Estudantes puderam conhecer ontem a estrutura da unidade e vivenciar experiências laboratoriais no evento “Ilum de Portas Abertas”
Para ingressar na Ilum é necessário utilizar a nota do Enem e manifestar interesse: são apenas 40 vagas por ano, metade para alunos de escola pública (Denny Cesare)
A Escola de Ciência do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), intitulada de Ilum, abriu as portas para estudantes do ensino médio ontem em sua sede no bairro Fazenda Santa Cândida, em Campinas. Desenvolvido pelos próprios estudantes da graduação de Ciência e Tecnologia, que organizaram 17 projetos interativos para o público, o intuito do evento foi aproximar jovens interessados em carreiras relacionadas à biologia, ciência de dados, física, química e matemática.
Em um ambiente acolhedor e instigante, os visitantes puderam viver experiências laboratoriais. Uma das que mais atraiu a atenção dos jovens foi a análise de DNA do morango, mas o evento contou também com outras atividades, desde uma que demonstrava a utilização de nano microscópios para análise de materiais até outra que incentivava a reflexão sobre os impactos do aquecimento global na sociedade e economia. “Os visitantes encontraram atividades que envolvem as mais diversas áreas da ciência que são ensinadas na Ilum.”, afirmou o professor Vinícius Francisco Wasques, organizador do evento. “É muito bom conseguir transmitir o conhecimento que nós adquirimos aqui para as pessoas de várias idades”, completou o aluno Enzo Januzzi.
As atividades ocorreram entre as salas, laboratórios e áreas comuns do prédio, todas orientadas e dirigidas pelos estudantes da graduação. Aluno do segundo ano do ensino médio, Enzo Zacche, relatou ter gostado da experiência. “Eu me interesso por muitas áreas. Aqui (no evento) houve essa questão interdisciplinar. Eu gosto muito de química, física, ciência da computação”. Outro estudante que também está no segundo ano do ensino médio, Daniel Horiuche, contou que pretende cursar Engenharia na graduação e aprovou o experimento com o microscópio de força atômica. "Provavelmente vou me inscrever aqui também", revelou.
Além dos alunos, os pais que acompanhavam os filhos também aproveitaram a visita. Milton Rodrigues saiu de Santa Bárbara d'Oeste para levar a filha, que pretende seguir na área de engenharia química na graduação, ao Ilum de Portas Abertas. “Estamos muito felizes com a experiência, o atendimento dos alunos foi muito bom e a estrutura tem muita qualidade”. Da cidade de Hortolândia, Gisele Padella também levou a filha, estudante do terceiro ano do médio, para a imersão no laboratório de química. “Ela está apaixonada. No fim do ano ela vai prestar Unicamp e Unesp, mas acho que agora a vontade é tentar uma vaga aqui também.”
A Ilum é uma escola de ensino superior gratuita financiada pelo Ministério da Educação (MEC) e integra o CNPEM. A graduação em Ciência e Tecnologia tem duração de três anos e oferece aulas em tempo integral nas áreas de Ciências da Vida, Ciência da Matemática, Ciência de Dados, Inteligência Artificial, Humanidades e Empreendedorismo. “A nossa proposta é formar pesquisadores que estejam diretamente em contato com o CNPEM, e hoje estamos mostrando para a sociedade os projetos que os alunos desenvolvem em parceria com os professores”, comentou Wasques.
O processo seletivo é diferente do modelo tradicional de vestibular, onde o aluno disputa uma vaga de graduação diretamente com outros candidatos a partir da nota geral da prova. Para ingressar na Ilum, o interessado deve utilizar a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) mais uma manifestação de interesse por uma vaga. Após essa etapa, são selecionados 250 alunos que participarão do processo de entrevista que resultará nos 40 convocados anuais, 20 oriundos de escola pública.
METODOLOGIA ATIVA
Diferente do tradicional formato de lousa, professor e alunos, o ambiente multidisciplinar de metodologia ativa é composto pela participação direta dos alunos no processo de aprendizagem. Os inscritos no curso passam por todas as disciplinas e naturalmente se aproximam das áreas de maior interesse. “Desenvolvemos uma afinidade com cada área, então voluntariamente apresentamos para o docente responsável o projeto que queremos desenvolver. É um processo mais orgânico de aprendizagem", detalhou a aluna Katarina Vilarins que saiu de Brasília para estudar na Ilum.
O processo pedagógico não consiste no tradicional modelo de aula expositiva. Os alunos são inseridos em um modelo colaborativo, que é quando o professor inicia um tópico teórico que será desenvolvido pelos graduandos dentro dos laboratórios. Dessa maneira, a avaliação ocorre de maneira formativa, levando em consideração o desempenho do estudante no processo de realização dos projetos. “Esse é o grande diferencial: emancipar o aluno unindo atividades experimentais com trabalho colaborativo para que consigamos desenvolver a autonomia do conhecimento”, explicou o coordenador da Ilum Nelson Studart.
Tal metodologia implica em dimensionar a complexidade dos problemas reais, fora dos muros escolares, que inevitavelmente se conectam com as várias áreas do conhecimento, como explicou a aluna oriunda do Espírito Santo, Geovana Bettero, dentro do projeto que estuda os efeitos do aquecimento global. “Temos de entender o mundo como um todo. Dentro disso que apresentamos, existem questões físicas, químicas, a vida marinha ligada à área da biologia e os impactos na humanidade. Não são delimitações exatas”, ressaltou a capixaba.
O estudante do município de Barra do Corda, no Maranhão, Davi José Araújo, ponderou que a experiência educacional, por meio das metodologias ativas, é transformadora para os professores, uma vez que um problema apresentado por uma área específica pode encontrar diferentes resoluções através do processo multidisciplinar. “É um desafio para os professores, que vieram de um processo educacional tradicional. Eles levam para a comunidade científica o que aprenderam com a gente, com outras abordagens, e nós formamos uma base acadêmica que vai encontrar novos formatos de pensamento.”
O organizador do evento, Wasques, complementou que o aluno gasta muito tempo fora da sala de aula para entender o conteúdo exposto no modelo tradicional de educação. A eficiência é maior, na visão do professor, quando as equipes conseguem debater o problema proposto e apreender os conhecimentos em meio ao processo de resolução. “Até porque é um curso de três anos com o conteúdo de um curso de quatro, ou seja, é um curso muito denso, por isso escolhemos essa metodologia”. Questionado sobre a possibilidade desse modelo educacional ser mais utilizado dentro da educação brasileira, o professor respondeu positivamente. “Realmente acreditamos nisso, porque chegou o momento em que o ensino tradicional não cria mais cientistas. A ideia é conseguir cativar outras instituições a adotarem esse modelo.”
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