CONSCIÊNCIA AMBIENTAL

Escola e comunidade lançam campanha ‘Esponja do Bem’

Iniciativa tem por objetivo arrecadar e dar destinação correta a 500 esponjas de uso doméstico; material leva até 90 anos para ser decomposto no ambiente

Cibele Vieira
18/11/2023 às 13:03.
Atualizado em 18/11/2023 às 19:39
Integrantes do Grêmio Estudantil da Escola Estadual Luiz Gonzaga Horta Lisboa foram de classe em classe para falar sobre a campanha e a importância da reciclagem das esponjas (Divulgação)

Integrantes do Grêmio Estudantil da Escola Estadual Luiz Gonzaga Horta Lisboa foram de classe em classe para falar sobre a campanha e a importância da reciclagem das esponjas (Divulgação)

Um item comum e indispensável em qualquer casa, a esponja de cozinha pode ser muito prejudicial ao meio ambiente. Quando descartada no lixo, ela pode levar até 90 anos para ser decomposta. Entretanto, se for encaminhada para centros de reciclagem específicos, pode se transformar em matéria prima para produção de bancos, vasos para plantas, lixeiras, pás de lixo e até suportes para notebooks. Essa informação está incentivando os alunos da Escola Estadual Luiz Gonzaga Horta Lisboa, localizada no Jardim Myriam, em Campinas, a participar de um desafio no mês de novembro: arrecadar 500 esponjas usadas para encaminhar a uma empresa especializada em soluções para resíduos de difícil reciclabilidade. É a campanha "Esponja do Bem", que envolve várias parcerias. 

O projeto foi lançado no início do mês com o desafio de ter a meta alcançada até o dia 30 de novembro. Mas a campanha tende a se tornar permanente, como explica Liliane Cristiana Lenço Custódio da Silva, mãe de duas alunas da escola e que levou a ideia para ser discutida com o Grêmio Estudantil. "Em casa, temos o hábito de separar o lixo para reciclagem, mas soube que essas esponjas não podem ser colocadas nem no lixo comum nem no reciclável. Então, fui saber mais sobre o assunto e me deparei com informações às quais nem todo mundo tem acesso, por isso conversamos com outras pessoas e decidimos implementar o projeto, afinal temos que construir um futuro melhor e incluir esses conceitos sustentáveis na formação de nossas crianças", relata. Os integrantes do Grêmio lembram ainda que essas esponjas são fabricadas usando material não renovável, derivado do petróleo.

A Escola Estadual Luiz Gonzaga Horta Lisboa atende cerca de 400 alunos do Ensino Fundamental na região do Jardim Myriam, um bairro popular localizado às margens da rodovia Campinas-Mogi Mirim, com entrada logo depois do loteamento Alphaville. O tema ambiental está presente nas atividades desenvolvidas pela instituição, que acaba inclusive de fazer um plantio de árvores no seu entorno. Éderson Costa Briguenti, professor de Geografia, explica que o projeto tem uma relação forte com o papel da escola em motivar essas ações, envolvendo a comunidade. "Os alunos do Grêmio estudaram o ciclo das esponjas e deram uma verdadeira aula nas salas, compartilhando o conhecimento com os demais alunos, incentivando o descarte correto e envolvendo as famílias com essas informações", conta. 

Após essa ação, os alunos já começam a estudar a substituição das esponjas plásticas por versões vegetais, inclusive levando sementes que serão plantadas nos muros da do colégio. Éderson salienta que "a escola tem esse poder de mobilizar ações que muitas vezes nascem em discussão nas salas de aula. Quando tomam corpo, chegam até as famílias e são capazes de provocar mudanças de hábitos e grandes projetos que transformam o nosso cotidiano". Pare ele, é esse papel pedagógico que os professores buscam, usando o conhecimento mais conceitual em torno de questões socioambientais para aplicar em ações práticas que geram mudanças e, principalmente, "tirando essa questão ambiental do foco global e trazendo para o dia a dia da nossa comunidade". 

