É a primeira a usar essa matéria-prima — um dos principais produtos da agroindústria
Exequiel Bunge e Anderson Silva mostram instalações da empresa growPack em Vinhedo, cuja produção de embalagens teve início há dois meses (Rodrigo Zanotto)
Uma conversa entre amigos de infância que trabalhavam juntos no setor de eventos e música, em Buenos Aires, na Argentina, deu origem a uma empresa totalmente voltada à fabricação da primeira embalagem sustentável e compostável que tem como matéria-prima a palha de milho — um dos principais subprodutos da agroindústria. A growPack instalou-se em Vinhedo há pouco mais de um ano e já conseguiu grandes parcerias, como Ambev e iFood, iniciando a produção há duas semanas.
A utilização desse processo e matéria-prima possibilita uma tecnologia versátil que pode ser adaptada às fontes alternativas de biomassa, permitindo criar diferentes produtos de acordo com a necessidade do mercado.
A empresa se propôs a estudar a lignina e a celulose, que são os compostos orgânicos mais abundantes do mundo, para aprimorar as suas próprias funções naturais. A empresa foi fundada em 2018 na Argentina para estudar e desenvolver a nova tecnologia, que é 100% mecânica, ou seja, não há cozimento químico das matérias-primas. Por isso, é uma alternativa mais sustentável por reduzir pela metade a emissão de gases de efeito estufa em comparação com o papelão (baseado em ACV), promover economia de 25% de energia elétrica, reduzir em até 80% o uso de água e ter custos de produção mínimos. Na escala inicial, as soluções trazem preços competitivos em relação ao papelão e à fibra moldada importada, criando grandes perspectivas para maiores escalas.
São dois os primeiros produtos: para a Ambev, chamado de bioRing, é um suporte que encaixa seis latas de cerveja e substitui embalagens de plástico e de papel em uma produção continua. Já para o aplicativo de entregas iFood, estão sendo produzidos os chamados gBox, que servirão de teste para a entrega em domicílio. No total, para o app, foram encomendadas cerca de 50 mil embalagens que serão divididas entre oito restaurantes de Campinas. Com a gBox, a growPack já conseguiu atender restaurantes da região.
Inovação
Em 2019, a startup foi nomeada como um dos projetos mais inovadores da América Latina pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e pelo Instituto Tecnológico de Buenos Aires (ITBA). "Porém, veio a pandemia e tivemos que trabalhar remotamente. Nos cercamos de um bom time, com pessoas que estudavam o assunto, que entendiam do assunto. Nós tínhamos a ideia e a tecnologia, mas ainda não havia nenhum produto pronto, porque isso iria variar conforme os pedidos do mercado", explica Exequiel Bunge, um dos fundadores da growPack.
"A empresa busca por excelência e atitudes cada vez mais sustentáveis para o planeta, criando biomateriais, tecnologias regenerativas e circulares por meio de esquemas produtivos e de uma tecnologia de conversão eficiente”, explica Bunge.
Essas duas soluções permitem à growPack transformar o excesso de biomassa do campo em embalagens compostáveis de fibra termomoldada — feita por uma espécie de impressora 3D —, que são competitivas em funcionalidade e preço, mesmo em baixas escalas. “Temos pontos que consideramos importantes, como a maneira como vemos os resíduos dos recursos. Podemos entregar responsabilidade total de impacto para nossos parceiros, o que reduz a pegada ambiental e engaja os usuários finais dos clientes de maneira interativa. Do início da cadeia de produção até o fim da vida útil, conectamos nosso maior potencial natural com as necessidades materiais mais urgentes.", disse .
Em 2020, a growPack participou da segunda turma da Aceleradora 100+, programa da Ambev que une inovação e sustentabilidade, e em 2021, após uma rodada de investimento, a companhia passou a ser investidora líder da empresa, realizando um piloto naquele mesmo ano.
"Definimos a região de Campinas por muitas razões. A matéria-prima é abundante, o Aeroporto de Viracopos é um grande ponto de transporte, o agronegócio é forte, há uma centena de empresas que podem ser parceiras. Não cheguei nem a cogitar outro local e, há duas semanas, começamos a nossa produção aqui", disse.
Já o aplicativo de entregas de refeições, segundo Bunge, foi o parceiro da growPack no desenvolvimento de embalagem específica para delivery, realizando testes para garantir que não tenha vazamento de nenhum tipo de alimento, que seja resistente, que a temperatura seja mantida e que a embalagem seja prática no deslocamento do entregador. Mas a empresa não tem exclusividade comercial, pelo contrário, a parceria procura democratizar o acesso aos produtos para todo tipo de clientes no delivery de comidas.
O próximo passo é realizar o teste prático com cerca de 50 mil embalagens em oito restaurantes em Campinas e região. Essa é uma importante etapa do projeto para garantir que as embalagens sejam totalmente eficientes no delivery antes de serem usadas em grande escala, por meio de feedbacks dos restaurantes, clientes e entregadores para possíveis adaptações.
"Estamos fazendo crescer um ecossistema e um time de especialistas em tecnologias de celulose, ciências de materiais e agrotecnologia. Essas parcerias nos permitem repetir rapidamente os projetos, otimizar os formatos que criamos e, assim, atender às necessidades da cadeia integralmente, do campo até o usuário final", comentou. Além disso, a empresa busca parcerias com grandes fornecedores de fibras alternativas, que são descartadas, mas podem gerar valor e captura de carbono na fonte.
No momento, a fábrica opera com capacidade inicial de 400 quilos por dia, o que equivale a 100 mil unidades de embalagens, mas o plano é triplicar esse volume até o início de 2023. "Para isso, prevemos triplicar nosso time até o final do próximo ano. Atualmente, estamos com oito pessoas, mas queremos chegar a 15 ou 20 colaboradores no nosso time", contou.
Bunge destaca que a crença da empresa é que a união da tecnologia e da natureza se alicerce para resolver problemas sistêmicos e isso só pode ser feito partindo do que é mais básico e essencial. "Somos um catalisador para que nossos parceiros alcancem suas próprias metas de sustentabilidade de forma horizontal, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa e o consumo de água com soluções materiais compostáveis, rastreáveis e funcionais. Construímos uma história de otimismo e persistência que começou na cozinha de casa e, hoje, pode chegar às suas mãos. Agora, faremos com que a conexão entre as pessoas e o meio ambiente seja parte de nossa rotina", ressalta Exequiel Bunge.