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Estresse aquece venda de medicamentos

Quase 20% dos remédios consumidos na cidade são para problemas do sistema nervoso

Renato Piovesan
16/02/2019 às 21:19.
Atualizado em 05/04/2022 às 00:07

Muito trabalho, estudo, trânsito, estresse, alimentação inadequada e pouco cuidado com a saúde e exercícios físicos. O roteiro, que se enquadra na rotina de grande parte da população que vive em grandes cidades, também tem feito cada vez mais campineiros irem às farmácias. Prova disso é que estudo realizado pela ePharma, empresa de gerenciamento de programas de benefícios de medicamentos, aponta que cada trabalhador de Campinas consome 1,2 caixa de medicamentos por mês, em média. O mais alarmante é que o consumo de remédio para tensão lidera as vendas. Do total de 100.037 remédios prescritos por médicos de planos de saúde empresariais em Campinas em 2018, 19,73% (19.741 unidades) foram receitados para tratamento de problemas do sistema nervoso. O índice é semelhante à média nacional, de 20,4%. O estudo acompanhou o consumo de 6.940 pessoas ao longo do último ano. O resultado não chega a surpreender o presidente e fundador da ePharma, Luiz Carlos Silveira Monteiro. Segundo ele, a vida corrida dos tempos modernos explica a busca pelos remédios para o sistema nervoso central. “O grande vilão disso tudo é o modo de vida atual. Tem gente que precisa tomar remédio pela manhã para ficar mais disposto e ingerir outro medicamento à noite para conseguir dormir. O cidadão comum anda terceirizando sua saúde, indo ao médico para ver o que precisa tomar, mas se esquece de se cuidar antes para um dia não precisar procurar por remédios”, diz Monteiro. Monteiro também destaca a influência da família e do meio nos resultados da pesquisa. “Os pais também têm a responsabilidade de não deixar seus filhos obesos ou sedentários, e o mesmo vale para as empresas, que podem não contar com o melhor desempenho de seus funcionários quando não oferece a eles boas condições para cuidarem de sua saúde”, completa. Há casos em que nem só o estresse do dia a dia serve de gatilho, mas também fatores psicológicos levam as pessoas a procurarem por remédios para controlar a tensão, como antidepressivos. A estudante Larissa, por exemplo, tem só 21 anos e precisa tomar três comprimidos por dia para controlar a ansiedade e a depressão. O motivo? Ela ainda está tentando descobrir. “Tive uma infância complicada. Sofria bullying, brigava com colegas, professores e familiares. Quando fui crescendo, as revoltas aumentaram. Quando tive minha primeira crise de pânico durante uma aula na faculdade, no ano passado, é que resolvi procurar ajuda”, conta. Segundo ela, o diagnóstico foi o mais inesperado possível. “Meu médico disse que eu estava com crise de pânico, depressão e crise de ansiedade. Eram coisas que eu ouvia falar na TV, mas nunca imaginava que pudesse sofrer, ainda que eu apresentasse todos os sintomas, como não dormir direito e não ter vontade de fazer nada. Foi uma surpresa.” O assunto é sério e a grande maioria das pessoas que sofrem de depressão evita falar disso em público, mas Larissa foi na contramão e, até para ajudar a si própria, grava vídeos sobre o tema em seu canal no YouTube. Mais remédios Além dos remédios para tensão, a pesquisa destaca que medicamentos relacionados a problemas cardiovasculares e digestivos ocupam a segunda e terceira colocações, com 18,27% (18.275) e 14,14% (14.147), respectivamente. Dos remédios receitados, 57,6% (57.676 unidades) são medicamentos prescritos (tarja vermelha), 21,6% (21.654) são vendidos com retenção (tarjas preta e vermelha, como antibióticos) e 10,9% (10.913) representam os isentos de prescrição médica (MIPs). Lista é encabeçada por Puran e Rivotril Entre os cinco medicamentos mais procurados nas 148 farmácias pesquisadas em Campinas, três correspondem à venda sob prescrição médica, um à venda com retenção e outro é um MIP — medicamento isento de prescrição, por ser aprovado por autoridades sanitárias para tratar sintomas e males menores. A lista é encabeçada pelo Puran T4 (reposição hormonal da tireoide), seguido pelo Glifage XR (tratamento da diabetes do tipo 2 ou do tipo 1, quando associado ao uso de insulina) e Rivotril, tranquilizante de tarja preta. Na quarta e quinta colocações figuram o Predsim (reumatismo, problemas respiratórios e alérgicos) e a Aspirina Prevent, para afinar o sangue, evitar enfarto e melhorar a circulação do sangue nas artérias. Luiz Carlos Silveira Monteiro, presidente e fundador da ePharma, responsável pela pesquisa, explica que há medicamentos que são receitados ao longo do ano todo, independentemente do clima ou estação. “Tirando eventuais picos de Inverno ou Verão, quando há uma maior procura por drogas para gripe e diarreia, respectivamente, ao longo do ano em geral as drogas das doenças crônicas como hipertensão, diabetes e colesterol são muito receitadas também. As duas primeiras são ligadas a fatores familiares e ao estresse, já o tipo 2 do diabetes possui influências do meio ambiente ou falta de exercício, tendências do mundo moderno”, detalha o presidente da ePharma.

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