Coordenação Diretório Central dos Estudantes (DCE) da universidade quer debater a implantação do policiamento militar comunitário com a Secretaria de Segurança Pública (SSP)
Alunos reunidos no DCE: para eles, policial deve ser servidor da Unicamp ( Elcio Alves)
A coordenação Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) informou ver com “desconfiança” a implantação do policiamento militar comunitário na universidade, mas quer debater o assunto com a Secretaria de Segurança Pública (SSP) e reitoria. O tema veio à tona na semana passada, quando o secretário de Estado da Segurança, Alexandre de Moraes, afirmou que a implantação do modelo comunitário na Universidade de São Paulo (USP) deve começar em setembro, e depois será estendido à Unicamp. O sistema, inspirado no mesmo aplicado no Japão, terá efetivo fixo da Polícia Militar especialmente treinado para as atividades da universidade, diferentemente do patrulhamento ostensivo comum.Na USP, as reuniões para definição do policiamento foram iniciadas em janeiro. A negociação do modelo a ser implantado envolve reitoria, comunidade estudantil e até a Comissão de Direitos Humanos da universidade. As tratativas na Unicamp ainda não começaram e nem têm data para ocorrer, mas o DCE já comunicou que quer participar “intensamente” do processo, segundo o coordenador Cristovan Grazina. “Vamos expor à SSP porque o modelo humanizado de policiamento deve ser estendido a todo o Estado, e não somente à universidade.”Para Grazina, o modelo de policiamento ostensivo não tem resultados satisfatórios, por isso sua eficiência dentro dos campi é questionável. Ele afirmou que outras notícias de policiamento na USP e Unicamp, ao ser ver “midiáticas”, não promoveram melhora nos índices de segurança das universidades. “Sabemos que a estratégia de segurança no estado de São Paulo é falha, por isso vemos com desconfiança. Mas queremos participar do debate.”Como alternativa ao aumento da PM no campus da Unicamp, o DCE defende a criação do “policial universitário”, que seria concursado e teria seu emprego vinculado à Unicamp, no quadro fixo de funcionários. A ideia é que o policial tenha os mesmos direitos de professores e funcionários. Além disso, Grazina defende medidas urbanísticas para aumentar a sensação de segurança da comunidade acadêmica, como a poda de árvores e reforço da iluminação do campus.O coordenador lembrou ainda que, depois da morte do discente Denis Casagrande durante uma festa na Unicamp em 2013, a ideia do Estado era proibir eventos noturnos estudantis. Grazina defende o oposto: a ocupação do espaço da universidade para realização de festas justamente como combate à violência. “A violência está em todo lugar. Qualquer medida imposta de cima para baixo não funciona. Queremos também apresentar nossas propostas.”USPA declaração de Alexandre de Moraes sobre o policiamento comunitário foi dada na semana passada, um mês depois de uma estudante de 17 anos da Faculdade de Economia e Administração ter sido estuprada no campus da USP. A presença de policiais militares em universidades públicas de São Paulo é polêmica e enfrenta forte resistência de grupos acadêmicos. Os motivos estão na história recente brasileira: durante a Ditadura Militar, policiais fardados e à paisana se espalhavam pelos campi das principais universidades do País para reprimir supostas atividades subversivas.Na Unicamp, estudantes ocuparam a reitoria por 13 dias em outubro de 2013, em protesto contra a atuação da PM nos campi. O ato ocorreu logo após a morte do aluno Denis Casagrande, de 21 anos. À época, os discentes pediram que fosse montada uma guarda universitária humanizada, composta inteiramente por funcionários concursados, não terceirizados ou PMs. A SSP informou que ainda não há prazo para que o policiamento comunitário seja implantado na Unicamp.