OBSERVATÓRIO PUC-CAMPINAS

Em um ano, preço da cesta básica em Campinas cai 5,3%

Custo era de R$ 754 em dezembro de 2022 e foi de R$ 714 no mês passado

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
16/01/2024 às 08:42.
Atualizado em 16/01/2024 às 08:44
Os dois produtos da cesta que mais tiveram redução de preço de novembro para dezembro foram a carne e a banana; por outro lado, foi constatado um crescimento considerável no valor da batata e do tomate, respectivamente 37,15% e 14,66% (Alessandro Torres)

Os dois produtos da cesta que mais tiveram redução de preço de novembro para dezembro foram a carne e a banana; por outro lado, foi constatado um crescimento considerável no valor da batata e do tomate, respectivamente 37,15% e 14,66% (Alessandro Torres)

A cesta básica de alimentos em Campinas apresentou queda de 5,3% em 2023. Em dezembro, ela ficou em R$ 714,04, contra os R$ 754 de igual mês do ano passado, de acordo com o estudo mensal divulgado pelo Observatório PUC-Campinas. “No balanço geral do ano, a cesta apresentou recuo, o que representa ganho importante no poder de compra dos trabalhadores, principalmente os de menor renda”, avaliou o economista Pedro de Miranda Costa, responsável pelo levantamento e professor da PUC-Campinas.

A redução representou um ganho de R$ 39,36, considerando a compra dos 13 alimentos que compõem a análise e que são usados para calcular o valor do salário mínimo. “No ano de 2023 houve safra recorde de alimentos, o que impactou para baixo os preços na metade do ano”, acrescentou o pesquisador.

Apesar do resultado positivo no acumulado, a cesta básica fechou dezembro com alta de 1,18% em relação aos R$ 705,71 de novembro. “Observa-se ao longo de 2023, dois movimentos distintos. Até agosto, uma tendência geral de baixa no valor da cesta básica, com oscilações pequenas até outubro. Mas houve altas importantes em novembro e dezembro, encerrando o ano com tendência de alta”, disse Pedro Costa.

CONSUMIDORES

“Pobre tem que procurar o que está mais em conta. Os alimentos estão bem caros, puxados, principalmente o arroz, feijão, tomate e batata”, afirmou a aposentada Terezinha da Silva Abrantes. Para ela, o preço desses alimentos comprometerá parte do reajuste do salário mínimo de 6,69% que entrou em vigor este mês, com o valor passando de R$ 1.320 para R$ 1.412. Ou seja, a inflação dos alimentos já afetou o bolso de Terezinha antes mesmo de ela receber o reajuste de R$ 92 na aposentadoria, que cairá na conta no próximo mês.

“O aumento não chegou nem a R$ 100. Deveria ter subido pelo menos uns R$ 200”, criticou Terezinha Abrantes. Em dezembro, o trabalhador de Campinas comprometeu o equivalente a 54,1% do salário mínimo apenas na aquisição de alimentos. De acordo com o estudo do Observatório PUC-Campinas, o benefício deveria ser de R$ 2.142,12 apenas para comprar os itens que formam a cesta básica. Isso porque o decreto-lei nº 399, de 1938, que instituiu o piso salarial, preconiza que o valor deve ser suficiente para alimentar uma família composta por quatro pessoas, dois adultos e duas crianças.

EM ALTA

Segundo o levantamento do Observatório da PUC, os itens que tiveram os maiores reajustes no mês passado foram a batata (37,15%), o tomate (14,66%), o feijão (9,76%) e o óleo de soja (5,97%). No caso dos dois primeiros itens, a alta foi em virtude da queda da oferta no mercado, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), de Piracicaba, que faz acompanhamento semanal dos preços e é considerado referência nacional.

No caso do tomate, “o aumento nos preços é reflexo da redução da oferta em razão da finalização da safra de inverno e problemas relacionados à produtividade”, apontou o relatório da instituição. De acordo com o Cepea, a caixa de 20 quilos do produto foi comercializada no atacado em Campinas (SP), em meados de dezembro, a R$ 136,50, alta de 26,97%.

No estudo da cesta básica, o fruto chegou ao consumidor com o preço médio de R$ 9,67. A comerciante Helena Shimabukuro explicou que estava difícil encontrar o produto e o que estava disponível tinha preço elevado. “Não tem como não repassar o preço para o consumidor”, justificou. Ela ressaltou, porém, que há um alento neste mês com queda no preço.

Na sexta-feira passada, a caixa do tomate estava cotada entre R$ 85 e R$ 90. “Se você quer comprar um produto com melhor qualidade, tem que pagar um pouco mais”, resignou-se o desempregado Edilson Nascimento, que na segunda-feira (15) pagou R$ 7,90 o quilo do produto.

De acordo com o Cepea, além de alta no preço da batata, as chuvas em Minais Gerais também prejudicaram a qualidade do alimento. O clima também afetou o preço do da soja e prejudicou o plantio da safra 2023/2024 até agora, apontou a Sociedade Nacional de Agricultura.

“As previsões ainda não indicam as melhores condições para a sequência do plantio da safra”, de acordo com a entidade. “Já a alta do feijão tem relação com a redução da área plantada, o clima adverso e o aumento do custo de fertilizantes”, segundo o gerente do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), André Almeida. A taxa medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é considerada como a inflação oficial.

EM BAIXA

Por outro lado, os itens da cesta básica em Campinas que apresentaram as maiores quedas de preço em dezembro foram a carne (-7,16%), banana (-6,75%), açúcar (-4,08%) e leite (-3,57%). Essas reduções ajudaram a segurar o valor final da cesta. A carne, por exemplo, tem uma participação de 32,51% na composição no custo total. Para o pizzaiolo Gerson Francisco Souza, os alimentos, de uma forma geral, estão caros. “O que tenho feito é tentar substituir alguns produtos ou reduzir a quantidade comprada”, afirmou.

Segundo o economista Pedro Costa, se os alimentos foram importante para segurar a inflação em 2023, eles podem se tornar os vilões nos próximos meses. “O ano se encerrou com a cesta básica com tendência de alta. Embora não possam ser descartados novos recuos, a questão climática e a dependência de safra em 2024 ser tão boa quanto em 2023 indicam que essa tendência pode ser manter”, afirmou o pesquisador do Observatório PUC-Campinas.

A cesta básica local foi a quinta com maior valor na comparação com 17 capitais brasileiras pesquisadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que adota a mesma metodologia. A mais cara foi a de Porto Alegre (RS), com o custo de R$ 767 em dezembro, ou seja, 7,41% mais cara do que em Campinas. São Paulo (R$ 761), Florianópolis (R$ 759) e Rio de Janeiro (R$ 739) também apareceram no topo da lista, com o valor maior do que a de Campinas.

Já a capital com o menor valor foi Aracaju (SE), onde a cesta custou R$ 517 em dezembro. É preciso, entretanto, considerar a diferença dos itens que compõem a cesta em função dos hábitos alimentares regionais. De acordo com o Observatório PUC-Campinas, considerando-se a variação mensal, Campinas ficou em 13º lugar. O maior aumento ocorreu em Brasília (DF), 4,67% em dezembro. Aparecem em seguida Porto Alegre (3,7%), Campo Grande (3,39%), Goiânia (3,2%) e Belo Horizonte (2,6%).

Por outro lado, quatro capitais da região Nordeste do Brasil apresentaram queda na cesta básica. São elas Recife (-2,35%), Natal (-1,98%), Fortaleza (-1,48%) e João Pessoa (-1,1%).

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