CULINAFRO

Evento em Campinas divulga a cultura e o empreendedorismo negro

Iniciativa, que completou a sexta edição, atraiu ontem um bom público até a Estação Cultura

Luiz Felipe Leite/luiz.leite@rac.com.br
04/05/2025 às 09:38.
Atualizado em 04/05/2025 às 09:38

Uma das atrações do Culinafro foi a praça de alimentação, que ofereceu diversos pratos das culinárias afro-brasileira e africana, como o tradicional acarajé; evento também contou com exposição de artesanatos e shows musicais (Rodrigo Zanotto)

O Festival de Culinária AfroBrasileira (Culinafro) voltou a acontecer com força total ontem em Campinas, na Estação Cultura. Realizado pela última vez em 2019, o evento que completou a sexta edição contou com expositores gastronômicos que trouxeram pratos típicos de países africanos e de outras nações como Brasil, Venezuela, Colômbia e Estados Unidos. Também participaram pessoas com produtos criados de forma artesanal com influências afro, como acessórios, bordados, crochês, entre outros, além da realização de apresentações musicais e de danças influenciadas pela cultura negra. O objetivo, segundo a organização, foi celebrar a diversidade e a resistência da gastronomia afro-brasileira e africana, além de resgatar a história dessa parcela da população e dar oportunidades para indivíduos negros mostrarem seus trabalhos como empreendedores ao público que frequentou de forma gratuita o festival.

Um dos expositores foi Mary da Silva, moradora da Vila Castelo Branco, em Campinas. Neta de um angolano, ela produz artesanatos desde 2006 com foco na transformação de materiais à base de tecido, linhas e malhas em bijuterias. Tudo sob a influência da cultura negra. Questionada sobre os motivos de ter ingressado nesse segmento, ela admitiu que a principal motivação foi a financeira. "Eu estava desempregada na época e comecei a fazer esses artesanatos, para gerar renda extra, após ler muito sobre o assunto, além de assistir muitos vídeos com conteúdos a esse respeito. Mesmo eu estando aposentada hoje em dia, vejo essa atividade como uma forma de conhecer pessoas, gerar renda e ajudar no resgate da cultura afro", contou. 

Um exemplo parecido vem de Helena Ribeiro, que mora na região do Ouro Verde, em Campinas. Os produtos criados por ela são adaptações e estilizações em roupas comuns para homens e mulheres adultos e para crianças. As peças exibem cores e símbolos que remetem à ancestralidade negra. A artesã contou que se inspirou em um evento afro em Piracicaba para começar a atuar como expositora. "Trabalhei boa parte da minha vida como doméstica. Hoje em dia, ajudo a divulgar a cultura afro por meio do meu trabalho. É um resgate muito importante e necessário", considerou. 

O resgate histórico da população negra no Brasil e suas origens africanas também fez parte da rotina dos expositores gastronômicos. Um deles é a administradora de empresas Suellen Lima Soares. Ela se apresentou como "baiana de receptivo". É uma profissional que usa trajes típicos para receber visitantes e tirar fotos com eles. Mas, no caso do festival de Campinas, ela explicava o que é um acarajé, servido em uma das barracas, como ele é preparado e a história do prato típico e mais conhecido por ser servido aos turistas que vão à Bahia. "É um prato que era feito inicialmente como oferenda aos deuses, feitas por imigrantes africanos. Na época da escravidão, mulheres negras começaram a vender esses produtos para conseguir dinheiro para as alforrias delas e dos filhos. As mulheres negras e baianas foram as primeiras empreendedoras do Brasil. É uma história importante e que precisa ser mais difundida", defendeu.

HISTÓRIA 

O festival foi organizado pelo Projeto Saberes e Sabores, que trabalha com a preservação da cultura negra através da gastronomia, com apoio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Campinas. Ele é liderado pelo chef de cozinha Marcelo Reis, que comemorou a volta do festival, interrompido durante a pandemia do novo coronavírus. Ele explicou que todos os participantes da parte gastronômica precisam estudar a cultura negra e desenvolver dois pratos com base nos estudos realizados. São preparações como o Bobotie (bolo de carne moída sul-africano, prato favorito de Nelson Mandela), o DG (de origem camaronesa, é servido geralmente em bares e botecos, com vários ingredientes como banana-daterra, galinha caipira, entre outros) e o Mufete (comida típica de Angola, à base de peixe grelhado, feijão, batata-doce, entre outros itens) foram vendidos durante o festival.

Para o chef Reis, a importância da retomada do festival é fundamental por duas questões. A primeira é colocar a gastronomia africana e afro-brasileira novamente em evidencia, trazendo ambas para que as pessoas conheçam. "A segunda é dar espaço para os empreendedores negros e negras mostrarem o que sabem fazer de melhor", pontuou. 

Acompanhada das duas irmãs mais novas, Ivana Aparecida Sebastião mora em Hortolândia e ficou sabendo do Culinafro pela internet. Ela fez várias compras de itens vendidos pelos expositores e ficou feliz com o que pode testemunhar no evento. "É um aprendizado em tempo real, com base nas histórias que essas pessoas nos contam". 

Márcio Sena vive em Campinas e também foi ao festival pela primeira vez. Ele comentou que ficou interessado na parte gastronômica ao saber do evento, mas que buscou aprender conhecimentos novos vindos dos responsáveis pelos alimentos vendidos para a população. "Admito que conheço pouco da cultura afro. Eventos como esse são importantes para difundir esse conhecimento para o restante da população", comentou.

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