PANDEMIA

Em protesto, donos de bares voltam a exigir 'fecha tudo'

Categoria entende que medida aliviaria hospitais e permitiria retomada das atividades

Erick Julio/ Correio Popular
16/03/2021 às 17:23.
Atualizado em 22/03/2022 às 01:58
Donos e funcionários de bares e restaurantes durante passeata no Centro de Campinas: setor prega lockdown para reduzir contaminação pelo coronavírus na cidade (Diogo Zacarias/ Correio Popular)

Donos e funcionários de bares e restaurantes durante passeata no Centro de Campinas: setor prega lockdown para reduzir contaminação pelo coronavírus na cidade (Diogo Zacarias/ Correio Popular)

A Praça Visconde de Indaiatuba, popularmente conhecida como Largo Rosário, contrastava com o restante do Centro de Campinas, na tarde de ontem. Se na maioria das ruas e avenidas o fluxo de pessoas era pequeno e o barulho ficava por conta somente dos carros, na praça, um novo ato da Associação de Bares, Restaurantes e Similares de Campinas (Abresc) rompeu com a calmaria decorrente do primeiro dia de validade do decreto da fase emergencial.

Marcada para as 15h, a manifestação começou a ganhar corpo por volta das 14h45, quando pequenos grupos de pessoas começaram a chegar ao Largo do Rosário. Se até aquele momento o som predominante era o dos motores dos veículos que transitavam pela Avenida Francisco Glicério, uma música sertaneja começou a ganhar volume conforme o carro de som da Abresc se aproximava pela Rua General Osório.

Como das outras vezes, o veículo do ato estacionou ao lado da praça e o presidente da Abresc, Wendell Alves, 46, tratou de puxar o microfone para reunir os proprietários e funcionários de bares e restaurantes presentes no local. "Pessoal, estamos aqui reunidos mais uma vez para cobrar a Prefeitura de Campinas para decretar o lockdown. Para nós, já ficou claro que só vamos conseguir aliviar a demanda na saúde da cidade e diminuir os casos de covid-19 se fechar tudo", defendeu.

Ao longo da manifestação, que reuniu cerca de 200 pessoas, Alves explicou que a Abresc considera que o decreto de fase emergencial é "insuficiente" para resolver o problema da falta de leitos nos hospitais de Campinas. De acordo com o presidente da entidade, é preciso "tomar um remédio amargo agora, fechando tudo," para que os casos da doença sejam controlados.

"Entendemos que para o prefeito é difícil atender todos os setores e compreendemos que a situação da pandemia está muito ruim. Ocorre que nosso setor está pagando sozinho uma conta que não precisava, se tivéssemos feito um lockdown antes. Eu vou pegar o exemplo de Araraquara, que fez o lockdown e viu os números de casos diminuírem consideravelmente", apontou Alves.

O presidente da Abresc explicou ainda que o ato também buscava o apoio do prefeito Dário Saadi (Republicanos) para medidas que ajudem o setor, que "não tem condição de arcar com os impostos e contas" no atual momento. "Nós temos certeza que o prefeito tem condições de ter um protagonismo junto aos governos estadual e federal para buscar financiamento e auxílio emergencial urgente para o nosso setor, que emprega muitas famílias. Se não fizermos nada agora, no pós-pandemia vamos ter um desemprego maior do que temos hoje", apontou o presidente da Abresc.

Durante o ato, dois outros grupos de manifestantes chegaram ao Largo do Rosário. Com camisetas e faixas escritas 'Lockdown Não', os integrantes explicaram ao Correio Popular que foram até o local para "ensinar" a Abresc a fazer a manifestação "corretamente". A estudante de enfermagem Daniele Carvalho, 39, disse ser favorável a um isolamento vertical. Questionada sobre a contradição de o grupo ter ido a um ato que defende o lockdown, Daniele disse que queria "conscientizar" os representantes da Abresc. "Não é contradição, até porque nós viemos aqui para ensiná-los a fazer corretamente", disse a estudante, que alegou pertencer ao Movimento Conservador de Campinas.

Um manifestante de um dos grupos que chegou ao Largo do Rosário pediu para falar ao microfone. Após cogitar sobre uma conspiração globalista e acusar o governador São Paulo de fazer parte do "PCC chinês", ele foi interrompido pelo presidente da Abresc, que explicou que o ato não era partidário e buscava soluções para o setor de bares e restaurantes.

"Viemos aqui para entregar uma pauta para o prefeito Dário. Nós não vamos misturar questões partidárias com os interesses do nosso setor. Não apoiamos, nem somos contra o Bolsonaro. Não apoiamos, nem somos contra o Lula. Viemos lutar para que a taxa de contaminação caia para todo mundo poder voltar a trabalhar", justificou Alves, que apontou que o sistema de drive-thru, por exemplo, não contempla muitos estabelecimentos pequenos.

"Tem muitos restaurantes pequenos que não têm estrutura para poder atender os clientes via drive-thru. Não há espaço ou área para receber veículos para a entrega dos produtos. Por isso viemos aqui fazer esse debate necessário sobre o lockdown", reforçou. Após o ato no Largo do Rosário, os manifestantes desceram a General Osório e foram até o Paço Municipal. Na Prefeitura, eles foram recebidos pelo prefeito Dario Saadi e pelo vice-prefeito Wanderley Almeida (PSB).

A assessoria de imprensa da Prefeitura de Campinas informou que o prefeito debateu a possibilidade de um lockdown em reunião, na manhã de ontem. Segundo a Administração, foi montada uma força-tarefa para "avaliar a situação da pandemia dia a dia". O prefeito de Campinas vai se reunir com os prefeitos da região para "discutir medidas mais restritivas", entre elas o lockdown nas cidades.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por