HISTÓRIA

Escavações revelam parte de alicerce da Igreja do Rosário

Base do templo construído em 1817 foi encontrada durante obras de revitalização da Avenida Francisco Glicério: igreja foi demolida em 1956 para o alargamento da Glicério e da Avenida Campos Salles

Maria Teresa Costa
28/06/2015 às 19:17.
Atualizado em 23/04/2022 às 09:17
Parte dos alicerces da Igreja do Rosário, construída em 1817, encontradas durante as obras de revitalização da Avenida Francisco Glicério (  Divulgação)

Parte dos alicerces da Igreja do Rosário, construída em 1817, encontradas durante as obras de revitalização da Avenida Francisco Glicério ( Divulgação)

Parte dos alicerces da Igreja do Rosário, construída em 1817, foram encontrados neste domingo (28) por operários que trabalham nas obras de revitalização da Avenida Francisco Glicério. Tijolos e pedras da base da antiga igreja, que foi demolida em 1956 para o alargamento da Glicério e da Avenida Campos Salles, foram localizados durante a abertura de valeta para troca da rede de água e esgoto que cruza a Avenida Campos Salles. Feita a troca, a valeta foi fechada e o trânsito liberado. "Agora sabemos que há remanescentes da construção”, disse o arquiteto da Coordenadoria Setorial do Patrimônio Cultural (CSPC), Luiz Antônio Aquino, que vem acompanhando as obras. A igreja, segundo ele, ocupava uma área que chegava até a segunda faixa da esquerda da Campos Salles e a terceira faixa da direita da Glicério. As duas avenidas foram alargadas como parte do plano de melhoramentos urbanos de Prestes Maia. Durante a semana, enquanto as obras ocorriam na calçada da Praça Guilherme de Almeida, em frente ao Palácio da Justiça, foram localizados fragmentos de ossos – uma análise ainda será feita para confirmar se são de humanos. Mas no local onde foram localizados, próximos da Rua General Osório, existiu um cemitério no século 19 e que ficava na lateral da Igreja do Rosário. Todo o material encontrado foi fotografado, mapeado para o registro histórico e para que, no futuro, se decida o que fazer. Até agora, os achados históricos de Campinas têm ficado apenas no registro, sem oportunidade para que a população possa vê-los. Duas escavações anteriores, da praça atrás da Catedral e na Praça Antonio Pompeo, onde está o monumento-túmulo de Carlos Gomes, encontraram alicerces dos teatros Carlos Gomes e São Carlos e da Casa de Cadei e Câmara. Os alicerces remanescentes foram fotografados, mapeados e as escavações voltaram a ser fechadas, sem que os moradores de Campinas tenham oportunidade de visitação, como num museu a céu aberto. "Nosso problema é que nossa história é recente e não há um envolvimento grande da população com a preservação da história. As pessoas gostam de saber da história, de ler a respeito, mas se envolvem pouco com a preservação. Não chega a ser surpresa encontrar vestígios da igreja, já que ela foi demolida há quase 60 anos, mas é importante preservar esses alicerces de uma forma que possam ser vistos. Há muitas técnicas em que você consegue manter o trânsito, a circulação de pedestres e, ao mesmo tempo, deixar a história à vista”, afirmou o historiador José Henrique Saraiva. Igreja para os negros O pesquisador Valdir de Oliveira, que vem acompanhando as obras, tem interesse na preservação da história da Igreja do Rosário, que era frequentada pelos negros. Quando Campinas foi fundada, numa igreja de pau a pique com cobertura de sapê ocorriam as práticas religiosas restritas aos homens brancos, livres e proprietários de terra, no local onde hoje está a Basílica do Carmo. A Igreja do Rosário, quando surgiu, possibilitou que a população negra, composta por escravos ou ex-escravos libertos, tivesse acesso aos sacramentos e à religião católica. Os primeiros templos edificados na cidade, por não terem técnica apurada para construções de grandes edifícios, acrescido das ocorrências advindas de intempéries, colaboraram para que os templos arruinassem em curto espaço de tempo. E foi a igreja do Rosário, ao longo de sua existência, uma das que mais sofreu reformas e modificações; a primeira delas ocorreu no ano de 1851. Em 1887, suas torres tiveram que ser demolidas por medida de segurança, uma vez que estavam em estado precário, colocando em risco a vida dos fiéis. Somente em 1928 é que foi construída uma nova torre. A demolição, em 1956, fez parte da implantação do Plano de Melhoramentos Urbanos de Prestes Maia, que estabelecia o alargamento de diversas ruas e avenidas, dentre as quais estavam a Campos Sales e a Francisco Glicério.

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