REPERCUSSÃO

Estilista conta saga para capturar Abdelmassih em livro

Estilita escreveu um livro sobre sua busca a Roger Abdelmassih para colocar um ponto final na história com o ex-médico que a estuprou anos antes

Cecília Polycarpo Cebalho
24/05/2015 às 12:53.
Atualizado em 23/04/2022 às 12:44
Líbano informou à Interpol que o foragido não havia entrado no território (Divulgação/ Secretaria Nacional De Antidrogas dDivulgação/ Secretaria Nacional De Antidrogas do Paraguaio Paraguai)

Líbano informou à Interpol que o foragido não havia entrado no território (Divulgação/ Secretaria Nacional De Antidrogas dDivulgação/ Secretaria Nacional De Antidrogas do Paraguaio Paraguai)

Escrever um livro sobre sua incansável busca a Roger Abdelmassih, foi a forma que a estilista Vana Lopes encontrou de colocar um ponto final na história com o ex-médico que a estuprara anos antes. Em “Bem-Vindo ao Inferno, a História de Vana Lopes - A Vítima que Cassou o Médico e Estuprador Roger Abdelmassih”, ela conta detalhes de seu esforço para encontrar o especialista em reprodução assistida condenado a 278 anos de prisão por violentar ex-pacientes. A mulher, que já foi criticada por se intitular uma das responsáveis pela prisão do criminoso, reafirmou que, sem seu esforço, a Polícia Federal não teria chegado ao paradeiro do ex-médico em Assunção, no Paraguai. Em entrevista ao Correio, ela contou que foi uma fonte sua na cidade que deu detalhes da vida do ex-médico no bairro Villa Morra. As informações eram repassadas a ela e ao produtor Leandro SantAna, da Record, que acionou a Polícia Federal e a Polícia Nacional do Paraguai. “Eu tinha uma rede de mais de sete mil pessoas que me ajudaram. Checava toda informação, por mais insignificante que parecesse. Fui juntando tudo e informava a polícia e o Leandro”, disse a estilista. Vana explicou que foi ela que colocou o jornalista em contato com sua fonte, a quem apelida de “Ange”. A fonte tinha os horários da rotina de Abdelmassih e foi fundamental para que a prisão fosse feita em um momento em que o ex-médico não portasse qualquer tipo de documento. “Deu tudo certo e, sem documentos, conseguimos que ele fosse extraditado imediatamente”. Vana estava esperando por Abdelmassih no dia 20 de agosto de 2014, no Aeroporto de Congonhas, quando o homem retornou algemado ao País. "Bem-vindo ao inferno! Fui eu, Vana Lopes, quem te procurou estes anos todos! Você não sai mais daqui!", disse a estilista a ele na ocasião. O livro é uma compilação de documentos oficiais e mais de 300 horas de gravações de entrevistas, além dos relatos da estilista. A organização foi feita pelos jornalistas Cláudio Tognolli e Malu Magalhães. Vana contou que um dos objetivos da obra é ajudar financeiramente a organização não governamental (ONG) Vítimas Unidas, que presta apoio jurídico e psicológico a dezenas de mulheres abusadas pelo ex-médico. A renda das vendas será destinada à ONG. Confronto Vana foi confrontada pela sobrinha de Roger Abdelmassih, Roberta Amaral, na noite da última quinta-feira durante o lançamento do livro em São Paulo. O contato das duas mulheres foi rápido, segundo a estilista. Ela afirmou que reconheceu Roberta na fila de autógrafos. "Quando ela chegou na ponta (da fila), disse para mim: Você sabe que não é verdade. Então eu respondi: Então seja bem-vinda à verdade." A vítima disse que Roberta não chegou a ofendê-la, mas foi "um pouco agressiva" ao dizer que Vania tinha acabado com a vida de sua mãe de 80 anos, irmã de Abdelmassih. A mãe em questão é Maria Stela Abdelmassih do Amaral, apontada como uma das pessoas que ajudaram o ex-médico no exterior. O esquema que manteve por três anos o estilo de vida luxuoso de Abdelmassih no exterior era milionário e envolve empresas de fachadas para lavagem de dinheiro. O ex-médico foi preso dia 19 de agosto em Assunção, no Paraguai. Ele estava foragido desde 6 de janeiro de 2011. Vana disse ter reconhecido Roberta porque na época do escândalo conviveu com familiares que tentavam defender o médico. "A família o defendia, inclusive a Roberta, que acobertou onde ele estava". A advogada disse esperar que o livro faça Roberta conhecer o drama das vítimas de Abdelmassih. O Correio tentou contato com Roberta, mas não obteve resposta. Maria Stela tem propriedades em Campinas e precisa da assinatura do ex-médico para vender quatro imóveis. Os bens fazem parte da herança deixada pela mãe do ex-médico, Olga Abdelmassih, que morreu em julho de 2011 e morava na cidade. A reportagem conversou com uma pessoa próxima a família. Ela disse que desde a morte da mãe, herdeiros procuram um meio legal de vender um dos bens. Caso Abdelmassih era considerado um dos principais especialistas em fertlização no Brasil. Ele foi denunciado pelo Ministério Público de São Paulo por crimes de estupro praticados contra 56 mulheres. Ele teve o registro profissional cassado em agosto de 2009. Uma ex-funcionária da clínica o denunciou ao MP após o medico tentar agarrá-la a força. Após a primeira denúncias muitas pacientes/vítimas com idades entre 30 e 40 anos denunciaram que foram molestadas pelo ex-médico. Apesar da condenação, em novembro de 2010, o ex-médico não foi preso imediatamente em virtude de um habeas corpus concedido pelo então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, em 2009. Em fevereiro de 2011, porém, o habeas corpus foi cassado pelo próprio STF. Em janeiro de 2011, uma nova prisão foi decretada pela 16ª Vara Criminal da Capital, baseada na solicitação de renovação do passaporte do próprio médico, o que configurava risco de fuga. Ele, no entanto, conseguiu fugir do País e passou a constar na lista de criminosos procurados pela Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol). O planejamento da operação que levou à captura de Roger Abdelmassih envolveu a Polícia Federal (PF), o presidente do Paraguai, Horacio Cartes e o jornalista Leandro SantAna. O pedido de cooperação no planejamento da prisão chegou no início de agosto de 2014 às autoridades paraguaias, e foi repassada diretamente por Cartes a Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), um dos ministérios do governo. O objetivo foi esconder o esquema da Polícia Nacional do Paraguaia, pois havia indícios que policiais estariam envolvidos no esquema que deu cobertura ao criminoso por três anos.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por