De janeiro a junho deste ano, foram registradas 4.238 novas empresas na cidade — 37% a mais do que no mesmo período de 2019
A nutricionista Luciana Araújo Daniel, de 35 anos, decidiu ampliar o investimento no setor de moda, abrindo uma nova loja no bairro Cambuí (Ricardo Lima)
O primeiro semestre de 2022 foi o que teve o maior número de aberturas de empresas em comparação ao mesmo período dos últimos quatro anos em Campinas. Foram registradas 4.238 novas empresas na cidade este ano e fechadas 1.897 — o equivalente a 44,7% do total. Portanto, o saldo foi positivo — de 2.341 empresas abertas —, o maior desde 2019, segundo dados da Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp) solicitados pelo Correio Popular.
Os dados apresentam a variação de abertura e fechamento de empresas, mês a mês. A quantidade de empresas abertas no semestre de 2022 é 37% maior do que o de 2019, apesar daquele ano ter sido anterior à pandemia da covid-19. Comparando esses dois períodos, a diferença entre aberturas e fechamentos teve aumento de 76%, com saldo positivo de 2.341 empresas abertas no primeiro semestre de 2022 contra 1.329 nos primeiros seis meses de 2019.
No levantamento, o mês de maio de 2022 foi o que apresentou o maior número de aberturas de empresas nesses quatro anos, com 912 novos CNPJs registrados. Apesar da queda de 13,7% em comparação a maio, o mês de junho também teve um desempenho positivo maior do que qualquer outro mês desde 2021, com abertura de 787 empresas.
Segundo a secretária de Desenvolvimento Econômico de Campinas, Adriana Flosi, a maioria das novas empresas abertas é do setor de serviços, criadas por pessoas que já tinham experiência na área e optaram por abrir o próprio negócio. Nesse grupo, estão pessoas que sofreram com o desemprego causado pela pandemia e encontraram no empreendedorismo a alternativa ante a falta de oportunidades.
"Temos um número maior de pessoas que empreenderam por necessidade. São pessoas que tinham conhecimento em uma área e montaram o próprio negócio, muitas com auxílio de recursos do Banco do Povo. Mesmo as empresas já estabelecidas buscaram recursos para ampliar. São investimentos para garantir a própria renda. Já quando falamos de grandes empresas, há uma estrutura maior, um negócio definitivo e com maior impacto no mercado. Mas de forma geral, são pessoas que tiveram um olhar para o crescimento e resolveram empreender", explicou Adriana.
A secretária apontou que fatores como o Programa de Ativação Econômica e Social (Paes), que prevê R$ 4 bilhões em investimentos e a geração de mais de 20 mil empregos no município, a nova Lei de Incentivos Fiscais, regulamentada em junho, e o Programa Recomeça, que oferece empréstimos com juros mais baixos, auxiliaram nesse processo.
"Há uma melhora em toda a performance até para novos empreendimentos e são muitos novos empreendimentos que vieram. Isso acaba trazendo uma renda maior, atraindo novos empregos para essas áreas e faz com que a economia gire mais. Quando você tem mais pessoas empregadas, você tem a economia girando mais", defende.
A cobertura vacinal e a saída da pandemia também permitiram a melhora da performance do setor.
Cenário de incertezas
Apesar de Campinas ter registrado o melhor saldo desde 2019, ainda há desafios para os empreendedores. Só no primeiro semestre deste ano, foram 1.897 fechamentos, também o maior número desse indicador desde 2019. Além da alta da inflação, as inseguranças no setor econômico impedem que as empresas se sustentem no mercado.
O campo político também interfere e, de acordo com Adriana, embora se espere um maior crescimento de empresas no segundo semestre, o impacto das eleições deve ser sentido entre os empresários.
"Este semestre será mais complicado. Serão pelo menos 90 dias de indecisão, do ponto de vista político, o que interfere na decisão do empresário. Isso porque a escolha de muitos empresários se baseia em quem será o próximo presidente da República, que tipo de política será instaurado, o impacto disso na inflação e quem assumirá o Governo do Estado. A instabilidade política traz uma preocupação nos investimentos. Então, muita gente segura para investir, aguardando uma sinalização. Mas, de qualquer forma, vemos um cenário positivo em Campinas."
