Sala de aula do Colégio Carlos Gomes: unidade resgistrou movimento tranquilo, com 25% de adesão dos alunos (Kamá Ribeiro/ Correio Popular)
As escolas estaduais e particulares de Campinas retomaram ontem às atividades presenciais com adesão de aproximadamente 25% na capacidade de ocupação e respeitando os protocolos e restrições para evitar o contágio pela covid-19. A presença em sala de aula é facultativa ao aluno. Caso a família não queira levá-lo à escola, o estudante pode acompanhar as aulas pelo sistema remoto. O conteúdo será o mesmo.
A volta às aulas presenciais foi considerada como sendo uma medida precipitada pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), que representa os professores da rede pública, e pelo Sindicato dos Professores de São Paulo (Sinpro), que representa a rede particular. As duas entidades recomendam aos professores a continuidade das aulas via remota até que toda a comunidade educacional da rede pública e privada seja vacinada, tendo como base a liminar concedida no dia 14 passado pela juíza Simone Gomes Rodrigues Casoretti, da 9a Vara de Fazenda Pública, de São Paulo.
A vacinação contra a covid-19 em todos os professores e trabalhadores de diversas áreas da Educação é ponto fundamental para os sindicatos. As duas entidades alegam que apenas 48% dos professores têm mais de 47 anos e, mesmo assim, eles estão ainda recebendo a primeira dose da vacina. Além dos 52% que ficaram de fora da vacinação na fase atual, as entidades querem imunização de seguranças, porteiros, pessoal da limpeza e da cozinha, dentre outros funcionários das escolas.
Apeoesp e Sinpro recorreram à Justiça contra o trabalho presencial e questionaram o decreto 65.384, de 17 de dezembro de 2020, que havia autorizado as aulas presenciais nas fases vermelha e laranja e ampliado os limites de alunos nas fases amarela e verde. Até então, vigorava o decreto 65.061, de 13 de julho de 2020, que proibia as aulas presenciais nas fases vermelha e laranja e estabelecia limites mais rígidos nas demais fases.
Estado
A Secretaria Estadual de Educação entrou com pedido na Justiça para tentar derrubar a liminar e manter o retorno presencial. Em nota, a secretaria alega que as vacinas vão chegar a todos, porém depende da remessa de novos lotes. Por enquanto, existem medidas de restrição. Além de permitir até 35% da capacidade, as escolas estaduais e particulares devem respeitar o distanciamento de 1,5 metro entre os alunos nas salas de aula e manter as janelas abertas. Outras medidas são: uso de álcool gel em todos os ambientes e troca de máscara a cada duas horas. Professores e funcionários devem utilizar também protetor facial (face shield). As escolas devem estabelecer, ainda, turmas para o recreio e evitar aglomerações, higienizar banheiros a cada turno e proibir acesso aos bebedouros e aos pátios.
Vale lembrar que poucas aulas presenciais ocorreram neste ano nas escolas estaduais e particulares porque houve a suspensão das atividades presenciais no dia 3 de março por decisão municipal, quando a ocupação de leitos nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) chegou a 95% em Campinas, além dos altos índices de contaminação e mortes por covid-19. Nas escolas municipais não ocorreram ainda aulas presenciais neste ano. Os alunos da rede municipal deverão retornar a partir do dia 26 de abril, excluindo-se a educação infantil, que será dia 3 de maio.
Retorno Tímido
Ontem, a presença dos alunos foi tímida nas escolas estaduais. Na Escola Estadual Culto à Ciência, por exemplo, aproximadamente 12% dos alunos foram às aulas presenciais porque a escola definiu escalas de plantões de dúvidas, restringindo cada dia da semana a um ano específico e atendendo também alguns casos de alunos que não conseguiram utilizar o sistema remoto.
O aluno Caio Henrique e a colega de classe Giulia Marcelos, ambos do 3o ano, disseram que começaram ontem a fazer os atendimentos de plantão de dúvidas que estavam sendo realizados anteriormente via internet. "A escola tem um grupo de acolhedores, de aproximadamente 50 alunos, que fazem este monitoramento em plantões de dúvidas. Nós dois integramos este grupo e, com o retorno das aulas presenciais, viemos para atender as demandas", comentou Giulia. "Mesmo assim, o número de alunos nas aulas é reduzido a 35%. A expectativa é de que haja vacina o mais rápido possível para todos, para um retorno à normalidade", comentou Caio.
