Manifestantes pediram mais atenção à categoria, que vem sofrendo preconceito em razão de criminosos estarem usando mochilas semelhantes aos de motoboys (Gustavo Tilio)
Ao menos 60 motoboys protestaram nesta segunda-feira, em Campinas, contra uma ação da Polícia Rodoviária ocorrida na última sexta-feira (3), em que um motoboy foi baleado na boca durante uma abordagem. Os profissionais pediram o afastamento do policial e também mais atenção à categoria, que vem sofrendo preconceito em razão de criminosos estarem usando mochilas semelhantes aos de motoboys para a realização de crimes.
Os motociclistas que trabalham com entrega delivery participaram de uma motociata, que saiu por volta das 8h30 da Avenida Guilherme Campos, seguindo pelas vias Orosimbo Maia, Francisco Glicério, Moraes Sales, Anchieta, até chegar ao Paço Municipal por volta das 10h.
À tarde, um grupo, com cerca de 20 profissionais, concentrou-se na região do Bosque e seguiu para a Norte-Sul, ruas do Cambuí até o Centro de Convivência, onde se dispersaram. Nesse ato, eles usaram um cartaz pequeno pregado na bag, com os dizeres “#Somos trabalhadores e não bandidos”. “Queremos melhorias. Somos abordados por qualquer motivo, até po uma lâmpada que não funciona, além de humilhação”, contou o motoboy Gabriel Pereit, que chegou a ouvir o tiro que atingiu o colega de trabalho.
A abordagem policial aconteceu em um gramado lateral da faixa de rolamento do Anel Viário Magalhães Teixeira, perto da ponte do segundo acesso a Valinhos, onde o grupo costuma se reunir para aguardar os pedidos.
De acordo com os motoboys, a vítima, Thalles de Oliveira Silva, estava com um grupo de amigos quando uma viatura da Polícia Rodoviária parou. Silva estava sem a habilitação e, com medo de ter a moto apreendida, teria tentado fugir, mas foi segurado pelo policial.
Segundo testemunhas, Silva estava no chão, imobilizado, quando o policial foi dar uma coronhada e a arma disparou. “O policial não precisava ter feito o que fez. Ele não ia reagir. Estava imobilizado. Foi abuso de autoridade”, disse um motoboy que não quis ser identificado.
O motoboy baleado foi levado ao Hospital Dr. Mário Gatti, onde segue internado sem risco de morte. Na tarde de ontem, ele deixou a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e foi transferido para o quarto, onde aguarda uma cirurgia no maxilar.
“Infelizmente nossa categoria está sendo usada pelos criminosos, mas a maioria é de trabalhadores. Está sendo complicado para a categoria. Os profissionais queixam para a iFood, mas nenhuma medida é tomada. Nem todo o motoqueiro é bandido”, lamentou-se o motoboy William Ferreira.
No ato realizado em frente à Prefeitura, os motoqueiros empilharam as mochilas de entrega na escadaria e fizeram uma oração pela recuperação de Silva.
O caso foi registrado como lesão corporal na Delegacia de Valinhos, mas todas as provas foram levadas pela PM para o batalhão.
A reportagem entrou em contato com a Polícia Militar, em São Paulo, mas até a noite desta segunda-feira não houve retorno.
A empresa Ifood informou que também está apurando o que aconteceu e adiantou que os motoboys dispõem de pontos de apoio. A companhia informou que está verificando dados sobre o ponto do Anel Viário onde os entregadores ficam para tentar conseguir um valor a mais nas corridas.
A Prefeitura não quis se manifestar sobre o protesto, que foi acompanhado pela Guarda Municipal.