UNIDADE TERRITORIAL

Embrapa Campinas cria sistema inteligente de combate à pobreza

Dados vão subsidiar políticas públicas para Vale do Jequitinhonha até caatinga nordestina

Edimarcio A. Monteiro
12/04/2022 às 08:44.
Atualizado em 12/04/2022 às 09:13
O Vale do Jequitinhonha, no Nordeste do Estado de Minas Gerais, é uma região semiárida marcada pela seca e que se constitui em uma das áreas mais carentes do País (Vrin Resende / Midia NINJA)

O Vale do Jequitinhonha, no Nordeste do Estado de Minas Gerais, é uma região semiárida marcada pela seca e que se constitui em uma das áreas mais carentes do País (Vrin Resende / Midia NINJA)

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) lançará no próximo dia 27, quando comemora 49 anos, um sistema inteligente desenvolvido pela unidade Territorial, sediada em Campinas, para subsidiar políticas públicas de combate à pobreza em umas das regiões mais carentes do País, que se estende desde o Vale do Jequitinhonha, no Nordeste de Minas Gerais, até a caatinga nordestina. O anúncio foi feito ontem pelo presidente do órgão, Celso Moretti, ao participar da solenidade de posse do novo chefe-geral da Embrapa Territorial, Gustavo Spadotti, que cumprirá mandato de dois anos, renovável duas vezes por igual período, ou seja, no total de até seis anos.

O Sistema de Inteligência Territorial Estratégica (Site) para o Desenvolvimento Sustentável da Agropecuária no Bioma Caatinga é um banco de dados com informações sobre uma região que se estende por 10 milhões de hectares, composta por 1.300 municípios e 24 milhões de habitantes. "São dados estratégicos para a definição de políticas públicas que podem mudar essa realidade", disse Moretti. 

O Site Caatinga começou a ser produzido em 2019 pela Embrapa Territorial e é um amplo e rigoroso procedimento metodológico de organização de informações georreferenciadas e analíticas de cinco quadros: natural, agrário, agrícola, infraestrutura e socioeconômico. A integração dessas cinco dimensões permitirá a realização de análises de inteligência territorial, como tipificar, compreender e mensurar processos e fenômenos da agropecuária e a ela relacionados.

O alcance compreende as 120 microrregiões homogêneas definidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na área de abrangência da caatinga. As principais informações e resultados gerados serão integrados em uma plataforma digital de acesso público e com ferramentas de visualização espacial dos dados.

O Vale do Jequitinhonha é uma região semiárida marcada pela seca. Já a caattinga (do tupi: ka'a (mata) + tinga (branca) = mata branca) é o único bioma exclusivamente brasileiro e grande parte do patrimônio biológico não é encontrado em nenhum outro lugar do planeta. De acordo com o presidente da Embrapa, o Site Caatinga tem dados para subsidiar ações de governos para as populações dessas regiões para o combate da pobreza e definição de logística para o transporte da produção agropecuária, por exemplo.

Projetos

O presidente da Embrapa, Celso Moretti, discursou para um público formado por associações de grandes produtores rurais, políticos e pesquisadores da empresa, que lotou o auditório da unidade Territorial em Campinas para a posse do novo chefe-geral Gustavo Spadotti.

Moretti defendeu maior integração entre a Embrapa e a iniciativa privada para o desenvolvimento de projetos e redução de dependência do Tesouro Nacional. Ele citou que, quando assumiu, em julho de 2019, essas parcerias representavam 6% das pesquisas desenvolvidas pelo órgão, número que saltou para os atuais 26%. Ele previu que a participação da iniciativa privada nos projetos pode chegar a 40% no próximo ano. 

A Embrapa é uma empresa pública vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, formada por 42 centros de pesquisa e sete unidades administrativas, que estão distribuídos em todas as regiões do Brasil e também em outros países. Com 9.790 funcionários, o órgão desenvolve pesquisas e fornece assessoria aos produtores rurais em áreas como pecuária, fruticultura, solos, caprinos e ovinos, agroindústria tropical e várias outras.

Entre os trabalhos futuros, Moretti aponta o desenvolvimento de um projeto que pode levar o Brasil a ser autossuficiente e até exportador de trigo no prazo de cinco anos. Atualmente, o País consome 12 milhões de toneladas desse cereal por ano, com a produção nacional cobrindo apenas metade dessa quantidade. O trigo é a única commodity agrícola em que o Brasil não é autossuficiente, o que deixa o País vulnerável às variações dos preços do mercado externo.

De janeiro a março deste ano, o preço do cereal aumentou 49,5%, tendo a disparada no valor se acentuado após o início da Guerra entre Rússia e Ucrânia, que são grande produtores, em 24 de fevereiro. Com isso, o preço do pãozinho nas padarias de Campinas saltou de R$ 13,90 para até R$ 20 o quilo. Moretti lembra que o Brasil já produz trigo em Roraima, sendo o único País a manter plantação acima da linha do Equador.

Material didático 

O presidente da Embrapa defendeu mudanças no material didático usado no País para melhorar a imagem do agronegócio nacional. "Eu tenho uma filha que está no segundo grau (ensino médio) que usa material com informações que considero que estão erradas", exemplificou. Ele lembra que, muitas vezes, os agricultores são mostrados como os vilões da degradação ambiental no Brasil, que provocam queimadas de florestas para aumentar a produção.

O trabalho para a mudança do material didático é uma iniciativa de grupos de pais que nasceu no final de 2020 em Barretos (SP), onde a agricultura tem grande importância na economia. Na semana passada, o presidente da Embrapa, membros do grupo e representantes de editoras responsáveis pela produção de 96% do material didático usado em escolas públicas e privadas do País se reuniram para discutir o assunto na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na Capital. Segundo Moretti, as mudanças dependerão do avanço dessas discussões.

"Os produtores rurais são responsáveis pela preservação de 33% (um terço) do território nacional. É um patrimônio que representa R$ 3 trilhões", afirmou o pesquisador da Embrapa Evaristo Miranda, que deixou a chefia-geral da unidade Territorial e transmitiu o cargo para Gustavo Spadotti.

Na realidade, a mudança no comando ocorreu em 3 de janeiro passado, mas a transmissão oficial foi ontem. Miranda, que tem 42 anos de Embrapa, anunciou que se aposentará do órgão este ano, ao completar 70 anos, e irá a para a iniciativa privada. Ele foi responsável, em 1989, pela criação da Embrapa Monitoramento por Satélite, que no final de 2017 se tornou a unidade Territorial, com a ampliação de sua área de atuação para gestão, inteligência e monitoramento territorial.

"Temos muito que agradecer ao Dr. Evaristo", disse a ex-ministra da Agricultura e deputada federal Tereza Cristina (PP-MS), sendo ovacionada pelo público presente na posse.

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