O envolvimento dos estudantes no tema foi fundamental para alavancar o projeto. Leonardo Ivanoff Teixeira, de 14 anos, integra o Grêmio Estudantil e junto com outros alunos percorreu todas as salas de aula para motivar a participação na campanha. "É um tema com certa importância, pois ajuda e orienta o descarte correto das esponjas para que não haja contaminação do solo e nem proliferação de novos fungos e bactérias, além do fato de que, para se decompor na natureza, esse material demora aproximadamente 100 anos", comenta. Ele conta que as apresentações feitas nas salas de aula tiveram informações detalhadas sobre o projeto. Ele espera que isso ajude a ampliar a cooperação de todos. Um cesto com cartaz sobre a campanha "Esponja do Bem" foi instalado em um corredor estratégico da escola e outro em um mercado tradicional do bairro, com a intenção de ampliar a arrecadação. 

Um dos parceiros da campanha é o grupo chamado de "Cuidadores da APP do Jardim Miriam", formado por moradores de bairros da região, uma comunidade heterogênea, de diferentes classes sociais, mas que comunga o mesmo objetivo: salvar a área da degradação. Eles cuidam de aspectos ambientais da Área de Preservação Permanente (APP) e preparam o local para se tornar, futuramente, um parque linear (trabalho premiado em 2021 pelo Prêmio de Responsabilidade Ambiental Rac-Sanasa). Helena Whyte, uma das moradoras que participa do movimento, explica que os cuidadores são referência no bairro sobre as questões ambientais. "Por isso fomos convidados a participar da comissão que conduz o projeto de arrecadação de espojas, formada por uma mãe, um professor, os integrantes do grêmio Estudantil e nosso grupo". 

NOVA VIDA ÀS ESPONJAS 

Fabricadas de espuma polimérica e poliuretânica, as esponjas são difíceis de serem recicladas, por isso a principal fabricante desse produto no Brasil criou um programa de logística reversa para viabilizar o reuso desse material. Por esse programa, que é nacional, podem ser entregues esponjas usadas que são enviadas para a TerraCycle. A empresa, que atua em 21 países, é especializada em "reciclar o não reciclável" e há mais de 20 anos tenta encontrar novas soluções e usos para resíduos considerados difíceis. No caso das esponjas, ela paga a postagem do material enviado pelo correio e são aceitas esponjas de uso doméstico de qualquer marca. Além das esponjas de lavar louças, podem ser incluídas esponjas de maquiagem, colchões, enchimento de almofada, de travesseiro e solados de sapato. Em Campinas, é possível consultar os pontos de coleta no site www.terracycle.com/brigada-de-esponjas-scotch-brite.

Estima-se que no Brasil são descartadas anualmente cerca de 360 milhões de esponjas. Esse esquema de reciclagem especial é pioneiro no país e foi implantado em 2014 em parceria com a Scotch-Brite e a TerraCycle. Esta foi a primeira iniciativa no mundo a desenvolver um programa voltado à logística reversa e reciclagem de esponjas. Para viabilizar o processo, foi necessário desenvolver uma tecnologia especial que envolve moagem, trituração em partículas ultrafinas e derretimento em altas temperaturas, para depois criar uma espécie de espaguete de plástico, cortados e transformado em grânulos chamados "pellets". Esse produto é reintroduzido como matéria prima na cadeia produtiva e usado na indústria do plástico para criar outros objetos. 

O programa é responsável por reciclar em média 350 mil esponjas por ano e conta com um crescimento anual de coleta de cerca de 22%. Ao todo, já recebeu mais de 2,7 milhões de esponjas de cerca de 1,4 milhões de consumidores brasileiros diretamente engajados com o programa. O consumidor interessado em destinar sua esponja ao descarte deve se dirigir a um dos postos de coleta e fazer a entrega ou enviá-las gratuitamente pelos Correios, solicitando uma etiqueta pré-paga no site da TerraCycle. Para entrega nos pontos públicos de coleta não há quantidade mínima. O programa tem ainda um viés social, pois ao enviar as esponjas para reciclagem, os coletores acumulam pontos que são convertidos em doações financeiras para escolas públicas ou instituições sem fins lucrativos, definidas pelos próprios participantes. Cada quilo de esponja coletada equivale a R$2,35. 

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