Índice está abaixo da média do Estado de SP, de 28,9%, e do Brasil, de 33,5%
A recenseadora Andreia Cristina dos Santos, que está trabalhando no Cambuí, explica que chega a deixar o número do telefone celular para facilitar a participação da população, agendando horário para a entrevista (Rodrigo Zanotto)
O censo demográfico 2022 em Campinas e mais 14 cidades da Região Metropolitana (RMC) está em ritmo lento, de acordo com balanço divulgado ontem pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nessas cidades, as entrevistas realizadas estão abaixo de 40% da meta estabelecida, apesar de o trabalho ter sido iniciado em 1º agosto, o que levou à necessidade de prorrogar o prazo de conclusão para o início de dezembro. Inicialmente, a previsão era encerrar o censo no dia 31 de outubro.
Em Campinas, maior cidade da RMC, o trabalho foi concluído apenas em 20,8% da população estimada e ainda não se iniciou para 46,2%. Para os outros 33%, está em andamento. Isso demonstra que o número de moradores do município já entrevistados pelo censo está abaixo da média do Estado de São Paulo, que é de 28,9%, e até mesmo do Brasil, 33,5%. Na Região Metropolitana, o maior atraso é na cidade de Vinhedo, onde apenas 16,3% responderam ao questionário.
Para o coordenador de área do IBGE em Campinas, Jackson Matos Medeiros, o atraso ocorre principalmente pelo número baixo de recenseadores que estão em campo e pela recusa de participação da população. De acordo com ele, o município tem 547 pessoas fazendo as entrevistas, quando o ideal seria 1.126. A cidade tem 452.866 domicílios cadastrados para a coleta de dados, o que daria uma média de 828 visitas por recenseador.
Quando o censo iniciou, o IBGE trabalhava com a estimativa de 402 domicílios por profissional. “O número de contratados está abaixo do necessário”, diz Medeiros. O recenseador Helber de Almeida Silva diz que já foi maltratado e até ameaçado de ser atacado por cachorro durante o trabalho. “Disseram que iam soltá-lo para cima de mim”, conta. Ele cita que no Parque Jambeiro, das cerca de 200 entrevistas programadas, 12 pessoas se recusaram a participar.
Motivos
“Muitas pessoas não entendem o que está sendo feito. Eles confundem com pesquisa eleitoral e se recusam a participar, enquanto outras acham que é golpe”, afirma Silva. Os recenseadores trabalham uniformizados com boné, colete e a confirmação oficial da participação pode ser feita por meio de QR Code, crachá físico e digital, no site oficial do IBGE ou pelo telefone 0800 721 8181.
Até na sexta-feira (7), Silva estava realizando o censo em um condomínio no Parque Prado. Para garantir o sucesso do trabalho, durante toda a semana, ele passou o período da manhã conversando com os moradores. Também contou com o apoio do síndico, que divulgou a realização do censo, e foram deixados bilhetes nos apartamentos com a possibilidade de agendar a entrevista.
A recenseadora Andreia Cristina dos Santos, que está trabalhando no Cambuí, explica que chega a deixar o número do telefone celular para facilitar a participação da população, atendendo ligações até mesmo fora do horário de trabalho. “É cansativo, mas estou comprometida a cumprir a meta o mais rápido possível”, afirma.
Andreia diz que encontra dificuldades para entrar em condomínios quando o síndico não demonstra interesse em colaborar, chegando a demorar até 15 dias para receber a autorização. “Quando o síndico entende o que está sendo feito, mantém grupo de WhatsApp, divulga a importância da participação, o trabalho flui”, explica. A recenseadora conta ter vivido situações totalmente adversas, como ser recebida com uma bela mesa de café, mas também já houve pessoa que saiu correndo ao ser abordada. “A moradora correu como seu eu tivesse uma doença contagiosa.”
Quem não quiser responder diretamente ao recenseador tem a opção de fazer o autopreenchimento do questionário. Porém, a participação a distância tem que ser acertada com o recenseador, que precisa do nome completo da pessoa, e-mail e o número do telefone. Posteriormente, a pessoa receberá um e-ticket para responder ao questionário remotamente no prazo máximo de sete dias.
Porém, se houver discrepância nos dados fornecidos, as pessoas voltarão a ser procuradas pelo IBGE. O coordenador de área em Campinas ressalta que as informações coletadas são sigilosas e acessadas apenas pelo órgão. Medeiros lembra que o censo é importante para a formação de políticas públicas em diversas áreas, como saúde, educação e infraestrutura. Além disso, os dados servem para calcular a participação de cada uma das 5.568 cidades brasileiras no Fundo de Participação dos Municípios, verba federal baseada no número de habitantes, e até para calcular o número de deputados federais que cada Estado terá na Câmara Federal.
Apelos
A baixa adesão ao censo levou até Prefeituras da região a fazer apelos para que moradores participem. É o caso de Nova Odessa, onde a participação é de 32,1%. “Precisamos da colaboração de cada um de vocês, dos síndicos, dos porteiros dos prédios, da população de Nova Odessa. Responder o questionário é muito importante para conseguirmos, por meio da contagem correta de nossa população atual, aumentar os índices de participação na arrecadação de impostos federais e estaduais, revertendo em recursos e benefícios para a nossa cidade”, afirma o prefeito Cláudio José Schooder, o Leitinho (PSD).
Dos 16.451 endereços visitados até o dia 29 de setembro, 2.066 foram considerados fechados, o equivalente a 12,56%. Ou seja, de cada dez imóveis procurados, um morador não atendeu a campainha ou se negou a responder o questionário. Em Americana, a taxa chegou a 23%.
“O IBGE é uma instituição séria, competente e o levantamento dos dados será fundamental para traçarmos diretrizes e planejarmos ações em prol de todos os munícipes”, diz o prefeito Francisco Sardelli (PV).
De todas as 20 cidades da Região Metropolitana de Campinas, a participação está acima de 50% em apenas duas. A liderança é de Morungaba, onde o censo atingiu 69,7% da população prevista. O trabalho está em andamento em 27,3% e em apenas 3% o trabalho não foi iniciado. O segundo município onde a pesquisa está mais avançada é Engenheiro Coelho, 58,3%.
Alternativas
O coordenador de área do IBGE em Campinas, Jackson Medeiros, aponta que estão sendo estudadas alternativas para acelerar o censo e garantir a conclusão até o início de dezembro. A primeira é a previsão de lançamento de um novo processo de seleção, na próxima semana, para aumentar o número de recenseadores no trabalho de campo.
Medeiros cita que muitos profissionais desistiram do trabalho temporário do censo por terem conseguido emprego fixo após iniciada a ação em campo. Outra alternativa analisada é a realização de uma força-tarefa conforme os trabalhos forem sendo completados nos setores censitários, que são as áreas em que os municípios foram divididos. Com isso, os recenseadores serão remanejados para outros setores onde os trabalhos ainda estão em andamento.
No caso de Campinas, são 2.511 setores. Medeiros lembra que a legislação obriga a participação nas pesquisas do IBGE, seja envolvendo pessoa física ou jurídica. A lei federal 5.534, de 1968, prevê multa de dez salários mínimos (R$12.120) para o infrator, valor que dobra em caso de reincidência.
No censo 2022, estão sendo aplicados dois tipos de questionários. O básico, com 26 questões, leva em torno de cinco minutos para ser respondido. Já o questionário ampliado, composto por 77 perguntas, demora cerca de 16 minutos.