Desembargadora campineira é símbolo do histórico empenho feminino na luta por direitos iguais
Tereza: "Temos a missão de enfrentar ações que violem a dignidade do trabalho; o momento é de promover o equilíbrio entre segurança e liberdade" (Dominique Torquato/AAN)
No Dia Internacional da Mulher, uma campineira de 65 anos — que já tinha atuação profissional marcante por aqui — ganha prestígio nacional. A desembargadora Tereza Aparacida Asta Gemignani, de 65 anos, há 30 anos na Magistratura, agora faz parte do seleto grupo de 100 juristas brasileiros que integram a Academia Nacional do Direito do Trabalho. É reconhecimento definitivo para uma carreira brilhante. Em Campinas, Tereza foi a primeira mulher aprovada em concurso público para a Magistratura, ainda em 1988. Atualmente, convidada pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST), ela leciona em cursos para a formação de novos juízes. Além disso, coleciona comendas da Ordem do Mérito, cedidas pelo Estado e pela União. Tereza ainda integra por aqui uma comissão especial de erradicação do trabalho infantil. E não para de estudar. “A sociedade merece juízes atualizados. O cidadão exige, precisamos dar respostas”, diz. Preciosismo, admite, que foi herdado do pai, o famoso alfaiate Salvador Asta: “Ele era detalhista, caprichoso, exigente consigo mesmo; aprendi com ele a me cobrar.” Sua mãe, dona Aparecida, sonhava ter uma filha professora. Que nada. Desde menina, aluna do Colégio Ave Maria, Tereza se imaginava juíza. Depois do ginásio, fez o Clássico no Culto à Ciência e partiu para a faculdade de Direito, na PUC. Se formou advogada em 1975. E, depois de casada e mãe de três filhos, ela partiu para a pós-graduação. Se tornou doutora pela USP no ano de 2000, quando já beirava os 47 anos de idade. E foi a primeira campineira da história da cidade a tomar posse como desembargadora, em 2006. Perseverança Bom, ela sabe: as vitórias chegam com perseverança. Tereza começou a trabalhar com 14 anos, como telefonista. Mergulhou de cabeça em um cotidiano puxado, aliando trabalho e estudo. “Dormia em cima dos livros, de tão cansada. E conheci muita gente talentosa que precisou deixar a escola para trabalhar e ajudar em casa”, conta. Hoje, ela comemora, a vida lhe dá prêmios. Casada há 42 anos com o médico Flávio Gemignani, ela tem três filhos: o cardiologista Tiago; a advogada Karina; o procurador do Trabalho Daniel. E é avó da Pietra, recém-nascida, filha do Tiago. Realizada, pronta para a aposentadoria? Nem pensar. Tereza sabe que as mudanças estruturais recentes na lei vão exigir muito da Magistratura. Relações trabalhistas Na opinião da desembargadora, o Brasil vive um momento de transição profunda, com a quebra de um sistema que, desde a década de 40, estabelecia regras para as relações trabalhistas. A sociedade, ela concorda, não pode permanecer presa ao passado. Mais que nunca, no entanto, o Direto é necessário. “Temos a missão de enfrentar ações que violem a dignidade do trabalho”, diz. “O momento é de promover o equilíbrio entre a segurança e a liberdade”. Para Tereza, a ruptura de um sistema antigo pode representar uma ameaça séria. “Se o cidadão achar que a Justiça não está a seu favor, ele opta por resolver a situação com as próprias mãos. Aí, as brigas começam dentro de casa, no trabalho, na escola, na rua. Cada um por si. Violência desenfreada, de resultados imprevisíveis. É a volta da barbárie”, define. “Precisamos construir uma nova estrutura, criando caminhos conciliatórios, disciplinando as relações de vida e trabalho”. Letras Além de atuar como desembargadora, Tereza Asta também escreve. Há quatro anos, ela tem uma cadeira na Academia Campinense de Letras (ACL). Apaixonada por artigos jurídicos, também descobriu o prazer de escrever crônicas, com temas do cotidiano, publicadas em revistas segmentadas. Ela já recebeu da Câmara Municipal a medalha Guilherme de Almeida, e tem o maior orgulho de integrar um grupo que pensa na cultura, nos valores literários da cidade.