Candidato defende maior autonomia das regiões distantes do Centro: o petista tenta pela 2ª vez assumir o Palácio dos Jequitibás, e garante que é a última tentativa
Marcio Pochmann, candidato à Prefeitura de Campinas pelo PT (Dominique Torquato/AAN)
Desconhecido do eleitorado quando disputou a Prefeitura de Campinas pela primeira vez, em 2012, o economista Marcio Pochmann (PT), de 54 anos, surpreendeu e foi ao segundo turno, sendo derrotado pelo prefeito Jonas Donizette (PSB). Agora, com maior capital eleitoral, o petista tenta mais uma vez assumir o Palácio dos Jequitibás, e garante que esta será sua última tentativa de assumir a Prefeitura. Pochmann propõe uma mudança no modelo de gestão e diz que — se eleito — pretende levar infraestrutura para as regiões mais afastadas. Segundo ele, a falta de equipamentos públicos na periferia aumenta a pressão sobre o transporte público e dificulta a vida da população, que precisa se deslocar para a região central em busca dos serviços públicos. Confira os principais trechos da entrevista com Pochmann, que encerra a série especial do Correio Popular com os nove prefeituráveis de Campinas. Correio - Em 2012, quando disputou a Prefeitura pela primeira vez, você era pouco conhecido. Hoje tem um capital político consistente. Suas chances hoje são maiores que há quatro anos? Pochmann - Essa eleição é diferente de quatro anos atrás. De um lado pelo que ocorreu no País, pela ameaça à democracia, recessão que o País está vivendo e próprio contexto internacional. Sabemos que o eleitor termina escolhendo seu candidato em função da realidade local, mas tem impactos e repercussão do quadro nacional. A segunda diferença é que não é uma eleição como foi a de 2012, porque se trata de uma reeleição. E o regime de reeleição estabelecido no Brasil é praticamente uma eleição plebiscitária, que aprova ou não a continuidade daquele vencedor há quatro anos atrás. De certa maneira o eleitor vota por oito anos, sendo que na metade ele avalia ou não se deve prosseguir. Há quatro anos o cenário eleitoral estava mais aberto? O Pedro Serafim estava como prefeito, mas por um período curto e num momento muito turbulento. Agora temos um prefeito que governa por quatro anos e que faz a campanha com a máquina municipal. É muito desigual do ponto de vista do poder econômico, porque os candidatos de oposição não detêm as mesmas condições. E nesse sentido estamos posicionados de forma diferente, porque é minha segunda participação nas eleições. E diferente de quatro anos atrás, não há a presença do financiamento empresarial. Isso coloca muita força aos partidos e militantes. Nesse sentido, o Partido dos Trabalhadores tem uma trajetória de ter militantes mais aguerridos e engajados em relação aos outros partidos. Por isso é difícil ter uma avaliação precisa, é um quadro muito diferente de quatro anos atrás. Mas apesar de ter uma forte militância, o PT vive um momento delicado no cenário nacional. Essa rejeição pode, de certa forma, atrapalhar? Essa é uma pergunta recorrente, mas não é uma preocupação que temos visto por parte da população. O descrédito que o PT acumulou não é menor que o dos demais partidos. Numa eleição municipal o eleitor vota de acordo com o perfil do candidato e 80% declaram não ter partido. Dos 20% que declaram ter algum partido identificado, o PT tem 12%. O segundo partido tem só 6%. De uma maneira geral, não somos uma sociedade em que os partidos têm presença significativa de identificação. Mas há um problema grave que é o descrédito no sistema partidário brasileiro. O PT vive um momento de reorganização, até porque os erros que foram cometidos não são exclusivos do PT, mas certamente associados ao sistema político partidário. No período pré-eleitoral vocês chegaram a conversar com algum partido para formar coligação? Ou era um objetivo fazer chapa pura? O PT venceu duas eleições, com o Jacó Bittar e com o Toninho, praticamente sozinho. O Jacó foi sozinho e o Toninho com o PSTU. O fato de sair sozinho derivou do movimento que nós fizemos para buscar um programa de governo que fosse identificado com a perspectiva do partido. Fizemos uma discussão com alguns partidos em torno desse programa, mas na verdade o que a gente verificou é que as preocupações eram de outras naturezas. Acredito que isso acabou, de certa maneira, prejudicando o PT em outras administrações, inclusive da presidenta Dilma, que