Meliponário didático foi instalado em escola estadual há cerca de um ano e todo o trabalho resultou na publicação de uma revista produzida pelos alunos
Instalação do meliponário didático aconteceu em janeiro do ano passado, quando Juvenal Alves Pereira, professor especialista em currículo da rede estadual, convidou a escola para o projeto envolvendo as abelhas sem ferrão (Rodrigo Zanotto)
O trabalho de preservação das abelhas sem ferrão se tornou destaque na Escola Estadual Dr. Disnei Francisco Scornaienchi, localizada no Parque Jambeiro em Campinas. A unidade instalou o meliponário didático, dedicado a ensinar os alunos e toda a comunidade escolar sobre a importância da preservação desses animais, considerados como os principais agentes polinizadores.
A iniciativa é um desdobramento do projeto da Secretaria de Estado da Educação, intitulado Letramento Ambiental, que estimula as escolas da rede a trabalharem com didáticas voltadas à conscientização e preservação do meio ambiente. Normalmente as ações escolares desse projeto contam com a criação de hortas orgânicas e reaproveitamento de materiais recicláveis. Na EE Disnei, o trabalho pedagógico ganhou um novo objeto de estudo, as abelhas.
A instalação do meliponário didático aconteceu em janeiro do ano passado, quando Juvenal Alves Pereira, professor especialista em currículo da rede estadual, convidou a escola para o projeto envolvendo as abelhas sem ferrão. Um grupo organizador foi montado dentro da unidade educacional, que inscreveu o projeto na organização Change X, especializada em viabilizar projetos comunitários em várias cidades do mundo. Após a inscrição ser aceita, a empresa Bzz Abelhas Nativas foi contratada e realizou uma visita técnica para conferir as condições para a instalação do meliponário. “No dia da inauguração a comunidade escolar esteve muito presente, participando e entendendo a importância do projeto”, contou a professora de ciências Silvia Falasqui Martins, do 5º ano, que observou que a instalação do meliponário didático foi a consolidação de uma ideia que já existia na escola em 2023.
“Nós já estávamos estudando com os alunos a importância da polinização”, pontuou. Dessa forma, existia uma vontade de desenvolver a ideia por parte da comunidade escolar. Juvenal Pereira realizou palestras e discussões com pais e alunos, mostrando como funciona uma colmeia e descrevendo os tipos de abelhas. “Houve uma mobilização e as famílias não deixavam o Juvenal ir embora, pois os pais queriam saber como lidar com as abelhas que viviam em suas casas.”
Dessa forma, surgiu outro projeto dentro do tema. Intitulado como Abelhar, o trabalho consiste na preservação das abelhas que ocupam de forma natural ambientes naturais ou artificiais, como as colônias que vivem em árvores ou nos muros da escola. O objetivo, de acordo com Juvenal, é conscientizar as pessoas para a preservação dessas colmeias, uma vez que quando elas são saqueadas para a retirada do mel a maioria das abelhas não sobrevive. Os dois projetos reforçam a importância da preservação das espécies em um convívio harmônico com a sociedade.
A colmeia que ocupa o muro da escola está devidamente identificada com a placa do Abelhar, mas o meliponário didático precisava de um nome. Por tanto, cada turma escolheu um nome que foi votado, no pátio da escola, pelas 15 salas. O nome escolhido foi Dismel, batizando as quatro casinhas de abelhas instaladas no quintal da escola—todas sem ferrão, como a mandaguari amarela, mirins e jataí. Para garantir que as abelhas tenham acesso às flores durante todo o ano, o jardim da escola conta com um espaço para compostagem e canteiros de flores, feitos com a reutilização de garrafas pet.
REVISTA
O resultado do trabalho realizado ao longo do ano de 2024 foi demonstrado na publicação de uma revista, com 47 páginas, produzida pelos alunos do 5ª ano do ensino fundamental anos iniciais. A publicação cataloga sete tipos de abelhas, como mandaguari, mandaçaia, uruçu, uruçuamarela, mirim-droryana, abelha-europeia e jataí. A revista contém o nome científico e a descrição morfológica de cada espécie, o ambiente onde vivem, como é o processo de polinização de cada uma e os seus respectivos tamanhos.
A publicação destaca o papel fundamental que as abelhas têm para a preservação do meio ambiente. “Elas são os polinizadores mais eficazes e responsáveis pela polinização de cerca de 75% das culturas alimentares do mundo”, destacou. Sem a abelhas, muitas plantas não poderiam se reproduzir, afetando diretamente a produção de alimentos globalmente, como frutas, vegetais, nozes, sementes diversas e café.
Além disso, elas promovem a polinização de plantas nativas, contribuindo para a conservação de habitats naturais e para a saúde do meio ambiente, “o que inclui o crescimento de árvores e plantas que ajudam a controlar o clima, proteger o solo e fornecer oxigênio”. A revista também contém enigmas, curiosidades, histórias ficcionais e uma referência sobre a prática da meliponicultura, atividade de criar abelhas sem ferrão, informando ainda que os povos indígenas da América Latina, principalmente no Brasil e no México, criavam as abelhas e usavam o mel para alimentação e para preparar substâncias utilizadas em tratamentos de saúde, como a catarata.
Alguns alunos que participaram da publicação recepcionaram a reportagem do Correio Popular na visita à escola. Thiago Vieira, Miguel Lima, Gabriel Mattos, Samuel Bonifácio, Luana Aguiar, Emilly Caroline, Geovanna Trufano, Adryan Nathan, Maria Elena e João Gabriel, todos agora no sexto ano, explicaram que o trabalho foi realizado em diferentes grupos de trabalho. Eles explicaram que alguns alunos fizeram os enigmas, outros escreveram as histórias, os desenhos, as curiosidades e os textos explicativos.
As crianças acrescentaram que com o projeto em andamento e a revista publicada, os alunos que chegam iniciam o trabalho com informações e pesquisas já consolidadas. Os estudantes mais novos também terão a oportunidade de escrever a própria revista.
EXPANSÃO
Além da EE Disnei Scornaienchi, existe um meliponário instalado na EE Dona Veneranda, no Jardim Mercedes. O objetivo do professor idealizador, Juvenal Alves Pereira, é ampliar o número de instituições dentro do projeto. Há um plano de expansão para abranger as escolas vinculadas nas diretorias Leste e Oeste para depois passar para a instalação em outros prédios públicos, com intuito de potencializar o processo de polinização. O intuito é fazer um mapeamento do raio de abrangência de cada meliponário, traçando o raio de voo de cada espécie e identificando qual prédio público, de uma determinada região, pode receber outro meliponário. “Dessa maneira vamos incentivar o local a ter uma caixinha de abelha, até que consigamos cobrir todo o município”, finalizou o professor.
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