Percepção foi captada por pesquisa realizada pelo Ibef Campinas; 69% dos entrevistados projetam aumento do faturamento ainda este ano
Fábrica de vinagre orgânico instalada em Indaiatuba: apostando no aquecimento da economia, empresa está investindo na compra de equipamentos e na ampliação da planta física para dobrar sua capacidade de produção (Rodrigo Zanotto)
As empresas da Região Metropolitana de Campinas (RMC) demonstram otimismo com o atual cenário econômico do país e planejam fazer investimentos, manter ou contratar funcionários e trabalham com expectativa de aumento nas vendas. É o que revela a pesquisa econômica 2023 do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef) Campinas Interior Paulista, que mostra uma mudança em relação às expectativas negativas que havia no final de 2022 e início deste ano. Passados praticamente seis meses do novo governo federal, 69% dos entrevistados preveem aumento no faturamento; 22%, manutenção; 83% devem manter ou contratar novos funcionários; 95% pretendem investir no biênio 2023/2024; 53% acreditam no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e 22% estimam que a economia terá desempenho igual ao do ano passado.
"Estamos no caminho certo e há bastante otimismo em relação à economia, principalmente no segundo semestre", disse o presidente do Ibef Campinas, Valdir Augusto de Assunção. Para ele, a alteração nas previsões ocorreu principalmente pela aprovação do novo arcabouço fiscal pela Câmara dos Deputados e que agora está em tramitação no Senado, onde também deve passar sem maiores polêmicas. O dirigente empresarial aponta que a medida garante o controle dos gastos públicos e, consequentemente, da inflação.
Outro fator positivo que contribuiu para uma avaliação mais positiva foi o crescimento de 1,9% do PIB, que é a soma de todos os bens e serviços finais produzidos, no primeiro trimestre de 2023 em relação ao período anterior. Na comparação com os três primeiros meses de 2022, a alta foi de 4%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, a inflação está caindo e há a expectativa de queda nos juros. Atualmente, a Selic (a taxa básica) está em 13,75%, com o Conselho de Polícia Monetária (Copom) se reunindo na terça-feira (20) e hoje para definir se mudará esse índice. Para o presidente do Ibef, esses indicadores já resultaram em queda do dólar e alta da B3 (Bolsa de Valores), refletindo o otimismo do empresariado e do mercado financeiro.
OUTROS DADOS
Entre os executivos que responderam à pesquisa, 38% atuam na indústria, 51% no setor de serviços, 7% no comércio e 4% no agronegócio. O levantamento mostra que 27% esperam um aumento de até 10% nas vendas este ano. Parcela semelhante acredita em um avanço da ordem de 10% a 20%. Outros 9% dos consultados estimaram um incremento entre 20% e 30%. Para 6%, esse índice ficará acima de 30%, enquanto 22% disseram que os negócios permanecerão no mesmo patamar. Entre os entrevistados, somente 9% preveem redução no faturamento.
De acordo com a pesquisa, 45% do empresariado pretende investir para obter ganho de produtividade e redução de custo, 25% em novas tecnologias e aprimoramento profissional, 20% na aquisição de novos equipamentos e na expansão da empresa, 4% mas mídias digitais e/ou e-commerce, 4% no treinamento da equipe de vendas e 2% em aquisição de negócios, joint ventures ou em alianças comerciais.
Uma fábrica de vinagre orgânico, de Indaiatuba, está investindo na compra de uma nova linha de envase e de um equipamento de produção, o acetador, o que dobrará a capacidade de produção. Além disso, está construindo um novo centro de distribuição, que aumentará em 50% a área construída, chegando aos 6 mil metros quadrados. De acordo com o diretor da empresa, Rodrigo Monteiro Margoni, a expansão resultará no aumento no número de funcionários em 20% nos próximos seis a oito meses.
