EXPERIÊNCIA

Ex-alunos viram exemplos em escola da periferia

Jovens bem-sucedidos, que estudaram na unidade, foram convidados a contar suas histórias

Fabiana Marchezi/Especial para AAN
13/04/2013 às 07:30.
Atualizado em 25/04/2022 às 20:30
Grupo dos ex-alunos convidados pela direção da escola a contar sua experiência de vida e mostrar que é possível vencer, mesmo com os vários obstáculos encontrados (Camila Moreira/AAN)

Grupo dos ex-alunos convidados pela direção da escola a contar sua experiência de vida e mostrar que é possível vencer, mesmo com os vários obstáculos encontrados (Camila Moreira/AAN)

Ter uma infância pobre, conviver com tráfico de drogas, homicídios e dividir uma casa humilde com mais cinco irmãos há muito tempo deixaram de ser desculpas para desistir da vida e de lutar por um futuro melhor.

Mas nem todos os adolescentes e jovens pensam assim. Por isso, a direção da Escola Estadual Castinauta de Barros Mello e Albuquerque, no Jardim Campineiro, região do São Marcos, periferia de Campinas, preparou na última quarta-feira (10) um evento surpresa para incentivar, motivar e levantar a autoestima de cerca de 400 alunos do noturno, com idades entre 14 e 20 anos, do Ensino Médio da unidade.

A direção convidou um grupo de ex-alunos bem-sucedidos para contar suas histórias e seus exemplos de vida, além das suas experiências depois que saíram do colégio. “Há algum tempo estamos notando um desinteresse e falta de autoestima generalizados da parte dos alunos, em especial os do período noturno. O intuito do encontro é mostrar que não é porque você nasceu na periferia e é menos favorecido que não pode vencer na vida”, disse Maria Arlete Lima da Silva, diretora da escola há 19 anos.

“Trouxemos esses alunos, que já são bem-sucedidos e que passaram por aqui, talvez numa época ainda pior, para mostrar que a escola tem bons frutos e que é possível galgar um futuro melhor. Basta estudar e correr atrás”, acrescentou a vice-diretora da unidade, Ivonete Alves da Silva Jordão.

De um lado, alunos desmotivados e com pouca — ou quase nenhuma — expectativa de vida. Do outro, ex-alunos vencedores, que lutaram e conseguiram conquistar seu espaço, mesmo vindo da periferia.

Aos 30 anos, o nutricionista Leandro de Souza é um dos bons frutos plantados pela escola. “Eu vim aqui para dizer aos alunos que não tem desculpa. Na época que eu passei por essa escola, a situação aqui da região era muito pior do que é hoje. A gente andava sempre no fio da navalha. Meus parentes eram envolvidos com o crime, eu já estava pré-destinado a seguir o mesmo rumo. Mas fiz diferente, mudei minha história. Lutei, sofri, mas fui atrás dos meus objetivos. Hoje, sou o único da família que fez uma faculdade e virou orgulho dos pais”, disse.

Esforço

Mesmo tendo que trabalhar desde cedo para poder estudar, Pâmela Louzeiro, de 22 anos, também é um bom exemplo a ser seguido. Recém-formada em farmácia e bioquímica, a menina da periferia já conquistou seu lugar ao sol. “Trabalho na minha área há um ano e já me sinto realizada. Vim para dizer a esses jovens que nossas escolhas do passado geram o presente e que o nosso futuro depende do presente.”

“Vale a pena se esforçar, quando a gente quer, consegue”, disse a estudante do 3 ano de pedagogia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Rosimeire Anholeto, de 21 anos. “Com o apoio dos meus pais, consegui passar até em uma universidade pública, isso é muito gratificante para mim”, completou.

Para o formando em direito Silvano Oliveira, de 26 anos, que se formou na Castinauta em 2003, “quem faz a escola é o aluno”. “Eu tive uma infância muito complicada, meus pais passavam por muita dificuldade financeira, mas mesmo morando e estudando em uma região desfavorecida, lutei e consegui alcançar meus objetivos”, afirmou.

Do outro lado

Os professores Lucimara Galusni, de 31 anos e Daniel Quirino, de 39, têm histórias semelhant>es. Os dois estudaram na Castinauta e retornaram à unidade anos mais tarde para viver o outro lado, lecionando. “Eu já passei pelo que eles passam, mas acredito que mesmo quando as coisas são complicadas, o importante é contrariar o sistema, se formar e buscar seu espaço”, ressaltou Quirino, que dá aula na Castinauta há cinco anos.

Já Lucimara, que leciona há 13 anos na escola, acredita que sem estudo ninguém consegue nada. “O futuro só pode mudar por meio dos estudos”, concluiu.

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