Com sintomas de covid-19, a faxineira Lidia Paiva espera, com ar de desalento, por atendimento no Hospital Metropolitano (Kamá Ribeiro/ Correio Popular)
O ritmo de contaminação do coronavírus em Campinas vem mobilizando esforços das autoridades do município na busca de soluções para evitar que a cidade se torne uma nova Manaus, palco de uma tragédia sanitária em que milhares de pessoas morreram asfixiadas por falta de oxigênio e atendimento médico adequado em janeiro. A pressão levou o governo do Estado a anunciar ontem 20 novos leitos de UTI covid para a cidade. Os novos leitos vão funcionar no hospital de campanha estadual, que será reativado no Ambulatório de Especialidades Médicas (AME), ainda este mês. A estrutura funcionou de abril a setembro de 2020, quando o país vivia o pico da primeira onda da pandemia, e foram desativados na maioria dos estados do país no segundo semestre de 2020, depois de um recuo da doença e da redução da demanda por leitos de hospitais para o tratamento da covid-19.
Além dos 20 novos leitos de UTI do AME, o governo estadual anunciou também 10 leitos de enfermaria que serão destinados a Campinas, mas não especificou onde serão instalados. O SUS estadual na região de Campinas possui atualmente 385 leitos de UTI covid, sendo 70 deles ativados neste ano. Em Campinas, são 30, sendo 10 instalados nos últimos 15 dias no Hospital das Clínicas na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Ao anunciar a reativação do hospital de campanha, o governo estadual atualizou os números e cifras dos repasses de verbas para abertura de leitos em Campinas. Pelas contas do Estado, R$ 2,4 milhões já foram repassados para o Município para custear outros 20 leitos de UTI covid em Campinas, em operação. Alem disso, foi mencionado um repasse de R$ 12 milhões, feito em janeiro, para custeio de 50 leitos de UTI nos hospitais Ouro Verde e Mário Gatti, além da ampliação de mais 15 leitos novos no Hospital Ouro Verde.
Por sua vez, a Prefeitura de Campinas confirmou que os recursos disponibilizados pelo Estado (R$ 2,4 milhões) correspondem ao dinheiro para cobrir parte do custeio dos leitos já implantados. Há pelo menos duas semanas, a Prefeitura vem sofrendo com o estrangulamento do sistema de saúde municipal, e com a falta de leitos para acolher os milhares de infectados pela covid-19. Filas de espera, mesmo que temporárias, começam a ser sentidas nos hospitais da cidade que estão com a ocupação de leitos no limite.
72 mil contaminados
Ontem, a cidade alcançou a marca de 72 mil contaminados, com uma ocupação de mais de 90% dos leitos de UTI, incluindo as redes pública e privada. Ao todo, a cidade teve 300 leitos ocupados, índice de ocupação registrado entre julho e agosto de 2020, considerado o pico da pandemia na cidade. Ficaram disponíveis 27 leitos, com uma taxa de ocupação de 91,74%. O Município está prestes a atingir a marca de dois mil mortos. Até ontem, 1.944 haviam morrido de covid-19 em Campinas.
Diante desse cenário, uma comitiva de vereadores da cidade esteve ontem em reunião com o governo do Estado de São Paulo, para buscar viabilizar um aumento de leitos. Os parlamentares se reuniram com secretário de desenvolvimento regional, Marco Vinholi, por intermédio do deputado federal, Carlos Sampaio (PSDB), e expuseram os problemas enfrentados pela cidade. "O Legislativo optou por assumir um protagonismo maior nesta luta por nossa população, que está sofrendo demais com a pandemia, e já temos os primeiros resultados", disse o vereador Zé Carlos (PSB).
De acordo com o vereador, os leitos do AME precisam apenas de um ofício do prefeito Dário Saadi (Republicanos) para serem viabilizados. Participaram da comitiva, o vereador Paulo Haddad (Cidadania), presidente da Comissão Permanente de Saúde da CMC, e o vereador Major Jaime (PP).
Na semana passada, o prefeito Dário Saadi ao lado do secretário municipal de Saúde, Lair Zambon, também reiterou sua cobrança para que o governo estadual fizesse a sua parte e liberasse recursos para a ampliação de leitos no município. "É importante que o Estado amplie a sua rede de atendimento em Campinas, com mais leitos covid de UTI e de enfermaria, como ocorreu em julho e agosto do ano passado", disse o prefeito.
Na semana anterior, durante uma reunião do Conselho de Desenvolvimento da RMC (Região Metropolitana de Campinas), foi também encaminhado por parte da Agemcamp (Agência Metropolitana de Campinas) ofício solicitando atenção especial por parte do Governo do Estado no que diz respeito à implantação de novos leitos de UTI no AME, bem como a ampliação de leitos da mesma complexidade no Hospital de Clínicas da Unicamp.
De acordo com os parlamentares de Campinas, 20 novos leitos também foram sinalizados para entrarem em operação até o final do mês no Hospital Metropolitano. Entre a tarde de ontem e a manhã de hoje, a previsão era de abertura de 10 leitos de UTI e 20 de enfermaria no Hospital Metropolitano, segundo informou a Prefeitura. A unidade foi requisitada pelo prefeito Dário Saadi.
Ontem, foram abertos mais 24 leitos de enfermaria para pacientes com covid na UPA Anchieta Metropolitana, segundo informações da prefeitura. Dez desses leitos são reservados para pacientes que estão internados na própria unidade. Os esforços para a ampliação de leitos fizeram com que a Prefeitura, na última quinta-feira, transferisse também o gripário, que funcionava no Ambulatório de Especialidades do Hospital Mário Gatti, para o Hospital Metropolitano.
A Prefeitura informa ainda que em até duas semanas serão abertos mais 28 leitos de enfermaria covid no Ouro Verde. Atualmente, entre os 327 leitos UTI para paciente covid, 119 leitos são do SUS municipal, com uma ocupação de 97,48%, e 30 são do SUS estadual, ocupação de 93,33%, e 178 da rede privada, ocupação de 87,63%.