Levantamento aponta pioras no sono, na alimentação, no humor e no aprendizado durante o ano
Pesquisa investiga mudanças nas atividades de rotina, nos estilos de vida, nas relações com familiares e amigos, entre outros aspectos (Leandro Ferreira/AAN)
Pesquisa conjunta entre a Unicamp, a Fundação Oswaldo Cruz e a Universidade Federal de Minas Gerais, chegou a uma conclusão preocupante. O levantamento – publicado pelo Portal da Unicamp - mostrou que os adolescentes tiveram piora no sono, na alimentação, humor e no aprendizado durante a pandemia do coronavírus e o período de quarentena que acabou instalado no país.
A pesquisa investigou mudanças nas atividades de rotina, nos estilos de vida, nas relações com familiares e amigos, nas atividades escolares, nos cuidados à saúde, e no estado de ânimo de 9.470 adolescentes com idade de 12 a 17 anos do Brasil decorrentes da pandemia de Covid-19, no período de 27 de junho a 17 de setembro de 2020.
A grande maioria dos adolescentes (71,5%) aderiu às medidas de restrição social, com 25,9% em restrição total e 45,6%, em restrição intensa, saindo só para supermercados, farmácias ou casa de familiares.
Considerando a restrição intensa e a total restrição de contatos com outras pessoas, a maior proporção ocorreu na Região Sul, de 74,1%, enquanto o menor percentual ocorreu no Norte (66,1%). Diferenças foram encontradas por faixa de idade. Enquanto os mais novos aderiram em maior proporção à restrição social total (27,0%), os mais velhos mostraram maior proporção de adesão à restrição social intensa (50,7%).
No total da amostra, 30% achou que a sua saúde piorou durante a pandemia. Diferenças foram encontradas por sexo e faixa de idade, com as meninas relatando maior proporção de piora do estado de saúde (33,8%) do que os meninos (25,8%), e os adolescentes mais velhos (37,0%) do que os mais novos (26,4%).
“O percentual de adolescentes que relataram piora na qualidade do sono durante a pandemia foi de 36,0%, sendo que 23,9% começaram a ter problemas com o sono e 12,1% relataram que tinham problemas e eles pioraram. A qualidade do sono foi mais afetada entre as meninas, e nos adolescentes com 16 a 17 anos, em relação aos mais novos”, comenta a pesquisadora da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, Margareth Guimarães Lima.
O relato de sentir-se isolado dos amigos foi observado em 32,8% dos adolescentes; 22,4% referiu sentimento de isolamento na maioria das vezes e 10,4% sempre teve esse sentimento durante o período. Sentir-se isolado foi mais frequente entre as meninas, em relação aos meninos, e entre os adolescentes mais velhos quando comparados aos mais novos.
De acordo com a pesquisa, grande proporção de adolescentes que se sentiram tristes na maioria das vezes ou sempre foi encontrada (31,6%). O relato de tristeza, na maioria das vezes ocorreu em 22,4% dos adolescentes e 9,2% se sentiu sempre triste durante a pandemia. O percentual de sentimento de tristeza foi duas vezes maior nas meninas. Entre elas, 27,7% se sentiram sempre tristes. O relato do sentimento de tristeza na maioria das vezes ou sempre foi maior entre os adolescentes mais velhos (38,3%) do que entre os mais novos ( 29,6%).
“Sentir-se preocupado, nervoso ou mal-humorado foi relatado por 48,7% dos adolescentes, na maioria das vezes ou sempre. Entre as meninas, o percentual foi de 61,6%. Os adolescentes de 16 a 17 anos de idade relataram esse sentimento mais frequentemente (55,3%) do que os de 12 a 15 anos (45,5%). Cerca de um quinto dos adolescentes (19,3%) sentiu sempre preocupação, nervosismo, ou mau-humor, 27,7% das meninas e 10,8% dos meninos”, aponta Margareth.
O consumo de alimentos não saudáveis em dois dias ou mais por semana aumentou durante a pandemia: 4% para pratos congelados e 4% para os chocolates e doces.
Destaca-se o maior consumo de doces e chocolates entre as meninas. Durante a pandemia, 58,1% das adolescentes consumiram doces em 2 dias ou mais por semana. Já o padrão de consumo de alimentos saudáveis, tais como frutas e hortaliças, foi similar antes e durante a pandemia.
“Chama a atenção que mais de 40% não praticaram atividade física por 60 minutos em nenhum dia da semana durante a pandemia. O percentual de jovens que não faziam 60 minutos de atividade física em nenhum dia da semana antes da pandemia era de 20,9% e passou a ser de 43,4%. A prática de 60 minutos de atividade física em cinco ou mais dias semanais diminuiu em torno de 13 pontos percentuais, de 28,7 para 15,7%”, alerta a pesquisadora da Unicamp.
Durante a pandemia, mais de 60% dos adolescentes relataram ficar por mais de 4 horas em frente às telas de computador, tablet ou celular. Entre os adolescentes de 16-17 anos, o percentual alcança 70%. O tempo sedentário aumentou de cerca de duas horas durante a pandemia. O tempo que os adolescentes costumavam ficar sentados assistindo televisão ou jogando videogame aumentou de 3 horas e 20 minutos, antes da pandemia, para 5 horas e 3 minutos, durante a pandemia.
Ensino a distância
Muitas dificuldades em acompanhar as aulas de ensino a distância foram citadas pelos adolescentes: 59% relataram falta de concentração, 38,3% falta de interação com os professores, 31,3% falta de interação com amigos. As meninas relataram maior dificuldade em acompanhar as aulas, principalmente com relação à falta de concentração e falta de interação com professores. Enquanto 10,7% dos meninos não teve nenhuma dificuldade, o percentual foi de 6,9% entre as meninas. Entre os adolescentes de 16-17 anos, 65,5% citaram falta de concentração como dificuldade para acompanhar as aulas à distância.