Lilian Ribeiro, do 1o ano do Culto à Ciência, disse que a volta às aulas presenciais são insubstituíveis. "A via remota é útil, mas não é o mesmo que ter aulas presenciais, pois a gente pode solucionar as dúvidas de uma forma mais rica. É mais fácil o esclarecimento. Eu, por exemplo, não estou assistindo às aulas pelo Centro de Mídias e faço só pelo Class Moodle as atividades propostas pelos professores. É ruim porque tem alguns pontos que eu não sei e acabo pesquisando por conta. Isso não é a mesma coisa que ter um professor para explicar", comentou.
Na Escola Estadual Carlos Gomes, o retorno às aulas chegou a 25% da capacidade de atendimento aos estudantes. Tainara Soares Cardoso de Andrade, do 1o ano da Escola Estadual Carlos Gomes, apoiou o retorno. "Tudo está sendo feito da melhor forma possível para evitar contágio e as aulas presenciais são fundamentais, principalmente para se tirar dúvidas diretamente com os professores", afirmou.
Sistema de ensino híbrido continua sendo oferecido
Atividade remota é mantida para atender aluno que prefere ficar em casa
Nas escolas particulares a média da adesão à retomada das aulas presenciais foi de 25%, segundo dados do Sindicato de Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo (Sieeesp). Em nota, a entidade destacou que Campinas segue a média de adesão verificada na maioria dos municípios do Estado. "Praticamente a região toda de Campinas retornou. Algumas cidades já tinham retornado há uma ou duas semanas atrás e o comparecimento segue a média de 25% dos alunos, a maioria do ensino infantil", comentou Antônio Francisco dos Santos, diretor da Regional de Campinas do Sieeesp. Ele destacou que as escolas particulares estão bem preparadas para o retorno desde o ano passado. "Agora é tentar ajudar os alunos na defasagem e nos problemas psicológicos", disse.
A rede de escolas Raphael Di Santo e Vivendo e Aprendendo reforçou as medidas de segurança e os protocolos para o retorno das aulas presenciais ontem. Ricardo Falco, diretor pedagógico do RDS Swiss, no Swiss Park, destacou a importância dos alunos manterem o contato mais próximo com os colegas e viver neste ambiente da escola. "Entendemos o momento atual, respeitamos, mas acreditamos que a socialização seja fundamental para o desenvolvimento das crianças", apontou.
Falco lembrou que todas as medidas foram redobradas nas três unidades da rede Raphael Di Santo e no colégio Vivendo e Aprendendo. "Todas as unidades estão preparadas para receber as crianças de forma presencial, pois já cumprem os protocolos sanitários desde o ano passado", explicou. "Os nossos colaboradores sabem como agir e estão preparados para receber as crianças e orientá-las a manter o distanciamento, a fazer o uso correto das máscaras, a higienizar as mãos com água, sabão e álcool em gel", reforçou o diretor.
Mesmo com o retorno das atividades presenciais, as escolas estão mantendo o sistema híbrido, ou seja, também vai ser possível assistir às aulas de forma on-line. No Colégio Progresso Bilíngue, no Cambuí, o retorna às aulas presenciais foi também no formato híbrido, de acordo com as orientações determinadas para a fase do Plano São Paulo. A unidade está seguindo os protocolos de segurança recomendados pelos órgãos de saúde e da Prefeitura de Campinas, contando ainda com os serviços e recomendações do Hospital Sírio Libanês, com sede em São Paulo, para cuidar de todas as regras de biossegurança.
A direção da escola explicou que ao longo de 2020 foi construído um modelo sólido de escola híbrida, com atividades online (não presencial) e off-line (presencial) para alunos e pais; e que ao longo deste ano a equipe pedagógica continuará com uma organização de trabalho que garanta a qualidade do atendimento para quem está na escola e para quem está em casa. Marina Pettená, do 1o ano do Ensino Médio do Progresso, disse que aguardava com ansiedade a volta às aulas presenciais. "O sistema de ensino via home é muito bom, mas as aulas presenciais são muito importantes para resolver as dúvidas diretamente com os professores e, além de tudo, é muito bom poder conviver com os colegas de sala", afirmou.
Rede municipal
Na rede municipal, a volta será dia 26 de abril com o ensino fundamental; educação especial; Educação de Jovens e Adultos (EJA); Ceprocamp e Fumec. Já as atividades nas pré-escolas municipais serão reiniciadas em 3 de maio. A capacidade máxima será de 35% nas salas de aula e a presença dos alunos será facultativa. As 207 escolas da rede municipal estão preparadas para receber os 68 mil alunos matriculados na Educação Infantil, Ensino Fundamental, EJA (Educação de Jovens e Adultos), Profissionalizante e de Qualificação Profissional. Cada aluno receberá um kit contendo quatro máscaras não descartáveis e um vidro individual de álcool gel. Os professores, além das máscaras, também contarão com protetor facial (face shield).