O volume de contratações em agosto foi de 4.572 trabalhadores, de acordo com pesquisa realizada pelo Observatório PUC-Campinas
As contratações por parte da construção civil contribuíram para que a RMC tivesse desempenho positivo na geração de empregos em agosto, segundo o Observatório PUC-Campinas (Rodrigo Zanotto)
A Região Metropolitana de Campinas (RMC) registrou em agosto a criação de 4.572 postos de trabalho, o quarto melhor mês de 2023 na geração de vagas. O período ficou atrás de fevereiro (8.098), março (5.368) e abril (5.005), de acordo com pesquisa divulgada pelo Observatório PUC-Campinas a partir dos dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego. No acumulado dos oito primeiros meses do ano, o acumulado é de 30.076 novas vagas com carteira assinada. O saldo representa o dobro da população de uma cidade do porte de Holambra. Já o estoque de emprego em agosto na RMC chegou a 1.044.512 postos.
O levantamento apontou que o setor de serviços apresentou o melhor resultado no mês, sendo responsável por quatro em cada sete contratações. No total, o segmento foi responsável por 2.642 novos postos, o equivalente a 57,79% do total. De acordo com o levantamento do Observatório da PUC-Campinas, também apresentaram resultados positivos o comércio (882), construção civil (814) e agropecuária (512). A indústria foi o único setor da RMC a ter apresentado resultado negativo, com o fechamento de 279 postos de trabalho.
Um dos segmentos a contribuir com geração de empregos este ano na Região Metropolitana de Campinas é o de bares e restaurantes, com o saldo de 3.307 vagas nos oito primeiros meses. Para a entidade do setor, o resultado representa a retomada da alimentação fora de casa, atividade que foi bastante prejudicada durante a fase mais aguda da pandemia de covid-19, entre 2020 e 2021. Os dados apontam também que as áreas de hotelaria e eventos se mantêm aquecidas após alta com o fim da imposição de isolamento adotada no segundo semestre do ano passado.
DESEMPENHO
Um hotel de Campinas está desde julho com a contratação permanente de novos funcionários. Somente esta semana foram abertas 50 novas vagas, principalmente para auxiliar de limpeza, camareiro e garçom. Porém, o empreendimento está com processo de seleção aberto para outras oportunidades, entre elas eletricista, agente de manutenção e monitor de berçário.
O desempenho tímido da indústria na geração de emprego reflete o momento de estagnação do setor. "É uma situação menos otimista do que deveria ser", disse o diretor titular do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciep) Regional Campinas, José Henrique Toledo Corrêa. A Sondagem Industrial da entidade divulgado no final de setembro mostrou que 33% das empresas diminuíram a produção em relação ao mês anterior, 48% permaneceram estáveis e 19% aumentaram. Os números são piores do que os registrados em igual período de 2022, quando 36% haviam aumentado a produção, 50% continuaram estáveis e 14% diminuíram.
A pesquisa do Ciesp-Campinas apontou ainda que 67% das empresas mantiveram o número de funcionários em setembro, 14% aumentaram e 19% diminuíram. Para o diretor titular da entidade, esses números "são preocupantes" porque as demissões indicam queda na produção para se adequarem ao volume de vendas. Para Toledo Corrêa, a tendência é de manutenção desse quadro para as indústrias da região no curto prazo.
A coordenadora da pesquisa do Observatório PUC-Campinas, a economista Eliane Navarro Rosandiski, disse que, em relação às indústrias, a análise dos dados mostra que as empresas estão em parte trocando a mão de obra com registro em carteira por trabalhadores terceirizados, que recebem um salário menor. "Isso faz sentido dentro de uma política de redução de custos", disse ela, que também é professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas.
Já as contrações ocorridas na construção civil reforçam o aquecimento da atividade. "As contratações estão ocorrendo com mais intensidade nos segmentos de infraestrutura e de serviços de acabamento, e também no setor de edificações", disse o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Grandes Estruturas no Estado de São Paulo (SindusCon-SP), Yorki Estefan. O resultado na RMC segue a tendência estadual e nacional.
A progressiva recuperação do segmento de alimentação fora do lar também deu impulso à abertura de novos postos de trabalho na região (Alessandro Torres)
O setor criou 28.359 postos de trabalho com carteira assinada no país em agosto, dos quais 8.086 apenas no Estado de São Paulo. No acumulado dos oito primeiros meses do ano na Grande Campinas, o setor gerou 3.804 novos empregos. No país, foram 222.925 contratações, alta de 9,21% sobre o número de trabalhadores de dezembro. No acumulado de 12 meses até agosto, a construção gerou 162.112 novos empregos (+6,53%).
PERFIL
Para a coordenadora da pesquisa do Observatório PUCCampinas, o resultado do mercado de trabalho em agosto é positivo. "Aquém do que gostaríamos, mas é positivo". Ela considera que em 2023 a realidade está voltando a um padrão normal, com a comparação em relação aos anos anteriores sendo desfigurada pelo fato de a economia em 2021 e 2022 ter passado por uma recuperação da crise gerada pela covid-19. Com isso, a base comparativa é desproporcional. Em agosto de 2022, haviam sido criados 7.842 postos de trabalho na RMC, com o acumulado nos oito primeiros meses chegando 48.804.
Em 2021, o saldo no mesmo mês foi de 9.828 vagas geradas, com o total de janeiro a agosto chegando a 56.635. "O importante é que continuamos tendo resultados positivos. O que queremos que esse crescimento continue, mas com mais vigor e consistência", completou a economista. Eliane Rosandiski argumentou que o governo federal está tomando medidas para estimular a economia e a geração de empregos, como o Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas elas precisam refletir na prática para que se crise um círculo virtuoso com a geração de postos e salários de melhor qualidade.
CIDADES
Entre as 20 cidades da RMC, 16 registraram saldo positivo na geração de empregos em agosto. Campinas puxou a alta, com o saldo de contratação de 2.051 trabalhadores, com uma participação de 44,86% do total. Em números absolutos, a segunda colocação ficou com Holambra, com 501 vagas, o que representa uma recuperação em relação a julho, quando o município, que tem a economia baseada no turismo e agricultura, registrou o fechamento de 172 postos de trabalho, o maior número na Região Metropolitana. A terceira colocação no oitavo mês de 2023 ficou com Indaiatuba, com a geração de 463 novos postos.
As cidades que tiveram o número de demissões maior do que o de contratações foram Vinhedo, com o encerramento de 122 vagas, Americana (-118), Santo Antonio de Posse (-63) e Valinhos (-50). O levantamento do Observatório PUC-Campinas mostra que em Vinhedo o resultado negativo foi puxado pela indústria, com saldo de 176 demissões, e construção civil (-12). O setor de serviços foi praticamente o único a ter resultado positivo, com 60 contratações, enquanto o comércio (2) e agricultura (4) ficaram estáveis.
O estudo revelou ainda que o perfil das admissões na Região Metropolitana de Campinas é composto, em sua maioria, por representantes do gênero feminino (67,91%), tem entre 17 e 39 anos e pessoas com ensino médio completo. Repetindo o que ocorreu nos meses anteriores, os grupos a partir de 50 anos tiveram saldo negativo, com o encerramento de 136 vagas. Além disso, a maioria dos contratados continua recebendo salário abaixo da média, que é de R$ 2.223,78. No caso dos admitidos com ensino médio, o valor ficou em R$ 1.994,27, enquanto os selecionados na faixa etária de 18 a 24 anos foram contratados com valor médio de R$ 1.849,41.
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