Os três filhos de Jacó Bittar, Fernando, Kalil e Priscila recebem os cumprimentos de amigos no velório, realizado no Cemitério da Saudade (Kamá Ribeiro)
O ex-prefeito de Campinas, Jacó Bittar, morreu na madrugada de quinta-feira, aos 81 anos, após lutar contra a doença de Parkinson, conhecida popularmente como Mal de Parkinson. O velório ocorreu no Cemitério da Saudade na presença de políticos, sindicalistas, autoridades nacionais e municipais, representantes de entidades e instituições, parentes e amigos. Bittar foi enterrado no Cemitério de Sousas. Ele deixou três filhos — Kalil, Fernando e Priscila. Todos estavam no velório. Por volta das 15h30, o caixão foi carregado por diversos trabalhadores e representantes do Sindicato de Petroleiros (Sindipetro) até um carro, que o levou até o Cemitério de Sousas.
Nascido no dia 12 de outubro de 1940, em Maduri, no interior de São Paulo, Jacó Bittar teve uma trajetória marcada pelo sindicalismo e pela política. Foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT), da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e do Sindicato dos Petroleiros de Campinas e Região. Como presidente do Sindipetro, ele liderou uma das maiores greves dos petroleiros no País, em plena ditadura militar. Além de estabilidade no emprego, os trabalhadores apoiavam o chamado para a greve geral do sindicalismo brasileiro. A reação da Petrobras, entretanto, foi implacável: 153 trabalhadores foram demitidos apenas na Replan, incluindo Bittar. Na CUT, ele foi o secretário de Relações Internacionais.
Bittar foi o primeiro prefeito de Campinas eleito pelo PT, em 1988, mas deixou o partido ainda durante seu mandato. Sua gestão na Prefeitura de Campinas foi marcada por obras de saneamento básico, pela implantação do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), popularmente conhecido por pré-metrô, descontos nas passagens de ônibus para a população carente e passe livre durante dois domingos do mês para facilitar o lazer da população da periferia. Também lançou o projeto que resultou no plantio de 1 milhão de mudas de árvores pela cidade. Ele governou Campinas até 1992.
Sua gestão à frente da Prefeitura de Campinas foi marcada por conflitos com o então vice-prefeito Antônio da Costa Santos — Toninho, que fez várias denúncias contra a Administração de Bittar por supostos desvios em obras na cidade. A relação com o PT ficou estremecida e, no seu terceiro ano de mandato, Bittar filiou-se ao Partido Socialista Brasileiro (PSB).
O prefeito Dário Saadi (Republicanos) lamentou a morte do ex-prefeito por meio de nota. "Campinas perde um dos seus principais personagens da política, principalmente das décadas de 1980 e 1990. Na época em que foi prefeito, de 1989 a 1993, acabara de me formar em Medicina e fazia residência em Urologia no Hospital Mário Gatti e na Casa de Saúde. Em sua homenagem, vamos decretar três dias de luto oficial em nossa cidade", afirmou.
"É com profundo pesar que informamos o falecimento de Jacó Bittar, fundador e primeiro presidente do Partido dos Trabalhadores, fundador do Sindicato dos Petroleiros de Campinas e Região. Jacó também foi prefeito da cidade de Campinas, o primeiro eleito pelo PT, e deixa um importante legado de luta", destacou nota oficial do PT.
O PSB, atual partido de Jacó, se pronunciou por meio de uma nota oficial assinada por Wanderley de Almeida, vice-prefeito de Campinas e presidente da legenda. Wandão, como é conhecido, também é amigo de longa data de Jacó, tendo trabalhado com ele no início da carreira. "Ao longo de mais de 50 anos de militância pelo Brasil, Jacó Bittar foi personagem ativo nas lutas e transformações sociais do País, sendo condutor ideológico e construtor da democracia brasileira. Como nosso líder e dirigente, foi o condutor do PSB em todas as esferas, municipal, estadual e nacional", afirmou.
