EM AMERICANA

Estação de Tratamento joga 5 mi de litros de esgoto ao dia em represa, aponta dossiê

Moradores da região da Praia Azul denunciam crime ambiental contra Prefeitura

Gilson Rei
06/05/2022 às 09:28.
Atualizado em 06/05/2022 às 09:34
Esgoto in natura é despejado na represa de Salto Grande, na região da Praia Azul, provocando mau cheiro, morte de peixes e poluição (Divulgação)

Esgoto in natura é despejado na represa de Salto Grande, na região da Praia Azul, provocando mau cheiro, morte de peixes e poluição (Divulgação)

Um volume diário de 5 milhões e 184 mil litros de esgoto in natura é despejado na represa de Salto Grande, na região da Praia Azul, em Americana, provocando mau cheiro, morte de peixes e poluição ambiental. Esse volume corresponde à capacidade de carregamento de 172 carretas de três eixos. Um dossiê — com a denúncia de crime ambiental contra a Prefeitura de Americana — está sendo preparado por moradores da região e integrantes do G6 (Grupo de Defesa da represa de Salto Grande). Segundo os denunciantes, a Administração Municipal de Americana é a principal responsável pelo descarte criminoso a partir da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) da Praia Azul. Nos próximos dias, o grupo vai encaminhar um relatório, com fotografias e vídeos, comprovando que o esgoto sai de um emissário dessa estação de tratamento da Praia Azul.

Marcelo Masoca, integrante do G6 e morador da região, disse que o dossiê será encaminhado à Promotoria do Meio Ambiente de Americana, Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Cetesb) e outros órgãos ligados ao meio ambiente e vigilância sanitária. Masoca explicou que, há uma semana, recebeu a denúncia de moradores da região de que havia vazamento constante de esgoto na represa de Salto Grande, em um ponto próximo ao bairro Praia Azul. 

"Integrantes do grupo percorreram com barcos o local e constataram o vazamento permanente de esgoto vindo da ETE Praia Azul, sem tratamento. Um técnico calculou que estão sendo despejados 60 litros de esgoto in natura por segundo, que representa mais de 5 milhões de litros por dia", comentou. "Fora isso, o grupo já identificou que existem quatro pontos de vazamentos esporádicos em outros locais da represa, dentre os quais nas estações elevatórias 16 e 17 e em pontos próximos de condomínios", denunciou.

Dejetos e objetos

A ocorrência foi registrada em fotografias e em vídeos, mostrando as condições da represa. "Esse ponto de descarte de esgoto vem de um tubo emissário da ETE da Praia Azul, que indica claramente que não está havendo tratamento de esgoto. Além de dejetos fecais, passam pelo emissário e chegam na represa pastas de dente, preservativos, cotonetes, absorventes, pinos plásticos de cocaína e outros objetos. Isso indica que nem a grade de proteção e a filtragem estão funcionando na estação de tratamento. Tudo que chega está indo para a represa", lamentou.

A estação de tratamento da Praia Azul, segundo Masoca, está com algum problema ou não deve estar comportando o crescimento populacional da região. "Houve um crescimento descontrolado na construção de novas residências, condomínios. Alguns imóveis já estão prontos e outros em fase de construção. Com isso, é evidente que houve aumento da população e a estação não está mais comportando, pois foi elaborada há mais de 40 anos e está fora da realidade atual", comentou.

Masoca destacou também que a situação é preocupante porque a água da represa é utilizada para consumo da população de Americana e outra parte da água vai para o rio Piracicaba, seguindo para outras cidades. "A água da represa apresenta até peixes mortos e vai para a estação de captação de água de Americana, onde passa por tratamento, mas chega com muitos dejetos e não sei se a qualidade que a população de Americana está recebendo é boa. A água é tratada na parte de cima e, depois, a água da represa vai para a hidrelétrica e para o rio Piracicaba", explicou.

Masoca disse também que a equipe do G6 fez uma vistoria em toda região para ver se existe despejo de esgoto no trecho do rio Atibaia, desde Paulínia, passando por Sumaré e Nova Odessa. "Nesse trecho, não foi identificado despejo de esgoto e a água não apresenta odor de dejetos fecais, nem sinais de poluição. Isso comprova que os dejetos estão sendo lançados em Americana", disse. "O prefeito de Americana sempre diz que as 18 cidades acima é que destroem a represa, porém, essa vistoria prova que não é bem isso que acontece", revelou.

Gercino Fernandes, morador da região e outro integrante do grupo G6, confirmou também que o descarte de esgoto in natura está deixando a água escura e poluída. "O esgoto é visível e o cheiro é terrível. Além de ser um crime ambiental, essa água vai para consumo da população. Mesmo que haja um tratamento posterior, é uma ação criminosa e a população espera uma resposta", afirmou Fernandes. "O objetivo é enviar um dossiê para os órgãos responsáveis pelo meio ambiente para ver se essa situação será resolvida", comentou.

Prefeitura

Por meio de nota da assessoria, a Prefeitura de Americana informou que a Secretaria do Meio Ambiente vai verificar a denúncia e que atua com a fiscalização permanente da represa. A Prefeitura ressaltou também que desconhece a existência de um novo ponto de escoamento de esgoto no local denunciado.

Destacou que, em junho do ano passado, foram sanadas as três denúncias de irregularidades apresentadas nos anos de 2020 — de emissão de esgoto proveniente da estação da Praia Azul, vazamento de esgoto de um bueiro na Rua Maranhão e emissão de odor e espuma provenientes da estação de tratamento no mesmo bairro.

A nota da Prefeitura informa também que "O prefeito Chico Sardelli tem trabalhado há vários anos, desde o período em que foi deputado, pela limpeza da represa e que a despoluição não depende só de Americana, mas de todos os municípios a montante, uma vez que despejam o esgoto tratado no rio que as abastece".

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