CAMPINAS

Especialista alerta que situação do Cantareira ainda é preocupante

Para Antônio Carlos Zuffo, da Unicamp, ainda não há motivos de sobra para comemorar a situação do reservatório, que teve 11 aumentos seguidos de volume

Érica Araium
17/02/2015 às 05:00.
Atualizado em 24/04/2022 às 00:01
Chuvas constantes têm garantido o aumento da vazão do Rio Atibaia, que abastece 95% de Campinas (Dominique Torquato /AAN)

Chuvas constantes têm garantido o aumento da vazão do Rio Atibaia, que abastece 95% de Campinas (Dominique Torquato /AAN)

Graças às chuvas registradas nos últimos dias, o volume do Sistema Cantareira registrou a maior alta desde o início da crise hídrica no Estado de São Paulo. Porém, ainda é cedo para comemorar uma mudança na situação crítica de falta de água no reservatório que abastece Campinas e a Grande São Paulo. O alerta é do especialista  Antônio Carlos Zuffo, chefe do Departamento de Recursos Hídricos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).   "Houve uma recuperação. Mas, apesar de ter chovido a média do mês até a metade dele, o nível de água ainda está muito baixo (no Sistema Cantareira). A vazão de domingo para ontem [segunda-feira, 16)  foi equivalente à vazão média diária do mês de janeiro, que deveria ter sido chuvoso. Ocorre que estamos com um déficit de 23%. Para estarmos na mesma situação que tínhamos em abril do ano passado, quando o índice era positivo em 10%, precisaríamos de um volume bem maior”, alerta Antônio Carlos Zuffo.   Balanço   Segundo relatório da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) desta segunda-feira, o sistema opera com 7,8% de sua capacidade, já considerando a segunda cota do volume morto — aumento de 0,5% em relação ao índice de domingo. O acumulado do mês ultrapassou a média histórica: o volume previsto para fevereiro era de 199,1 mm e o registrado ontem chegava a 206,1 mm.   Em 24h (entre domingo e segunda), o índice pluviométrico foi de 42,6 mm, o maior do ano. A previsão é de que hoje chova mais 30 mm. Apesar do índice positivo, não há motivos para comemorar.     Este foi o 11º aumento de volume de água seguido do Cantareira. Nos últimos 16 dias, o volume de chuvas foi maior que o esperado para o mês inteiro. O cálculo incluiu a segunda cota do volume morto, uma de 182,5 bilhões de litros d'água, adicionada em maio do ano passado, e outra de 105 bilhões, em outubro. Contudo, em janeiro, o sistema havia registrado a menor vazão afluente (aquela que chega aos reservatórios): 8,4 m3/s, 65,7% abaixo da vazão média registrada em 1953, até então o pior em oito décadas de operação. No dia 1º de fevereiro a capacidade chegou a 5%.Uso racional da água   Na avaliação do especialista, para que os efeitos da crise hídrica se assentem no Estado de São Paulo, e antes do período de estiagem (a partir de abril), o Sistema Cantareira precisaria registrar aumentos diários de 1% durante 45 dias, algo difícil. “A cada 1% de volume aumentado, ganhamos uma semana de abastecimento já considerada a restrição de uso. Para se ter uma ideia, em janeiro do ano passado, a quatro dias, esse 1% do reservatório já era consumido. Melhoramos. Ainda que a Sabesp controle a vazão a fim de manter os níveis dos mananciais, algo que vem fazendo, a única maneira de minimizar a possibilidade de racionamentos é economizando água”, frisa. Os reflexos das chuvas dos últimos dias para o Rio Atibaia, que abastece 95% de Campinas, foram positivos. Segundo o diretor de comunicação da Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento (Sanasa), Marcos Lodi, a vazão ontem era de 22,50 m3/s. “Temos água suficiente para captação, ou seja, há certo conforto para a região. Algo que se reflete na melhoria do clima, nas áreas verdes e, claro no abastecimento. Segundo relatório de ontem da Agência Nacional de Águas (ANA), todos os pontos de medição estavam sem restrições de consumo”, analisou.     “É preciso considerar que, para fins de abastecimento, a melhora efetiva se dará havendo chuvas em cidades como Nazaré Paulista, Itatiba e Atibaia, que contribuirão à elevação da vazão do Rio Atibaia”, pontuou. Os reservatórios da cidade garantem oito horas de abastecimento, caso ocorram problemas nas estações ou na captação. Para ampliar essa autonomia para 12 horas, a Sanasa investirá R$ 40 milhões na construção de novos reservatórios.

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