O ex-reitor da PUC-Campinas e ex-secretário municipal de Educação, Eduardo Coelho, afirmou que "ele foi um grande líder sindical, um dos fundadores do PT e abriu novos horizontes para o sindicalismo. Jacó Bittar soube conversar sem preconceito com todas as correntes políticas e não apenas com os de sua origem política".
"Recordamos que Bittar, na sua gestão, teve um trabalho também direcionado para a área ambiental, com o plantio de árvores no município”, destacou José Henrique Toledo Corrêa, diretor do Ciesp-Campinas.
Lula veio a Campinas acompanhar o velório
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) veio a Campinas nesta quinta-feira (26) participar do velório do ex-prefeito Jacó Bittar, no Cemitério da Saudade. Lula e Bittar foram fundadores do Partido dos Trabalhadores.
Lula, que é candidato do PT à Presidência da República, estava acompanhado de vários políticos: de seu vice, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB); e dos pré-candidatos ao Governo do Estado, o ex-prefeito de SP, Fernando Haddad (PT), e do ex-governador Márcio França (PSB).
Também foi ao velório o atual governador do Estado, Rodrigo Garcia (PSDB), além de representantes da política local.
"Jacó deu uma contribuição imensa para os petroleiros, a classe trabalhadora, Campinas e o Brasil. Nos vimos pela última vez em maio deste ano. Emocionei-me em ver meu amigo sem saber que seria pela última vez. Neste momento de tristeza e saudade, meus sentimentos aos familiares, amigos e companheiros de Jacó Bittar", afirmou Lula em nota oficial.
Lula chegou já na parte final do velório. Ele foi recepcionado na entrada do cemitério e levado até a sala onde Bittar estava. Depois, saiu sem falar com a imprensa, assim como Márcio França, Geraldo Alckmin e Rodrigo Garcia.
REPERCUSSÃO
“Campinas perde um dos seus principais personagens da política, principalmente das décadas de 1980 e 1990. Um dos mais destacados sindicalistas do País, Jacó foi marcante em várias conquistas para a classe sindicalista de Campinas e região.Também foi importante na fundação do Partido dos Trabalhadores.”
Dário Saadi, prefeito de Campinas
“Não só Campinas como o país perde hoje uma parte de sua história política. Bittar, além de ter sido prefeito de nossa cidade, foi um líder sindicalista de destaque e um dos fundadores do PT. Mesmo fora dos holofotes nos últimos anos, ainda se interessava pela política e era filiado ao mesmo partido que eu, o PSB.”
Zé Carlos, presidente da Câmara de Campinas
"Eu que já fui prefeito, sei que quando a pessoa ocupa este cargo, ela desagrada um e agrada outros. É um cargo que absorve demais a vida da pessoa. Ele ganhou uma eleição que foi considerada inesperada e foi muito votado nas periferias. Ele me dizia que era o cargo que mais o honrava"
Jonas Donizette, ex-prefeito de Campinas
"Foi com profunda tristeza que recebi a notícia da morte do ex-prefeito de Campinas Jacó Bittar. Ele deixa um legado de luta pela democracia, pelos trabalhadores e pelos que mais precisam. À família de Jacó Bittar, meus mais sinceros sentimentos."
Gustavo Reis, prefeito de Jaguariúna e presidente do Conselho de Desenvolvimento da RMC
"Conheci o Jacó em 1985. Eu era do centro acadêmico e ele já tinha despontado como um dos maiores líderes sindicais do País. Ele tem um trajetória honrada, foi um grande prefeito de Campinas. Ele tinha teses ousadas. Ouço dizer que ele é o pai do novo sindicalismo no Brasil".
Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, e pré-candidato do PT ao Governo do Estado de SP
"Como se define alguém que se tornou um símbolo? Não é possível. Há homens que passam a vida procurando um caminho, mas há outros que atravessam o tempo sem perder o rumo. Ao longo de mais de 50 anos nas trincheiras pela democracia".
Wanderley de Almeida, vice-prefeito de Campinas e presidente do PSB municipal.