NO CERCADINHO

EsPCEx isola ‘manifestantes’ para poder realizar formatura

Bolsonaristas foram “convidados” a se deslocar para o outro lado da rua onde fica a unidade; grades metálicas foram usadas para garantir o isolamento

Do Correio Popular
11/12/2022 às 11:00.
Atualizado em 11/12/2022 às 11:00
Comando da EsPCEx instala barreiras físicas diante da unidade para afastar bolsonaristas que pedem intervenção militar no país: medida foi adotada para garantir cerimônia de formatura dos cadetes (Kamá Ribeiro)

Comando da EsPCEx instala barreiras físicas diante da unidade para afastar bolsonaristas que pedem intervenção militar no país: medida foi adotada para garantir cerimônia de formatura dos cadetes (Kamá Ribeiro)

Fuzileiros do 28º Batalhão de Infantaria Mecanizado (BIMec) criaram um bolsão de segurança em frente à Escola Preparatória dos Cadetes do Exército (EsPCEx) para garantir no sábado (10) a realização da cerimônia de encerramento do ano letivo de 2022. Após solicitação do comando da EsPCEx, os manifestantes acampados há 41 dias em frente à unidade militar se deslocaram para o canteiro central e a calçada do outro lado da Avenida Soldado Passarinho, no Jardim Chapadão. O grupo civil pede intervenção militar para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), marcada para 1º de janeiro.

Os fuzileiros montaram barreiras com grades para isolar a frente da Escola de Cadetes e garantir a solenidade de formatura dos 409 cadetes - 374 homens e 35 mulheres - que ocorreria no final da tarde. Tradicionalmente, o início da cerimônia é marcado pela formação dos alunos em frente ao prédio, que depois entram marchando para o pátio da unidade. A montagem do bolsão de segurança foi para garantir o ritual e também o acesso dos familiares e convidados dos cadetes.

Os fuzileiros do 28º BIMEc permaneceram o dia todo patrulhando o local para garantir o isolamento. Eles estavam fardados, mas sem portar armas. O trabalho era observado por centenas de manifestantes, que apesar de liberarem a entrada da EsPCEx, não arredaram o pé de frente da escola militar. Nesse ponto, o grupo se aglomerou na calçada da avenida no sentido balão do Castelo. Porém, eles permaneceram com barracas de acampamento, banquetas e bandeiras brasileiras no canteiro central da via, que também é caminho de acesso para o clube Círculo Militar e as cinco unidades do Exército instaladas na Fazenda Chapadão.

Além do Batalhão de Infantaria Mecanizado, estão sediados o 2º Batalhão Logístico, a 2ª Companhia de Comunicações Mecanizada, o 11º Pelotão de Polícia do Exército e o Comando da 11ª Brigada de Infantaria Mecanizada, responsável pelas unidades do Exército em Campinas e de outras cinco cidades do Estado de São Paulo.

A formatura

A EsPCEx é uma instituição tradicional, com 82 anos de existência. A unidade militar é o único meio para ingresso na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), escola superior localizada no Rio de Janeiro, responsável pela formação do oficial combatente do Exército. Ao ser aprovado no exame de seleção da escola, o aluno já passa a ser militar da ativa do Exército. Os cadetes têm no mínimo 17 anos de idade e no máximo 22, tendo concluído ou estar cursando o 3º ano do Ensino Médio no ano da inscrição. Na Aman, onde fará o curso de 4 anos de formação, será declarado aspirante a oficial das Armas, do Quadro de Material Bélico ou do Serviço de Intendência do Exército. Ao final, seguirá para um dos quartéis localizados pelo Brasil. Após seis meses, será promovido ao posto de 2º tenente, dando prosseguimento à carreira.

O primeiro colocado geral da Turma General Rodrigo Octávio da ExPCEx este ano é o cadete Lucca Goulart Gasparotto. "O encerramento do ano letivo marca o fim de uma fase e o início de uma outra: é o início da formação militar, um período de abnegação e superação e a reafirmação do compromisso da disponibilidade militar em servir à Nação Brasileira", diz a instituição em nota oficial.

A solenidade de encerramento do ano letivo de 2021 teve a participação do presidente Jair Bolsonaro (PL), o mais famoso aluno a passar pela EsPCEx. Ele chegou a ser convidado para a solenidade de sábado, mas não confirmou a presença. A agenda oficial de Bolsonaro previa apenas a participação na Cerimônia de Declaração de Guardas-Marinha de 2022 e entrega de espadas à Turma Patriarca da Independência, na Escola Naval do Rio de Janeiro.

O evento na Escola Naval foi uma das poucas aparições públicas de Bolsonaro desde a derrota nas eleições presidenciais, em 30 outubro. Mais uma vez, ele preferiu não se pronunciar. O presidente não fez discurso e nem falou com a imprensa. Desde o segundo turno das eleições, as únicas aparições em público de Bolsonaro foram em cerimônias militares.

Na sexta-feira, ele quebrou o silêncio e voltou ao "cercadinho" no Palácio do Alvorada, em Brasília, para falar com seus apoiadores. Em um discurso dúbio, disse para cada um "ver o que pode fazer pela sua pátria" e que "tudo dará certo no momento oportuno".

Exaltados, bolsonaristas ofenderam os repórteres do Correio Popular, que estavam no local apenas para cumprir a missão de informar a sociedade (Kamá Ribeiro)

Exaltados, bolsonaristas ofenderam os repórteres do Correio Popular, que estavam no local apenas para cumprir a missão de informar a sociedade (Kamá Ribeiro)

Ofensas

A equipe de reportagem do Correio Popular foi hostilizada e ameaçada pelos manifestantes que se mantêm diante da EsPCEx. Ao verem o carro identificado do jornal, começaram as vaias e xingamentos acompanhados por palavrões. Pessoas acenavam com o dedo médio levantado e com os dedos indicador e polegar formando um círculo. "Lixo", "comunistas", "safados" e "fdp" foram algumas das palavras proferidas em tom de ofensa, que continuaram durante todo o tempo em que a equipe permaneceu no local.

"Esses daqui são comunistas", disse em tom alto um homem que se aproximou e apontava para os repórteres enquanto se dirigia para os manifestantes. "Lá todo mundo é fdp. Eu já trabalhei lá e conheço todo mundo", afirmava outro que estava perto. A equipe do jornal foi proibida pelos militares do 28º BIMec de permanecer na área de isolamento, sendo orientada a ficar entre os manifestantes ou fora da área demarcada pelas grades, o que foi feito.

Grupos que pedem a intervenção militar, ato que fere a Constituição, estão desde o dia 1º de novembro acampados em frente à EsPCEx e quartéis em todo o país. A aglomeração de manifestantes foi engrossada no sábado (10) por várias outras pessoas que foram até a Avenida Soldado Passarinho atraídas pela solenidade de encerramento do ano letivo dos cadetes. A todo o momento chegavam pessoas com a bandeira nacional e camisetas da Seleção Brasileira, que se transformaram em marca registrada de quem apoia o presidente Bolsonaro e não aceita o resultado da eleição.

"Se precisar a gente acampa, mas o ladrão não sobe a rampa", era o grito em coro dos manifestantes em alusão a Lula, o presidente eleito. Além de pedir a intervenção militar, o grupo também atacava o Poder Judiciário. Havia uma faixa em inglês com a frase "We don´t want Supreme Court. SOS Armed Forces", que em tradução livre significa "Nós não queremos a Corte Suprema [se referindo ao Supremo Tribunal Federal, STF]. SOS Forças Armadas". Ao lado estava uma bandeira nacional em preto.

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