PRAÇA

Encontros de 'tribos' ganham força no CCC

Eventos nem sempre agradam vizinhos; para os grupos, são "alternativa à falta de lazer"

Jaqueline Harumi
18/11/2017 às 18:54.
Atualizado em 28/04/2022 às 16:40
Jovens reunidos no local: aparecimento de "pessoas estranhas", que usam espaço para beber, também é apontado por alguns frequentadores (Cedoc/RAC)

Jovens reunidos no local: aparecimento de "pessoas estranhas", que usam espaço para beber, também é apontado por alguns frequentadores (Cedoc/RAC)

Se por anos o Centro de Convivência Cultural de Campinas está abandonado, pelo mesmo período a população encontra em seu entorno alternativas para de fato conviver, mas que nem sempre agradam a vizinhança, como ocorreu no “Rolezinho de Halloween”, no início do mês. Não foi a primeira vez que os jovens se reuniram no local de sexta-feira à noite. Encontros também são comuns aos sábados e, ultimamente, às quintas-feiras, mas os frequentadores garantem que o “rolê”, que acabou com arrastão e quebra-quebra, foi exceção à regra. “A praça é do povo como o céu é do condor”, dizia o poeta Castro Alves. Imagine então a Praça Imprensa Fluminense, no coração do Cambuí, vizinho ao Centro da cidade? Organizadora, no Facebook, do “rolezinho” que reuniu cerca de 3 mil jovens, a estudante Vitória Lopes, de 17 anos, garante que a intenção era se divertir, como sempre acontece toda semana nos últimos dois anos que frequenta o local. “É um encontro que tem toda sexta-feira com todo tipo de gente e na maioria das sextas vou com um grupo de amigos da vida, um misto de amigos. Moro no Nova Europa e tem um pessoal do bairro, mas tem da Vila Marieta, tem gente até de Barão Geraldo”, descreve Vitória, que viu na praça uma opção de lazer gratuito, assim como seus irmãos mais velhos. “Desde a época dos meus irmãos, que têm 32, 29 e 20 anos, já existiam esses encontros, mas foram mudando os estilos.” Segundo a adolescente, assim que estava mais independente para sair de casa sozinha, e recebeu o convite de um amigo, não pensou duas vezes em ir para o “rolê”, que reúne no máximo 500 pessoas. “Fui, gostei do ambiente e das pessoas. Lá é um lugar grande e tem várias pessoas em seus grupos. Tem um grupo que curte um estilo de música, anda um pouco e você observa outro estilo, tem gente com violão, tem até batalha de rimas: é uma coisa eclética”, relata ela, que vai com amigos das escolas que estudou e que conheceu em festas, com idades entre 14 e 19 anos. Tímido, o estudante Carlos Henrique da Conceição Silveira Sina, de 18 anos, encontrou na Praça Imprensa Fluminense uma oportunidade de interagir com outros jovens que têm gostos em comum. “Frequento o Convivência há oito meses, porque vi uma roda de rima uma vez no ano passado, com o pessoal se expressando, e resolvi treinar em casa e participar”, relata o jovem, que adotou o nome Neno MC, inspirado num apelido de infância, para as chamadas “batalhas de rima”. “São 16 MCs nas batalhas, mas de público acaba tendo entre 40 a 60 pessoas. Em Campinas, vem gente de todo lugar. Também vem de Hortolândia, Indaiatuba, Paulínia e Valinhos”, afirma. Morador do Jardim Nova América, Carlos Henrique diz que frequenta o local geralmente com amigos que conheceu através das batalhas e, às vezes, com um amigo de bairro, e considera que há diversas formas de expressão. No entanto reconhece que novas pessoas, com atitudes que discorda, têm mudado a característica original dos encontros. “Estamos procurando nos reunir de quinta, porque de sexta vão muitas pessoas que não estão para ver o movimento ou adquirir conhecimento diferente: só para beber e se divertir.” Vitória, que notou a presença de muitas pessoas diferentes no “Rolezinho de Halloween”, acredita que trazer uma melhor estrutura para o espaço evitaria a presença de pessoas mal intencionadas e traria mais segurança. “Falta opção de lazer: esse é um dos únicos”, diz. “O pessoal que fez a baderna não está acostumado em aproveitar um evento gratuito, diferente, e não souberam aproveitar.”

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