Está aberta a temporada das liquidações de começo de ano

Após as festas de fim de ano, o mês de janeiro chega marcado pelas promoções e liquidações do comércio. Como faz há três décadas, uma loja do setor do varejo repetirá a tradição de realizar o que classifica como "grande liquidação" na primeira sexta-feira do ano. A promessa é oferecer descontos de até 80% sobre o preço dos produtos. Embora a procura por esse tipo de oportunidade não seja tão grande como no passado, em virtude do aumento da concorrência e do fortalecimento do e-commerce, vários consumidores já formavam fila quinta-feira (5) à espera da chance de comprar um móvel ou eletrodoméstico a preços módicos. 

No final da tarde de quinta-feira (5), um grupo formado por dez pessoas estava disposto a aguardar pelo menos 12 horas pela abertura da loja, localizada no Centro de Campinas, na manhã desta sexta-feira. Havia dois perfis bem distintos dentro desse grupo: os que estavam pela primeira vez pernoitando à espera de adquirir os produtos desejados e os que adotam essa prática há 10 anos. "Nós planejamos antes porque não é a nossa primeira vez. A gente sempre vem, há uns 10 anos, e sempre nessa unidade. Agora é mais tranquilo, porque antes a gente tinha que ficar quatro dias dormindo aqui. Agora, vamos ficar só uma noite. Geralmente, o pessoal almoçava depois do Réveillon e já vinha direto para cá", contou uma moradora de Campinas, que pediu para não ser identificada.

Ela e um homem que a acompanhava contaram que nos últimos anos as promoções não foram tão atrativas, mas que o mais importante é pesquisar os preços normais antes de ir para a loja. O objetivo é não cair em tentação de comprar um produto de última hora que pareça barato, mas que na realidade não está com um desconto tão grande. "Vamos ver como vai ser amanhã (sexta), mas até a quantidade de produtos da loja diminuiu bastante em relação ao que era. Nós queremos algo específico, já temos a marca, o modelo, e se não tiver do jeito que pesquisamos, não levaremos. O importante é fazer a pesquisa, não adianta vir despreparado e escolher um produto apenas porque está dizendo que está mais barato. Não compensa, ensinou a mulher."

De olho em uma televisão maior, um desejo compartilhado com as outras pessoas da fila, ela revelou que pesquisou os preços e que o item desejado gira em torno de R$ 5 mil reais. "A gente quer comprar por R$ 1,5 mil (risos). Temos que avaliar também para ver se compensa, porque às vezes pagar R$ 200, R$ 300 a mais para ter o produto entregue em casa, em uma caixa, é melhor. Ainda mais com a chuva", acrescentou.

A afirmação leva em conta que em algumas liquidações, como a desta sexta-feira, acontecem no esquema "pegar e levar", ou seja, os itens que estão no mostruário são os transportados pelos consumidores. Desse modo, os objetos muito grandes ou mais frágeis podem fazer com que o consumidor pense duas vezes sobre a validade da compra, mesmo com um preço em conta.

Os primeiros da fila são marinheiros de primeira viagem. Animados, os novatos eram os primeiros da fila. O pintor de residências Robson Rodrigues de Aragão, 42 anos, foi o primeiro a chegar junto com a esposa, Damiana Alves Ferreira, 30 anos, e com o filho, Douglas, de 11 anos, todos moradores de Hortolândia. Iniciantes na aventura, eles receberam a recomendação e orientação de um amigo, que também estava quinta-feira na fila com a esposa. 

"Ele já veio uma vez e ajudou a gente a ter coragem. Viemos preparados, trouxemos cooler com água, suco, comida e cobertor para passar a noite. Todo ano nós ouvimos falar dessas promoções e aí resolvemos arriscar este ano. Quis chegar mais cedo e tentar ser um dos primeiros para poder aproveitar o máximo possível", contou Robson.

A família toda adotou a estratégia de ter um dezembro mais econômico para, nas liquidações de início de ano, gastar menos em um produto ou comprar mais coisas com o mesmo valor reservado. "Nós economizamos durante o mês de dezembro. Não gastamos muito no Natal para poder gastar agora em janeiro. Foi tudo pensado e calculado. Pretendemos economizar em torno de R$ 600 nessa compra. Queremos uma TV de 65 polegadas e também um cooktop, utensílios domésticos, forno elétrico. Queremos renovar nossos produtos, mas tudo dentro do orçamento."

Preparação e expectativa por parte dos lojistas

O gerente da loja, Luis Fernandes Junior, enumerou alguns produtos que são, frequentemente, os mais procurados e comentou sobre a expectativa para sexta-feira em relação à liquidação. 

"A nossa expectativa é sempre a melhor possível, de que um ano supere o outro em vendas e em público. Trabalhamos para isso e estamos preparados para garantir a nossa excelência em atendimento ao cliente. Normalmente, os itens mais procurados são televisores, panelas de pressão e travesseiros. Esses produtos, geralmente, são os primeiros a terem os estoques esgotados."

Diante da mudança na forma de consumo ao longo dos 30 anos desde que a empresa adotou a liquidação, Junior descreveu como funciona a organização nas lojas físicas e como as compras virtuais podem servir como alternativa para quem não conseguir aproveitar presencialmente a queima de estoque. 

"Nos dois casos, existe, claro, uma preparação para que tudo ocorra dentro do esperado para que o cliente consiga sair satisfeito. Nas lojas, organizamos os produtos de forma que fiquem acessíveis a todos, que as quantidades disponíveis sejam suficientes - nem sempre é fácil atender toda a demanda, uma vez que estamos trabalhando com a queima de estoque, ou seja, não temos como fazer a reposição quando o produto acaba - e para que tudo aconteça da maneira mais tranquila possível. No ambiente virtual, convidamos todos os nossos mais de 230 mil parceiros do marketplace a participar, oferecendo também grandes descontos em seus produtos. Lá, o cliente que não consegue ir até uma loja física, também pode aproveitar a data e conseguir um item com um ótimo preço."

Por fim, o gerente da unidade avaliou que o fato de ser a 30ª edição da liquidação mostra que a iniciativa é um sucesso. Ele contou que muitos clientes são figuras presentes nas filas anualmente e que já colocam o evento no calendário anual, aguardando o início das promoções. "É gratificante ver que tudo aquilo que preparamos entrega exatamente o que eles esperam e desejam comprar", concluiu.

Outras lojas

Com as liquidações de janeiro ainda no início, o movimento de clientes em outras lojas em busca de descontos ainda era tímido na quinta-feira, provavelmente por causa da influência das fortes chuvas. Em uma loja voltada para acessórios femininos, uma senhora entrou rapidamente, consultou as vendedoras, mas saiu sem levar nada. Com pressa, ela disse à reportagem que sabia que os preços dos produtos costumam cair após o período de Natal, mas que ainda estava procurando melhores opções. Por isso, optou em não gastar, mas afirmou que continuaria procurando algo que encaixasse no orçamento e no desconto imaginado. 

Para quem não se programou - ou não lembrou que no começo do ano muitas lojas costumam adotar a estratégia da queima de estoque -, sobrou apenas a "olhadinha" nas vitrines com anúncios de descontos. Como o orçamento ficou apertado depois das festas de final de ano, muitos preferem não fazer loucuras. A menos, claro, que a economia obtida com a eventual compra seja uma "barbada".