Ele explicou que a empresa cresceu 35% em 2022 em função de lançamento de novos produtos e ampliação do mercado de atuação, prevendo a continuidade na alta das vendas nos próximos anos. "Em torno de 70% a 80% do vinagre é feito de álcool, mas está havendo o aumento da procura de vinagre de maçã e de outros orgânicos", disse Margoni. Para ele, os consumidores estão procurando produtos cada vez mais naturais. A fábrica comercializa hoje sua linha em todo o país.
Já uma empresa de microcrédito anunciou a ampliação em 30% de seu quadro de funcionários, com a contratação de 309 funcionários para setores como administrativo, atendimento, comercial, financeiro, recursos humanos e tecnologia. A empresa atua na Região Metropolitana, com unidades em Campinas, Sumaré e Santa Bárbara d´Oeste, além outras cidades. Parte das contratações é para a inauguração de mais 30 filiais ao longo dos próximos meses, chegando ao total de 134 unidades. A ampliação das atividades será nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Bahia, Ceará e Pernambuco.
A empresa aponta estar presente em 80% dos municípios brasileiros e conta com clientes em 4.186 das 5.570 cidades do país, atendidos pelas lojas próprias e por mais de dois mil parceiros comerciais. Segundo o CEO da empresa, Carlos Eduardo Navarro Ribeiro, a ampliação faz parte da estratégia de atuação "por meio da presença física, de parceiros e do digital, para que nossos produtos alcancem as populações de pequenas cidades, polos regionais e capitais." Fundada em 2013, a empresa oferece crédito pessoal de até R$ 15 mil, crédito consignado e outros produtos.
AVALIAÇÃO
Para o economista José Augusto Gaspar Ruas, coordenador do curso de Economia das Faculdades de Campinas (Facamp), o resultado da pesquisa do Ibef mostra um retrato do momento atual influenciado pela aprovação do arcabouço fiscal. "O governo conseguiu desatar os nós econômicos no curto prazo, os problemas que tinha para resolver. Com isso, conseguiu mudar a expectativa dos agentes econômicos, principalmente do mercado financeiro, e isso foi positivo", afirmou.
Ele considera que se o Planalto conseguir aprovar as reformas fiscal e tributária no segundo semestre, aumentará mais o otimismo em relação à economia. A pesquisa do Ibef mostra que 47% dos entrevistados consideram que a aprovação dessa reforma é a principal ação para reduzir o nível de desemprego no país, apesar de 53% acreditarem que a medida resultará em aumento da carga tributária e 43%, em redução.
Para gerar empregos, outros 16% defendem a realização de Parcerias Público-Privadas (PPPs) na infraestrutura, 13% apoiam a reedição do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) com incentivos fiscais/financeiros, 13% destacam a formação de profissionais de nível técnico e 11% priorizam investimento na educação básica.
Valdir Assunção aponta que hoje as indústrias trabalham com máquinas automatizadas e os trabalhadores precisam ter um conhecimento de informática para conseguir um emprego. Para o presidente do Ibef, os governos têm de promover esse treinamento ou os próprios trabalhadores tomarem a iniciativa de fazer cursos para se adaptarem às exigências do mercado de trabalho.
A pesquisa da entidade mostra que 50% dos entrevistados acreditam que a empresa está no nível intermediário de digitalização; 18%, avançado, e 22%, inicial. O levantamento aponta ainda que 78% dos participantes acreditam que o dólar fechará 2023 com cotação entre R$ 5 e R$ 5,50, 13% entre R$ 5,50 e R$ 6, enquanto 9% acham que a moeda norte-americana ficará abaixo dos R$ 5.
No entanto, o coordenador da Faculdade de Economia da Facamp acredita que o governo federal tem de vencer outros desafios para criar um ambiente mais robusto para gerar a expansão dos investimentos e criar empregos. José Augusto Ruas defende a implantação de uma política industrial de longo prazo com regras claras para as empresas e ações concretas de preservação do meio ambiente. "Entendo que não seria possível fazer tudo de uma vez, mas é preciso definir essas políticas para atrair os investimentos", afirmou o economista.