O autônomo Adelson Filho, de 64 anos, acompanhado da mulher, Marilinda Campos, de 61, aguarda há dois anos pela cirurgia nos rins e na próstata (Ricardo Lima)
O governador de São Paulo e pré-candidato pelo PSDB na disputa Estadual, Rodrigo Garcia, anunciou quarta-feira (25) um programa cuja ambição é a de zerar a fila de pacientes de sete especialidades que aguardam agendamento para a realização de cirurgias eletivas cadastradas na Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (Cross). O Mutirão das Cirurgias, que receberá investimentos previstos de R$ 350 milhões do Estado, prevê a realização de 54 tipos de procedimentos ofertados no SUS em sete especialidades: aparelho circulatório, visão, digestiva e abdominais, osteomolecular e geniturinário, das glândulas endócrinas e em nefrologia.
De acordo com os dados do Estado, são 538,1 mil cirurgias na fila, sendo que apenas em Campinas, mais de 71 mil represadas.
No início do programa, a partir de junho, os hospitais próprios da rede estadual ampliarão o atendimento aos pacientes que aguardam pelos procedimentos. A expectativa é a de que o governo consiga ampliar a capacidade cirúrgica de 25 mil para 75 mil por mês, apenas na rede própria de hospitais e nas unidades de Ambulatório Médico de Especialidades (AME) cirúrgicos.
Como apenas essa ampliação não daria conta da demanda reprimida, hoje será aberto um chamamento para que hospitais filantrópicos e da rede privada possam participar do Mutirão, o que seria essencial para, se não zerar, reduzir significativamente a fila de espera em um período de quatro a cinco meses.
Para garantir que haja o interesse de contribuir com o atendimento à demanda reprimida pelos anos de pandemia, a estratégia do Estado é a de pagar o dobro do valor que atualmente é repassado pela Tabela SUS do Ministério da Saúde, tanto para os hospitais públicos como para os demais.
Os hospitais receberão o valor adicional de 100% ao previsto na tabela para cada cirurgia realizada e também um valor adicional para consultas e exames pré-cirúrgicos. Com esse incentivo, a expectativa é a de que os hospitais tenham condições de até triplicar a capacidade cirúrgica.
Garcia explicou que, no caso das unidades particulares e filantrópicas, as cirurgias começariam a ser realizadas em julho e iriam até outubro. "A rede privada e a filantrópica dependem de uma contratualização com o Estado. Esperamos que isso ocorra ao longo do mês de junho", afirmou o governador.
Ele também avaliou a possibilidade de atingir o objetivo de zerar a fila de espera. "Quando falamos em zerar a fila, significa não ter ninguém aguardando na Cross. Naturalmente, é certo que haverá alguém aguardando agendamento de cirurgia eletiva. O que nós não vamos ter mais é represamento, haverá um fluxo normal, com cerca de 25 a 50 mil pessoas todos os meses aguardando cirurgia, mas teremos atendido as pessoas que estão há um ano e meio, dois anos, aguardando as cirurgias."
Segundo o Estado, demoraria até dois anos e meio para zerar a fila atual não fossem as ações futuras do Mutirão anunciado. Em relação aos serviços particulares, o chamamento público simplificado ficará aberto por 10 dias. Os interessados poderão enviar as propostas ao Departamento Regional de Saúde (DRS) da própria região.
Outra medida anunciada pela Secretaria de Estado da Saúde é a realização de procedimentos extras em 56 hospitais da rede própria e em 37 AMEs, totalizando 47,7 mil cirurgias como procedimentos contra catarata, colecistectomia, hernioplastia, adenoidectomia e vasectomia.
"Os mutirões serão uma grande mobilização em todo o Estado. Contamos neste momento de retomada com a participação de toda a rede pública e a parceria da iniciativa privada. Vamos pagar o dobro da tabela SUS para as redes pública e privada e, com isso, temos a expectativa de triplicar a oferta existente hoje", afirmou o secretário de Estado da Saúde, Jean Gorinchteyn.
Saldo da covid-19
"Estamos cuidando de um efeito colateral da covid-19. Quando olhamos o drama pessoal e familiar que essas cirurgias geram, fica impossível nos manter passivos", discursou o governador ao anunciar o Mutirão das Cirurgias.
Em Campinas, o autônomo Adelson Filho, de 64 anos, é uma dessas centenas de milhares de pessoas que convivem com a espera - interminável até o momento - para realizar procedimentos importantes. Ele convive desde pouco antes do início da pandemia com um problema na próstata e no rim e aguarda há dois anos para realizar as cirurgias.
A última consulta que ele fez foi em novembro do ano passado. Na ocasião, foi dito a ele aguardasse até a ligação com a data, o que nunca aconteceu. "Enquanto isso, estou piorando. Em um dos rins, a pedra está muito grande. Em um deles tem uma pedra com 2,4 mm e, no outro, de 7,9 mm."
O medo do autônomo é o de que a espera possa agravar ainda mais o caso, que já não é simples. A esposa dele, Marilinda Campos, de 61 anos, contou que, diante da espera frustrada por uma ligação e com a piora na saúde do marido, estavam quarta-feira (25) no Hospital Dr. Mário Gatti para ver o que poderia ser feito.
Procurada, a Secretaria Municipal de Saúde afirmou que vai aderir ao Mutirão, porém, aguardará mais esclarecimentos do Estado sobre a estratégia. Hoje à tarde, Rodrigo Garcia estará no AME Campinas, onde deve apresentar mais detalhes de como o programa chegará ao município. Ele também deve abordar a ampliação por leitos pediátricos na região, algo que vem sendo requisitado pela Prefeitura de Campinas e por representantes de hospitais que atendem o SUS.
Entidade filantrópica, a Santa Casa de Campinas já confirmou que aguarda os encaminhamentos finais, mas que, caso seja convidada, vai integrar o Mutirão. Outros hospitais ainda desconhecem como a estratégia vai funcionar e/ou vão aguardar para se posicionar nos próximos dias.