IDEAIS SUSTENTÁVEIS

Estudantes tornam-se guardiões ambientais em escola estadual

Com 19 alunos, projeto pretende recuperar 4 mil m² de área verde do colégio

Isadora Stentzler/ [email protected]
30/07/2022 às 09:42.
Atualizado em 30/07/2022 às 10:06
Aproveitando o grande potencial de áreas verdes da escola, o grupo de estudantes — com 15 a 17 anos de idade — atua no cultivo de hortas, plantio de árvores e na revitalização dos espaços (Gustavo Tilio)

Aproveitando o grande potencial de áreas verdes da escola, o grupo de estudantes — com 15 a 17 anos de idade — atua no cultivo de hortas, plantio de árvores e na revitalização dos espaços (Gustavo Tilio)

Os muros da Escola Estadual Professor Coriolano Monteiro abrigam, há oito anos, um grupo de estudantes comprometidos com o meio ambiente. Chamado de Coletivo Jovem Educador Ambiental, a iniciativa une alunos de diversas turmas que buscam transformar a escola por meio do cuidado com o meio ambiente e ideais sustentáveis. Hoje, o projeto conta com 19 estudantes que, além das preocupações estudantis, se tornaram verdadeiros guardiões ambientais. 

Todos os alunos que integram o coletivo são membros do grêmio estudantil e têm idades que vão de 15 a 17 anos. O objetivo deles é que os 4 mil m² de área verde da escola sejam recuperados, após o período pandêmico, quando ficaram afastados da escola, e sobretudo diante da estiagem que assola a região. Para isso, só neste ano, foram plantadas 20 novas mudas de árvores – frutíferas e nativas – em um espaço que pretendem transformar em área de leitura. Além disso, o grupo projeta a construção de uma trilha arborizada — que perpasse os arredores da escola — e a revitalização da horta, a fim de que ela possa atender a própria comunidade. 

Geração Sustentável 

“Estou desde o 6° ano aqui e penso que, daqui alguns anos, a gente não vai ser mais jovem, haverá outros jovens aqui no nosso lugar”, pondera o aluno Breno Gustavo Lima, de 17 anos. “Assim como minha mãe estudou aqui, quero que meus filhos também estudem nessa escola e possam dizer: ‘Nossa, papai, você ajudou a construir esta horta’. Daqui um tempo, não vai ser só mato. Será um lugar diferente. Quero que as pessoas não esqueçam e digam que, ‘um dia, a escola teve uma horta’, quero que elas ainda tenham uma horta. Não é porque eu não estarei aqui, daqui um tempo, que ninguém pode ter o que a gente teve. Isso é tentar melhorar o máximo possível para todas as pessoas.”

Breno é um dos 19 estudantes que atuam na horta desde 2019, mas a iniciativa começou ainda antes, no ano de 2014, por meio de um projeto criado pelo professor de Ciências e Biologia Amandi Buzon Rodelli. Sob o nome de Geração Sustentável, a iniciativa veio na Semana do Meio Ambiente daquele ano, data que é celebrada em todo mês de junho. 

“Verificamos o grande potencial de áreas verdes da escola e a necessidade de proporcionar novas vivências para os estudantes junto à natureza, por meio da educação ambiental, com o cultivo de hortas e pomares e a revitalização dos espaços. Eu e a professora Ariane Andrade dos Santos, também de Ciências e Biologia, escrevemos o projeto e o apresentamos em uma reunião para a coordenação, direção e demais professores. O apoio e a colaboração de todos foram grandes e, a partir dessa data, decidimos realizar a Semana do Meio Ambiente com uma série de atividades na área verde escolar, com a participação de todos os alunos”, lembra o professor Rodelli.

Localizada no Jardim Carlos Lourenço, a Escola Estadual Professor Coriolano Monteiro atende alunos dos bairros Carlos Lourenço, Itatiaia, Santa Eudóxia, Tamoio e Andorinhas (Gustavo Tilio)

Localizada no Jardim Carlos Lourenço, a Escola Estadual Professor Coriolano Monteiro atende alunos dos bairros Carlos Lourenço, Itatiaia, Santa Eudóxia, Tamoio e Andorinhas (Gustavo Tilio)


A escola está localizada no bairro Jardim Carlos Lourenço, uma região periférica de Campinas, e tem 4 mil m² de área verde. A unidade reúne alunos provenientes dos bairros Carlos Lourenço, Itatiaia, Santa Eudóxia, Tamoio e Andorinhas — regiões que convivem com favelas e problemas de ordem social e ambiental.

