinião, está relacionado ao que exatamente? O sistema político do Brasil precisa urgentemente repensar as suas estratégias de combate ao crime organizado e reforçar o seu efetivo de elite. É preciso ter policiais do tipo Swat, bem treinados e que façam as operações nas favelas de maneira inteligente. Para isso, você precisa contratar bons analistas de lei e treiná-los até que atinjam o nível mais alto de excelência. Resumindo, o modo para combater o crime nas favelas é ter uma polícia altamente treinada, efetiva e especialmente operada para essas áreas.

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