Alunos rejeitam acordo após reunião com comando da Unicamp e não têm prazo para deixar reitoria
Estudantes votam pela manutenção da ocupação da reitoria em assembleia realizada ontem na Unicamp (Edu Fortes/AAN)
Depois de mais de duas horas de assembleia, estudantes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) decidiram ontem manter a ocupação da reitoria, iniciada na última quinta-feira. O ato é uma forma de protesto contra a decisão da universidade de permitir que a Polícia Militar faça rondas no campus. A medida foi tomada após o assassinato do estudante Denis Papa Casagrande, de 21 anos, durante uma festa clandestina no Ciclo Básico do campus de Barão Geraldo na madrugada do dia 21 de setembro. Na tarde da última sexta-feira, a 2 Vara da Fazenda de Campinas emitiu uma liminar determinando a reintegração de posse do prédio. Os estudantes descumprem a ordem judicial desde então. Durante o fim de semana, o prédio permaneceu ocupado. No fim da tarde de ontem, um grupo de estudantes se encontrou com a reitoria para uma segunda reunião de negociação — na sexta-feira, eles já haviam se reunido. Os resultados da conversa, entretanto, não foram divulgados. Em contato com representantes do movimento, eles informaram que apenas hoje uma nota seria publicada na internet. Não há data para uma nova assembleia sobre os rumos da ocupação.A Unicamp disse em nota que “continua aberta ao diálogo e que esgotará todas as possibilidades de negociação na expectativa de que a desocupação do prédio ocorra de maneira pacífica”.Os estudantes mantêm uma espécie de diário da ocupação em uma página no Facebook. Ali, divulgam a agenda cultural que vem sendo promovida no espaço e vídeos com manifestos sobre o movimento. Na página, o grupo fez um apelo aos milhares de estudantes da Unicamp para que comparecessem na assembleia de ontem. Aproximadamente 300 estudantes participaram do encontro e cerca de 30 deles falaram durante a assembleia. Depois, os estudantes votaram. Segundo os manifestantes, cerca de 700 pessoas estavam na reunião. IsolamentoMuitos dos invasores tentaram impedir o trabalho da imprensa e limitaram o acesso dos jornalistas à área onde a assembleia era realizada, em frente ao prédio invadido. Eles usaram fitas de isolamento e grandes pedaços de pano para impedir a captação de imagens do encontro e a aproximação dos jornalistas (leia texto nesta página). Alguns manifestantes cobriam os rostos. Eles alegam que mantêm o anonimato para evitar perseguições políticas.O movimento, segundo o Diretório Central dos Estudantes (DCE), tem ganho apoio de diversos grupos. Ontem, em meio aos alunos da Unicamp, havia universitários de outras instituições, como Unesp e PUC-Campinas — eles até votaram pela manutenção da ocupação.A única a falar com a imprensa foi Mariana Toledo, coordenadora do DCE. Ela afirmou que o movimento segue fortalecido. “Foi uma das maiores assembleias dos últimos anos. A maioria votando pela manutenção da ocupação”, disse a jovem, que criticou a Polícia Militar. “Lutamos pela desmilitarização da PM. A polícia não é um aparelho de segurança do Estado, mas de repressão.”Questionada sobre qual seria a forma de garantir a segurança no campus, a estudante disse que uma das pautas reivindicadas é a contratação, via concurso público, de seguranças não armados. “Devem ser pessoas preparadas para lidar com pessoas e não com patrimônio. Estamos otimistas com a negociação e esperamos recuo do reitor (à presença da PM)”, disse. Após a morte do jovem Denis Casagrande, a administração da Unicamp autorizou as rondas da PM dentro do campus, que acontecem desde o dia 25 de setembro. Em negociações, a reitoria admitiu abrir um debate sobre o tema. DCE assume prejuízos causados à instituiçãoO Diretório Central dos Estudantes (DCE) informou que irá reparar a depredação causada no prédio da reitoria da Unicamp após a invasão. Mesmo sem prazo para deixar o local, a limpeza interna já começou, informou a coordenadora do DCE, Mariana Toledo. “Já começamos a limpeza das pichações. Não vamos deixar para os funcionários”, disse. Sobre os custos para arcar com a troca de vidros e de outros bens que podem ter sido danificados, ela garantiu que irá pedir apoio a outros centros acadêmicos para conseguir o dinheiro. Os prejuízos ainda não foram estimados. Um funcionário da reitoria que entrou no prédio um dia após a ocupação, para poder pegar alguns pertences pessoais que haviam ficado em sua sala, se surpreendeu com a depredação. “Tem muita pichação. Picharam até computadores. Eles usaram documentos de processos de alunos para fechar as janelas. Será muito difícil recuperar todos os documentos novamente. Teremos que começar tudo de novo”, disse o homem, que trabalha há quase 30 anos na universidade. Ele acredita que será necessário pelo menos um ano para conseguir colocar em ordem todos os documentos. Muitos processos de bolsas estudantis, por exemplo, precisarão ser refeitos. Por algumas frestas nos vidros, cobertos com papéis, o Correio conseguiu flagrar parte da movimentação. Em uma sala foi possível ver um rolo de pintura. Durante a manhã, estudantes entraram com um galão de tinta e tíner, o que pode ser um indicativo de que a pintura das paredes já começou. 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