Da esquerda para a direita, Major Jaime (PP), Luiz Cirilo (PSDB), Paulo Gaspar (Novo), Paolla Miguel (PT), Higor Diego (Republicanos) e Paulo Búfalo (PSOL), integrantes da CPI (Kamá Ribeiro)
Apesar do aparente equilíbrio entre as forças políticas que vão conduzir os trabalhos da CPI da Propina na próxima semana, o grupo de apoio do vereador José Carlos Silva, o Zé Carlos (PSB) - presidente afastado e principal alvo das investigações de corrupção na Câmara de Campinas - aparece como minoria entre os parlamentares que compõe a comissão. Dos seis parlamentares sorteados, quatro não fazem parte do pelotão do presidente afastado, apontado como mentor do esquema de corrupção, que também está sendo investigado pelo Ministério Público. Para especialistas, o momento exige uma apuração política que dê respostas à sociedade, sob o risco de reflexos por parte dos cidadãos daqui a dois anos nas urnas.
De acordo com o sorteio realizado na sessão de quarta-feira, dia 5, dos sete integrantes que compõem a CPI da Propina, a vereadora Paolla Miguel (PT) e o vereador Paulo Búfalo (PSOL) são de oposição ao governo. Os vereadores Major Jaime (PP) e Paulo Gaspar (Novo) se colocam como independentes e não integram o grupo de apoio a Zé Carlos. Os outros três parlamentares Carmo Luiz (PSC), Luiz Cirilo (PSDB) e Higor Diego (Republicanos) são os vereadores que integram o grupo de apoio ao vereador investigado.
As denúncias que envolvem o nome do vereador Zé Carlos vieram à tona a partir de uma investigação do Grupo de Apoio Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público. Os promotores apontam o parlamentar como mentor de um esquema de cobrança de vantagens indevidas para manter ou prorrogar contratos de prestação de serviços terceirizados na sede do Poder Legislativo. A crise aumentou depois que as conversas gravadas por um empresário responsável pelo contrato da TV Câmara e que integram as investigações do MP foram divulgadas. Nelas, Zé Carlos aparece, supostamente, buscando vantagens econômicas indevidas para a prorrogação do contrato da TV Câmara.
Na avaliação do cientista político Vitor Barletta Machado, professor da Faculdade de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), o caso é bastante grave e expõe todo o Legislativo. Segundo o especialista, diante do cenário é necessário que a comissão formada seja capaz de fazer uma apuração política que dê uma resposta para a sociedade sob pena de serem os parlamentares 'julgados' nas urnas daqui dois anos. "O caso se revelou bastante grave. Os áudios são reveladores, de uma prática bastante preocupante dentro da Câmara e seria sim uma resposta política contundente. Algo firme na direção de investigar tudo e punir quem tiver que ser punido. Contudo, há de se verificar o número concreto de envolvidos, quem são de fato os participantes desse esquema descoberto para se dar a resposta adequada", disse.
Na avaliação do professor, a sociedade está em um momento tenso em relação a esses tipos de casos já faz um tempo, e, na medida que não se exerça uma punição exemplar face de uma investigação adequada, a probabilidade do cidadão demonstrar a sua insatisfação com esses vereadores daqui a dois anos é bastante grande. "Sabemos das dificuldades de todo o processo, na medida que muito provavelmente mais gente possa ainda ser investigada o envolvimento nesse caso. Eu acredito que até para preservar a imagem dos demais vereadores, é importante essa resposta rápida", avalia.
De acordo com informações do presidente da CPI da Propina, o vereador Paulo Gaspar, na segunda-feira deve acontecer a escolha do relator. O vereador explica que a escolha do nome do relator será definida pelos integrantes da CPI. Para ele, as chances do nome a ser escolhido ser de um parlamentar que não pertence ao grupo de apoio a Zé Carlos existe. "Os fatos serão apurados e se comprovados, a CPI tem a obrigação de propor punição à altura. Quem julgará será o plenário", disse.
A comissão terá 90 dias para investigar as denúncias de que o presidente da Câmara e seu ex-assessor Rafael Creato teriam pedido vantagens econômicas para a manutenção dos contratos da Câmara. Nos áudios até então divulgados revelam negociações com pedido de propina em um contrato de R$ 4,7 milhões com o Legislativo. O vereador Zé Carlos, por meio de sua defesa, segue negando participação no esquema, e mantém o posicionamento de apenas se manifestar no curso do processo.
O vereador Luiz Rossini (PV), líder do governo na Câmara, disse que é importante que a investigação ocorra com transparência e que as apurações ocorram com total imparcialidade. "Não podemos duvidar da seriedade do trabalho da CPI. É fato que existe uma investigação bastante avançada por parte do Ministério Público. Se nas conclusões dos trabalhos for necessário cortar a própria carne, nesse ponto a Câmara não poderá se furtar a essa obrigação", disse.
O vereador Major Jaime, que integra a CPI, disse que os trabalhos e o resultado das apurações devem ser conduzidos em favor da sociedade. Ele acrescenta que o seu posicionamento político dentro da Câmara sempre foi de independência e em favor de projetos de interesse público. "Nunca me pautei de onde veio o projeto. Pauto pelo que é certo, correto e o necessário para a sociedade. É lamentável o momento que estamos vivendo. Mas o servidor público precisa ter honestidade. As apurações da CPI devem acontecer com transparência, imparcialidade e amplo direito de defesa, mas não tenho dúvida de que se os resultados apontarem para a instalação de uma comissão processante de cassação de mandato, não tenho dúvida que isso será feito", avalia.