Segundo ela, para empresários não amargarem déficits, é necessário que se busque qualificação a fim de driblar esses desafios. "Para você manter uma empresa, é analisado sempre o ponto de vista de preparo do empresário. A gente precisa também ter um cenário econômico melhor, queda da inflação e aumento do poder de compra das pessoas. Mas não é só disso que vive a empresa. Para crescer e se manter, ela precisa ter equilíbrio. Para isso, é imprescindível que o empresário se qualifique. Há uma preocupação bastante grande nesse sentido", pondera.
Novos empreendedores
Em 23 de maio deste ano, Rafael Guirardelli Ramos, de 31 anos, abriu uma empresa voltada ao setor de alimentos. Ele investiu em um sonho que carregava há anos: ter o próprio café e restaurante. O local funciona em um espaço no bairro Ouro Verde, repaginado para dar lugar ao empreendimento.
"Eu trabalho no ramo há 12 anos, então, surgiu a oportunidade de migrar para a região do Ouro Verde e, com todo meu conhecimento e experiência, vim aqui, fiz alguns ajustes e abri meu negócio", conta. Desde então, a jornada do empreendedor passou para 60 horas semanais, mantendo uma dedicação exclusiva para alavancar o local. "Queremos atingir vários tipos de público. Quando você tem uma marca já lançada no mercado, é mais fácil. Mas uma marca nova é sempre mais difícil, todo dia você se desafia mais."
Mesmo com a alta da inflação, o empreendedor consegue oferecer cardápios com novas opções diárias e manter o quadro de funcionários, que ainda pretende ampliar com duas novas contratações.
Já Juliana Prochnow Borges optou por fortalecer o trabalho que já desenvolvia como designer. Mesmo com 21 anos, ela abriu, na própria casa, uma agência que presta serviços de comunicação visual para pequenas e médias empresas. A abertura oficial foi no mês passado, no dia 21. "Quando comecei a trabalhar, não era meu maior sonho, queria ser empregada de grandes empresas, mas com o incentivo de meu pai, acabei caminhando para o mundo do empreendedorismo e me encontrei nesse fluxo e ritmo de trabalho. Como estou no começo, está sendo complicada a prospecção de clientes, pois a situação ruim da economia está para todos, todavia, estou estudando e me especializando para que isso não seja um impasse nos negócios", pondera.
Com um pouco mais de experiência na área, a nutricionista Luciana Araújo Daniel, de 35 anos, investiu no que já fazia desde 2019, abrindo este mês uma nova empresa dentro do setor de moda, no qual já investia.
"Sou formada em Nutrição, mas nunca trabalhei na minha área. Em 2019, no auge da pandemia, trabalhava com isenções de impostos, prestava serviços para pessoas e famílias isentarem impostos federais e estaduais na aquisição de veículos. Com as mudanças nesse segmento, me vi na necessidade de inovar. A moda era um hobby, e eu resolvi tornar profissão. Em dezembro de 2019, inaugurei a minha primeira loja. Mas existia o desafio, pois logo em seguida, tudo fechou, estávamos no ponto mais crítico da pandemia, mas mesmo assim, não desanimei e, pelo contrário, usamos as dificuldades para prestar um atendimento diferenciado e focado na necessidade de cada cliente", conta.
Ela conseguiu manter a primeira empresa, migrando os clientes da região de condomínios nos arredores da estrada Campinas-Mogi Mirim para o bairro Cambuí, onde está sua nova loja.
Apesar do avanço, ela aponta que ainda não tira todo o sustento do empreendimento. "A inflação contribuiu muito para as altas dos produtos, mas acredito que o atendimento e a forma de cativar e fidelizar o cliente contribuem para o sucesso nas vendas. Empreender é isso. O mar sempre tem ondas e a gente tem que pulá-las", sustenta.