Mesmo diante desses problemas, os estudantes viram, por meio do projeto Geração Sustentável, uma forma de romper esses paradigmas e criaram, por si mesmos, o Coletivo Jovem Educador Ambiental. 

Com o coletivo, os alunos realizaram aulas teóricas e práticas e passaram a colaborar com a manutenção da área verde e com os trabalhos na horta, que ainda atendia a escola, no preparo da merenda, e a própria comunidade, a partir de feiras agroecológicas. “Essa proposta reuniu e integrou alunos com diversas propostas de projetos e ações socioambientais na escola. Foi perceptível o desenvolvimento dos estudantes em cada etapa do projeto. Desenvolveram o protagonismo e aprenderam muitas técnicas de cultivo e também arte, com grafites na escola. Inclusive, levaram algumas técnicas de plantio para fazerem hortas em suas próprias casas”, aponta o professor. 

Projeto multiplicador 

Desde o nascimento do projeto Geração Sustentável e do Coletivo em 2014, as ações pelo desenvolvimento ecológico na escola não pararam. Elas ainda foram foco de uma pesquisa do mesmo professor que, na conclusão do artigo, manifestou o desejo pela permanência do projeto.

“As ações realizadas transformaram uma escola com pouca participação da comunidade e espaços ociosos em um ambiente agradável e de todos, incentivando o protagonismo juvenil, a mobilização social e o cuidado com o meio ambiente. Diante dos resultados alcançados, é importante que esse projeto permaneça em andamento e que outras escolas adotem essas iniciativas, pois é com exemplos e atitudes que transformaremos o mundo em um lugar melhor, com qualidade de vida para todos e um meio ambiente equilibrado através da sustentabilidade”, escreveu em artigo. 

O desejo de permanência do projeto, manifestado pelo professor, se transformou em realidade. No ano de 2019, as ações foram impulsionadas a partir da visita do secretário do Verde, de Campinas, e por meio do programa Ecorela, que visou transformar o colégio em uma escola modelo, a partir da conservação de sua área verde. 

O estudante André Felipe da Silva, que na época tinha 15 anos, foi um dos primeiros a abraçar o desafio. Membro do grêmio estudantil, ele já buscava formas de integrar os estudantes ainda mais com o espaço escolar. Com o desafio de se tornar uma escola modelo, ele encontrou, na preservação do meio ambiente, a forma de unir escola e alunos por um único fim: a sustentabilidade. 

“No início, éramos cinco alunos, dois do 9º ano e três do 3º ano. Depois, fomos crescendo pelo próprio interesse dos alunos. Mesmo com a mudança dos grêmios, mantivemos essa pauta em nossa escola”, destaca. 

A chegada da pandemia foi um baque para esses estudantes, que precisaram se afastar do ambiente escolar. Mesmo assim, mantiveram reuniões virtuais para debater a preservação da área verde. Já no fim de 2020, o grupo ainda pediu autorização para fazer uma visita à escola e garantir o cuidado da área. 

Neste ano, com a retomada das aulas presenciais, o grupo se reestruturou e retornou as ações. A horta já não está mais no mesmo tamanho de quando o projeto iniciou e os alunos caminham juntos para que o espaço seja preservado e se torne sinônimo de amor e cuidado ao meio ambiente. 

Toda essa intervenção, por meio de um projeto de educação ambiental, permitiu a transformação da comunidade escolar e do modo como ela interfere no meio ambiente. Algo destacado nas palavras do estudante André: “Acho que um lema que serve para nossa caminhada aqui na escola e com o coletivo é sermos suporte e deixarmos ser suportados. Em outras palavras, isso significa: ajudar a escola através do coletivo e também receber a ajuda da escola para nosso desenvolvimento”.

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