MEMÓRIA URBANA

Empresário coleciona restaurações de imóveis

Intenção é aliar a valorização de comércios com a preservação do patrimônio histórico da cidade

Jaqueline Harumi Ishikawa
23/09/2017 às 19:15.
Atualizado em 22/04/2022 às 18:11
José Martinez em um dos imóveis históricos restaurados; no destaque, obras em prédio antigo no Centro  (LEANDRO FERREIRA/AAN )

José Martinez em um dos imóveis históricos restaurados; no destaque, obras em prédio antigo no Centro (LEANDRO FERREIRA/AAN )

Paulistano criado em Campinas desde os 4 anos, o empresário José Carlos Machado Martinez, de 62 anos, tem se empenhado na aquisição e restauração de imóveis e está prestes a concluir mais um projeto. Franqueador da rede Ibiza e dono de três prédios antigos, sendo dois tombados, Martinez vê no trabalho uma oportunidade não só de valorizar as edificações, mas de preservar a cultura local. Seu primeiro investimento foi feito há 25 anos, com a restauração de uma antiga casa de operários na Rua General Osório, no Cambuí, imóvel que acabou tombado 16 anos depois, em 2008, mesmo ano em que um conjunto de dez antigos prédios comerciais das ruas Conceição e Barão de Jaguara foram tombados, dentre eles uma edificação que foi comprada por Martinez no ano passado e está em fase final de restauração — prevista para ser concluída em três meses. O empresário ainda possui um prédio datado de 1940, comprado há 2 anos e que ainda não começou a ser reformado. “Todo mundo debate a restauração e cada vez mais vejo as pessoas abandonarem a restauração. A preservação conserva a atividade humana naquele lugar. Eu transformei uma casa numa atividade humana comercial. A ideia é você acreditar que atividades comerciais em imóveis preservados são mais viáveis e têm um aspecto extremamente positivo que é o patrimônio”, justificou o empresário, que afirmou estar de portas abertas para visitação. “Recebemos estudantes desde o primário até a pós-graduação: faz parte do estudo cultural da cidade." Segundo o historiador Henrique Anunziata, da Coordenadoria Setorial de Patrimônio Cultural (CSPC) da Prefeitura de Campinas, o empenho de Martinez se destaca porque ainda nos dias atuais “há uma parte da sociedade que tem dificuldade em aceitar um bem histórico e cultural”. “Quando tomba-se automaticamente se desvaloriza o imóvel ou a área. Respeita-se e entende-se o valor da ação, mas não agregam no conhecimento e no valor financeiro este potencial.” Anunziata lembrou que esse tipo de pensamento vem da década de 1980, quando o Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc) foi criado. “De lá para cá melhorou muito, contudo ainda é visível. Por falta de conhecimento ou de interesse, não há questionamento de um modo geral de como é possível otimizar o tombamento, sendo que há leis de incentivo para tal.” Conforme a legislação, quem conserva ou mantém um bem tombado tem isenção de IPTU e ISSQN, e das taxas de aprovação de projeto nas obras de recuperação, além de restituição do potencial construtivo retirado com o tombamento para uso em outra edificação ou na própria área do bem tombado. O historiador detalhou que o imóvel de Martinez na General Osório tem estilo colonial — fachada sem distanciamento do nível da rua, poucas portas e muitas janelas de formato quadrangular em sequência e telhado alto com beiral. Ele integrava originalmente o prédio adjacente da Rua Antonio Cesarino, tombado em 2005, do qual foi separado no início do século XX, com estrutura de taipa e pau-a-pique e modificações posteriores. Quanto ao imóvel da Conceição, ele integra o conjunto de prédios do Centro Histórico de Campinas, com arquitetura que se comunica com a Catedral Metropolitana, finalizada nos anos de 1920, sendo que parte dos prédios são do início do século XX com fachadas originais, sem modificações substanciais. Maio e Costa Aguiar. Processos Em 30 anos de Condepacc, Campinas somou 355 processos de tombamentos, que podem incluir um ou diversos bens. Até o ano passado, os processos representavam 762 estruturas construtivas e ambientais, com maior concentração no Centro, datados entre 1872 a 1929, momento econômico cafeeiro. “Tratamos a sua historicidade, movimento social a que este pertenceu, contexto econômico, particularidades da estrutura, se foi a primeira com uso industrial ou comercial”, DISSE o historiador. Anunziata lembrou que a Coordenadoria Setorial do Patrimônio Cultural está aberta para consultas, análise de projetos, orientações e qualquer questionamento sobre o patrimônio, “único no Brasil com atendimento e acesso direto à população, com o acervo 100% digitalizado, podendo ser consultado por internet”.

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