fez uma aliança muito ampliada e não se deu em torno de um programa. De certa forma é uma volta às origens do PT essa chapa pura? Origem é muito difícil, porque quando o PT foi fundado, há mais de três décadas, o País era muito diferente. Campinas era uma cidade industrial e hoje é uma cidade de serviços. É uma outra situação, mas não há dúvida que os princípios de organização em torno do local de trabalho e moradia vêm sendo incentivados como um princípio adequado e que deram sustentação para o PT ao longo desse tempo todo. Qual será a sua prioridade, se eleito? A cidade tem um problema central que é o modelo de gestão. Campinas quando se tornou emancipada de Jundiaí, no final do século XVIII, tinha 1.726 quilômetros quadrados e hoje tem 794 quilômetros quadrados. É uma cidade que vem reduzindo seu tamanho, porque o modelo de lá para cá é o que chamamos de centro-periferia. A cidade tem um centro e as demais parcelas se compõem como periferia dependentes desse centro. Essa forma de gestão centro-periferia, em que as regiões privilegiadas tenham praticamente o que há de melhor na cidade e a periferia tenham equipamentos precários, insuficientes e inadequados, terminam estimulando movimentos emancipatórios. Essa forma de gestão centro-periferia precisa ser enfrentada e é o centro da nossa gestão. Isso permitirá levar emprego perto de onde as pessoas moram. A ideia é levar a infraestrutura para as regiões mais afastadas da cidade? Exatamente. Quando precisa regularizar um imóvel ou registrar um filho, a pessoa vai ao cartório. A cidade tem 27 cartórios e 23 estão no Centro. Então tem uma pressão enorme para utilizar os meios de transporte. Temos 900 mil pessoas que se locovem por dia na cidade, 15% se locomovem a pé e o restante de automóvel ou ônibus. Essa pressão faz com que as pessoas tenham que sair do seu local de moradia até o Centro. Com esse novo modelo de cidade, as pessoas vão ficar mais próximas de casa e isso reduz a pressão sobre o transporte. Essa nova conexão de cidade permite utilizar melhor os recursos. Como será sua relação com a Câmara, se eleito? Sou um democrata e acho fundamental ter oposição. Não ter oposição leva ao quadro que vivemos na nossa cidade. Tem o esmagamento das minorias, a cidade não termina sendo discutida no Legislativo e praticamente não há fiscalização da administração. É plenamente possível fazer uma boa relação com a Câmara que não seja um puxadinho da Prefeitura. São papéis que devem ser executados. Sei que o Legislativo tem pessoas que tem o maior amor pela cidade e não optariam por fazer uma oposição meramente por fazer, a não ser por questões ideológicas e programáticas. Você é a favor de manter a administração de equipamentos públicos através de OSs e terceirizados? Temos um estrangulamento no modo de gestão. Inclusive, estamos apresentando dentro dessa nova concepção das novas matricialidades, uma alteração na forma da administração pública, que é muito arcaica. Tem uma organização de cima para baixo. Nos últimos três anos tivemos uma redução de vagas nas creches municipais, mas aumentou a presença das creches em espaços públicos administradas por OSs. É necessário fazer um balanço para ver a qualidade e a resposta que isso vem sendo feito. Acreditamos que é possível uma gestão diferente do que temos. O fato de você não ser esse político tradicional pode ser uma vantagem? Max Weber fazia uma separação entre o técnico e o político. O político quer convencer as pessoas de suas ideias, e o técnico está preocupado com a realidade. Me parece que há um certo cansaço do eleitor com relação às promessas. Mas talvez pode ter dúvidas em relação ao perfil como o meu, mais técnico. Essa é a segunda vez que vou participar, e a última, porque entendo que a política não é carreira, é doação. Estou em Campinas há 27 anos e gostaria de retribuir para a cidade meu conhecimento. Já tentei uma vez e vou tentar a segunda. Se não for feliz já encerro minha atividade. SAIBA MAIS MARCIO POCHMANN Partido: PT Idade: 54 anos Estado civil: Casado Naturalidade: Venâncio Aires (RS) Grau de instrução: Superior completo Profissão: Economista Patrimônio: R$ 1.632.375,00 Histórico político: foi secretário do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade de São Paulo na gestão Marta Suplicy. Em 2012 disputou sua primeira eleição ao concorrer à Prefeitura de Campinas, terminando em segundo lugar.