OPORTUNIDADE DE TRABALHO

Envelhecimento da população aquece mercado de cuidador

Em dez anos, o número de profissionais do setor teve um aumento de 547%

Israel Moreira/ [email protected]
18/07/2023 às 09:08.
Atualizado em 18/07/2023 às 09:08
A enfermeira Márcia Regina Tavares Monacci cuida de idosos há 12 anos e cinco meses: "Temos a percepção de quão importante é o trabalho dos cuidadores” (Rodrigo Zanotto)

A enfermeira Márcia Regina Tavares Monacci cuida de idosos há 12 anos e cinco meses: "Temos a percepção de quão importante é o trabalho dos cuidadores” (Rodrigo Zanotto)

Com o aumento da expectativa de vida do brasileiro nos últimos anos, a profissão de cuidadores de idosos vem ganhando cada vez mais espaço no mercado de trabalho. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) do Ministério do Trabalho e Previdência, no período de dez anos entre 2012 e 2022, o número de profissionais na área saltou de 5.263 para 34.051, representando um aumento de 547%.

Em Campinas, a procura por cursos de cuidadores de idosos é uma das mais altas no Centro de Educação Profissional "Prefeito Antonio da Costa Santos" (Ceprocamp). Para este segundo semestre, foram oferecidas 77 vagas distribuídas nas unidades do Centro, Vila Padre Anchieta, Jardim São Marcos e Campo Belo. Com exceção da unidade móvel do Padre Anchieta, que ainda possui sete vagas disponíveis das 30 iniciais, as demais já foram preenchidas na primeira semana de abertura das inscrições.

Aqueles que vivenciam diariamente os desafios e benefícios da profissão em Campinas reconhecem o poder que a companhia proporciona à população idosa. Márcia Regina Tavares Monacci, enfermeira e cuidadora de idosos há 12 anos e cinco meses, fundou uma empresa que recrutaprofissionais da área em Campinas e cidades vizinhas.

Segundo ela, "Temos a percepção de quão importante é o trabalho dos cuidadores devido à companhia, que muitas vezes é a única que os idosos possuem."

Márcia alerta para a dificuldade e confusão na compreensão das atividades de um cuidador de idosos. Algumas famílias confundem a profissão do cuidador com outras atividades, como fisioterapeutas, preparadores físicos, porteiros, motoristas, entre outras. Isso prejudica o reconhecimento e valorização do profissional.

Uma das cuidadoras de idosas da empresa de Márcia, Lucia do Carmo Borges de Azevedo, trabalha na área há 12 anos e também reconhece a importância fundamental de ter um profissional ao lado da população idosa. Segundo ela, "São cuidados que apenas um profissional da área pode oferecer. E para o profissional, o reconhecimento financeiro e social é fundamental."

O aumento da população idosa no Brasil tem levado a uma crescente demanda pelos serviços desses profissionais. Para ingressar na área, é necessário realizar cursos de especialização com duração de 80 a 160 horas, além de ter mais de 18 anos. A remuneração varia de acordo com as horas trabalhadas e o nível de qualificação.

Segundo o médico Vitor Hugo, responsável por uma clínica de geriatria, é crucial que esses profissionais tenham uma formação adequada para lidar com o perfil clínico do idoso e sua patologia. Ele destaca que a confiança e a intimidade que os pacientes idosos têm com os cuidadores são gratificantes, pois recebem constantemente feedbacks positivos dos familiares e dos próprios idosos, indicando a melhoria na qualidade de vida dos pacientes.

O aumento da população idosa no Brasil não apenas afeta as condições e capacitações dos profissionais, mas também os serviços públicos oferecidos pela Prefeitura de Campinas. O professor André Fattori, da área de Geriatria da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e membro da Diretoria da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, seccional São Paulo, destaca que o país enfrenta um momento crítico de aumento da longevidade, sem uma preparação social adequada. Ele afirma que há precarização das relações de trabalho e do sistema previdenciário, além de famílias menores e sem uma visão de política habitacional adequada para idosos dependentes ou que vivem sozinhos. Essa situação pode levar a uma crise no cuidado da saúde da pessoa idosa.

Na opinião do professor André, ainda há uma grande limitação na formação de recursos humanos na área. As Sociedades de Geriatria e Gerontologia têm defendido a necessidade de uma formação mínima nas faculdades que oferecem cursos de saúde. Ele questiona como é possível preparar um profissional hoje sem a devida preparação técnica para lidar com as especificidades do envelhecimento, principalmente considerando que nas próximas décadas, entre 2050 e 2060, a população idosa representará cerca de 25% da população total do país, superando o número de crianças e adolescentes. Ele finaliza destacando a importância de que os profissionais de saúde recebam uma formação adequada para atender a essa demanda.

A secretária de Assistência Social, Direitos Humanos e Pessoas com Deficiências de Campinas, Vandecleya Moro, ressalta que a Administração Municipal tem como prioridade garantir o bem-estar das pessoas idosas, fortalecendo parcerias com as seis Instituições de Longa Permanência (ILPIs) existentes, que oferecem cerca de 200 vagas para a população idosa acima de 60 anos em situação de vulnerabilidade e que não têm condições financeiras de arcar com os custos de cuidados permanentes. Ela afirma que, frequentemente, essas pessoas vulneráveis não têm familiares que possam garantir e preservar seus direitos como idosos, e acabam dependendo do apoio do município.Márcia Regina Tavares Monacci, enfermeira e cuidadora de idosos há 12 anos e cinco meses.

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