MUDANÇA DE PLANOS

Estado admite hipótese de cancelar leilão do Cerecamp

Possibilidade surge após 2 tentativas frustradas de vender o Estádio da Mogiana

Edimarcio A. Monteiro/[email protected]
26/06/2025 às 10:48.
Atualizado em 26/06/2025 às 11:52
Espaço acabou interditado por falta de segurança e de alvará de funcionamento (Alessandro Torres)

Espaço acabou interditado por falta de segurança e de alvará de funcionamento (Alessandro Torres)

O Governo do Estado de São Paulo admitiu, pela primeira vez a possibilidade de destinar o Centro Esportivo e Recreativo de Campinas Dr. Horácio Antonio da Costa (Cerecamp), conhecido como Estádio da Mogiana, para uso da população, após duas tentativas fracassadas de vender a área. A Subsecretaria do Patrimônio, vinculada à Secretaria Estadual de Gestão e Governo Digital (SGGD), anunciou que está conduzindo estudos técnicos e jurídicos com o objetivo de avaliar alternativas viáveis para uso e preservação da área de 26,5 mil metros quadrados (m2), localizada no Jardim Guanabara. "Dentre as possibilidades em análise está a otimização para que o imóvel possa ser integrado melhor às necessidades contemporâneas da população, mantendo seu valor histórico e sua relevância cultural", divulgou a pasta em nota oficial.

De acordo com ela, a avaliação da nova destinação será conduzida em paralelo com a hipótese de alienação do bem, apesar de não ter aparecido nenhum interessado nos dois leilões já realizados. A opção de utilização pública da Mogiana foi bem recebida pela Prefeitura de Campinas e pela Comissão Especial de Estudo da Câmara Municipal criada para analisar propostas de destinação para a área. "A criação de um parque coaduna com a destinação prevista no Plano Diretor para aquela área", afirmou ontem a secretária municipal de Urbanismo, Carolina Baracat Lazinho.

Segundo ela, a decisão é do Governo do Estado, proprietária do Cerecamp, mas complementaria um projeto de revitalização para a Estação Guanabara, situada ao lado, que será apresentado no início de julho, que usará o potencial construtivo de um empreendimento imobiliário a ser lançado na região para a recuperação das edificações do local e instalação de um restaurante, espaço cultural e para empresas de tecnologia.

ESTUDOS

Para a secretária, a criação de um parque na Mogiana resultaria na valorização daquela região e atrairia novos investidores. O presidente e autor da proposta de criação da Comissão Especial de Estudos da Câmara, vereador Gustavo Petta (PCdoB), defendeu a ocupação também do entorno do Cerecamp para atividades esportivas e de lazer. O estádio seria mantido como campo de futebol e incluído outros equipamentos, como quadras poliesportivas, espaço para eventos culturais e pistas de caminhada e corrida.

Ele pretende apresentar o relatório com as sugestões no início de setembro. "Estamos conversando com todos os atores envolvidos para que esse espaço seja revitalizado e devolvido à população", afirmou Gustavo Petta. Para o vereador, os possíveis projetos de recuperação da Mogiana devem contar com o envolvimento dos três níveis de governo - municipal, estadual e federal. Ele apresentou a proposta de criação da Comissão de Estudos após a segunda tentativa fracassada de venda do Cerecamp.

A primeira foi em 8 de outubro passado, quando o lance mínimo estipulado foi de R$ 28,6 milhões. A outra foi quatro meses depois, em 14 de fevereiro deste ano, quando o governo reduziu o valor em 10,14%, caindo para R$ 25,7 milhões. O Estádio da Mogiana fica em uma área nobre de Campinas, de expansão imobiliária, mas é tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc) e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat), com um possível interessado não podendo alterar suas características arquitetônicas originais.

FUTURO

A Subsecretaria do Patrimônio não esclareceu quais seriam as opções de destinação do Cerecamp, mas apontou que o espaço é reconhecido como patrimônio histórico e cultural do Estado de São Paulo. De acordo com ela, a possibilidade de alienação área também está mantida, "desde que seja comprovado que tal medida não comprometa o interesse público nem resulte em prejuízo à coletividade paulista."

"Toda e qualquer decisão será tomada com base em pareceres técnicos, observando rigorosamente a legislação vigente relativa à proteção do patrimônio histórico, e será amplamente discutida com os órgãos competentes e a sociedade civil para garantir transparência e responsabilidade no processo", informou a pasta. "A subsecretaria reafirma seu compromisso com a valorização do patrimônio estadual, ao mesmo tempo em que busca soluções que promovam o uso sustentável e funcional dos imóveis públicos, sempre em benefício da população", acrescentou.

Depois de quase 12 anos recebendo apenas jogos do campeonato amador sem público, o Estádio da Mogiana foi interditado pelo governo do Estado em janeiro de 2023, devido às más condições estruturais e problemas de segurança. Atualmente, o espaço está fechado, com o acesso sendo barrado por seguranças. As paredes trazem sinais de desgaste pelo tempo, mas ainda guardam identificações, como as bilheterias, de seu período de apogeu, quando chegou a ser cotado para receber jogos da Copa do Mundo de 1950, realizada no Brasil.

REPERCUSSÃO

A possibilidade de instalação de um espaço público no local agradou moradores e pessoas que trabalham nas proximidades. "Um parque seria muito bom porque aumentaria a circulação de pessoas e atrairia clientes para a autoescola", disse Leonardo Abreu, proprietário de um estabelecimento do gênero localizado a poucos metros do Cerecamp. "É bom, porque hoje está abandonado. É uma pena estar fechado", disse o motorista Roberto Júnior. O comerciante Márcio Carlini defendeu a definição sobre o futuro da Mogiana, independentemente de ser instalado parque público ou vendido para a iniciativa privada.

"Para mim tanto faz, o que não pode é ficar esse elefante branco", disse ele, proprietário de uma lanchonete em frente ao estádio. Para o vereador Gustavo Petta, as grandes cidades são carentes de equipamentos de lazer e esporte públicos, sendo muitas vezes a adquirir áreas privadas para poder instalá-los. "Campinas pode ter o privilégio de ganhar um parque na região central, carente desse tipo de espaço", afirmou.

O surgimento do Cerecamp remonta há quase um século. Tudo começou em 1933, quando foi fundado o Esporte Clube Mogiana, formado pelos trabalhadores das estradas de ferro da Mogiana, companhia responsável pelos serviços ferroviários dos estados de São Paulo e Minas Gerais. Em 1940, o time inaugurou o seu próprio estádio, considerado um marco de modernidade para a época. O local contava com tribuna de honra, engrenagem mecânica que mudava o placar, cabines de rádio, sistema de drenagem e capacidade para 4 mil pessoas. Ele passou a ser um dos principais estádios do país, perdendo apenas, em termos de qualidade e arquitetura, para o Pacaembu, em São Paulo, e São Januário, no Rio de Janeiro.

O time foi extinto em 1959, após passar por uma crise financeira. O local passou a ser chamado de Cerecamp em 1985, quando era de responsabilidade da Ferrovia Paulista S.A. (Fepasa), extinta em 1998. Nesse período, o estádio passou a receber jogos do campeonato amador de Campinas e eventos. O Campinas Futebol Clube chegou a mandar jogos no local entre 1996 e 2009, mas a Mogiana acabou interditado por falta de segurança e de alvará de funcionamento.

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