Valor apurado pelo Observatório PUC-Campinas em fevereiro foi de R$ 761,34, o maior desde o início da série histórica
Banana (11,28%), batata (9,23%), feijão (7,69%), tomate (7,19%) e farinha de trigo (5,68%) foram os produtos com maior crescimento no preço em fevereiro (Alessandro Torres)
Campinas registrou em fevereiro a segunda maior alta do país no custo da cesta básica, que ficou em R$ 761,34. Foi o maior valor da série histórica da pesquisa iniciada há 18 meses, em setembro de 2022, e feita pelo Observatório PUC-Campinas. Ela teve aumento de 2,97% em comparação a janeiro, o quarto mês seguido de alta, ficando abaixo apenas dos 5,18% registrados no Rio de Janeiro, de acordo com levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que faz o acompanhamento em 17 capitais e segue a mesma metodologia da universidade, possibilitando a comparação. A elevação local dos preços dos alimentos superou a inflação oficial, que foi de 0,83% em fevereiro, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O aumento acumulado nos dois primeiros meses de 2024 é de 6,62%, comprometendo uma boa parte do aumento de 6,97% do salário mínimo que entrou em vigor a partir de 1º de fevereiro, quando passou de R$ 1.320 para R$ 1.412. Ou seja, resultou na perda de poder aquisitivo de quem recebe esse piso, como aposentados, pensionistas, quem recebe benefícios diversos do governo federal e trabalhadores. Na prática, no dia a dia dessas pessoas, a cesta teve alta acumulada de R$ 47,30 entre janeiro e fevereiro, comprometendo pouco mais da metade dos R$ 90 da elevação do mínimo, majorado para cobrir a inflação de 2023, que foi de 4,62%, e proporcionar um ganho real, que já está sendo corroído pelos alimentos.
“Essa tendência de alta é preocupante. O aumento do salário mínimo está sendo comprometido, em parte, pela alta do preço da cesta e o impacto atinge o trabalhador”, explicou o economista Pedro de Miranda Costa, responsável pela pesquisa do Observatório. De acordo com o levantamento, apenas a compra de alimentos comprometeu 53,9% do mínimo em fevereiro. Ainda, o valor do salário-base deveria ser de R$ 2,284,01 para ser capaz de suprir as necessidades de uma família de quatro pessoas (dois adultos e duas crianças), valor necessário para a aquisição de três cestas.
PESO NO BOLSO
“Tudo está muito caro. Os R$ 1.412 não dão para nada. O arroz subiu, o feijão subiu. O óleo está mantendo o preço, mas é insuficiente para compensar as outras altas”, reclamou a aposentada Cleusa Maria Rosa enquanto fazia compras para a semana. Para conseguir fazer as despesas se equilibrarem com o orçamento, ela recorreu a pesquisa de preço, promoções e cortou do cardápio os alimentos que mais subiram. “Isso é o que mais estou fazendo”, completou. “Não é a cesta básica que está cara, tudo está um absurdo. O chuchu está custando R$ 9, a cenoura, R$ 7, a laranja, R$ 8”, afirmou o aposentado José Fagundes Cerqueira que selecionava os produtos que levaria para casa.
Em Campinas, a pequisa apontou alta no mês passado de dez dos 13 itens que compõem a pesquisa. O produto que registrou a maior elevação de preço foi a banana, 11,28%, à frente da batata (9,23%), feijão (7,69%), tomate (7,19%) e farinha de trigo (5,68%). Os únicos produtos a terem redução foram a manteiga (-3,58%), leite (-2,76%) e óleo de soja (-2,64%). Segundo Pedro Costa, que também é professor da PUC-Campinas, a inflação dos alimentos está sendo provocada por fatores sazonais, como o forte calor no segundo semestre do ano passado. O clima comprometeu, por exemplo, a atual safra de arroz do Rio Grande do Sul, Estado responsável por 80% da produção nacional. Já as altas temperaturas e as chuvas deste verão estão afetando outros produtos, como batata e tomate.
“A tendência atual é de alta, mas é preciso aguardar como será a safra nos próximos meses para saber como ficarão os preços dos alimentos e os reflexos sobre a cesta básica”, disse o economista. Porém, para ele, o cenário indica aumento dos alimentos em 2024, “mas não na casa dos 2% como ocorreu em fevereiro”. O responsável pela pesquisa do Observatório da PUC-Campinas explicou que a safra recorde de 2023 contribuiu para segurar a inflação, mas esse fator não deverá se repetir este ano. “A safra recorde ajudou a segurar e até reduzir o preço dos alimentos, mas não é todo o ano que se quebra recorde”, afirmou.
5ª MAIS CARA
De acordo com a pesquisa do Observatório PUC-Campinas, o preço da cesta básica na cidade apresentou o quinto maior valor do país em comparação com o levantamento do Dieese. Ela ficou abaixo apenas dos valores praticados no Rio de Janeiro (R$ 833), São Paulo (R$ 808), Porto Alegre-RS (R$ 797) e Florianópolis-SC (R$ 783). A cesta mais barata foi encontrada em Aracaju-SE, R$ 534. Em segundo lugar ficou Recife-PE (R$ 560) e em terceiro, João Pessoa-PB (R$ 565).
VARIAÇÕES EM 12 MESES
O levantamento de fevereiro da PUC-Campinas mostrou, por exemplo, que a batata liderou a alta de preço em comparação a igual período de 2023, com reajuste de 78,10%. O preço médio nos 28 supermercados pesquisados ficou em R$ 10,33 no mês passado, contra R$ 5,80 de fevereiro de 2023. Já a inflação nos últimos 12 meses teve uma variação bem menor, 4,5%, de acordo com o IBGE.
Outros produtos também superaram esse índice. O arroz teve alta de 29,59% em Campinas, com o quilo tendo o preço médio de R$ 6,70 no mês passado enquanto foi de R$ 5,17 no segundo mês de 2023. Já o tomate passou de R$ 7,98 para R$ 10,35, elevação de 29,69%. No entanto, outros itens acumulam queda nos preços, ajudando a segurar a elevação da cesta básica. O óleo de soja, por exemplo, teve redução de 24,61%, com o valor do litro caindo de R$ 9,39 para R$ 7,08. A carne, que sozinha tem uma participação de 31,91% na composição do preço da cesta, teve redução de 8,14%. O preço do quilo foi reduzido de R$ 44,08 para R$ 40,49%.
O comportamento do varejo acompanhou a redução do preço da arroba do boi (15 quilos) no atacado. A cotação fechou em 29 de fevereiro passado em R$ 235,40, 12,15% a menos do que os R$ 267,95 do dia 28 do mesmo mês de 2023, segundo pesquisas semanais do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), de Piracicaba. Relatório do órgão vinculado à Universidade de São Paulo (USP) apontou que “o principal motivo para esse resultado está atrelado ao movimento de queda nos preços de insumos para suplementação e dieta do rebanho. Esse cenário traz certo alívio aos pecuaristas, sobretudo diante da queda nos valores de negociação da arroba do boi gordo ao longo do ano passado”. De acordo como os técnicos do Cepea, “a oferta é que deve influenciar possíveis altas ou quedas dos preços da arroba e da carne no correr de 2024.”
O Centro de Estudos apontou que o preço do saco de 60 quilos de soja caiu de R$ 168,75 para R$ 115,45 no mesmo período, diferença de 31,59% puxada pelo aumento da produção. “A área mundial semeada com soja cresceu pela quarta temporada seguida, gerando expectativas de que a oferta recorde na safra 2023/24 seja renovada”, apontou relatório do Cepea.
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