ORÇAMENTO

Em Campinas, crise concentra gastos no essencial

Pesquisa mostra que população não tem condições de arcar com o que é supostamente supérfluo

Daniel de Camargo
daniel.camargo@rac.com.br
19/07/2019 às 20:35.
Atualizado em 30/03/2022 às 19:25

Num efeito colateral da crise econômica que o Brasil atravessa nos últimos anos, os gastos essenciais, ou seja, despesas que em nenhuma hipótese poderão ser eliminadas do orçamento por serem obrigatórias (transporte, alimentação e medicamentos, por exemplo), estão consumindo um percentual maior do orçamento do campineiro. A análise sintetiza os dados apresentados no Índice de Potencial de Consumo Nacional (IPC MAPS), que comparou estatísticas de 2014 e 2019. Segundo Marcos Pazzini, diretor da IPC Marketing, empresa responsável por esse estudo desde 1995, a população não tem condições, hoje, de arcar com o que é supostamente supérfluo, como viagens, atividades culturais ou de lazer. ` A análise reflete o potencial de consumo com base em dados oficiais por meio de geoprocessamento, tendo como principal fonte o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). São consideradas ainda estatísticas de abertura e fechamento de empresas e informes da Receita Federal, entre outros. Pazzini explica que foram avaliadas 22 categorias de consumo: alimentação fora do domicílio, alimentação no domicílio, artigos de limpeza, bebidas, calçados, despesas com recreação e cultura, despesas com viagens, eletrodomésticos e equipamentos, fumo, gastos com medicamentos, gastos com veículo próprio, higiene e cuidados pessoais, livros e material escolar, manutenção do lar, materiais de construção, matrículas e mensalidades, mobiliários e artigos do lar, outras despesas, outras despesas com saúde, outras despesas com vestuário, transportes urbanos, vestuário confeccionado. De 2014 para cá, transportes urbanos, que incluem desde o transporte público coletivo até o transporte por aplicativo, foi a categoria que registrou o maior crescimento: 62,4%. Há cinco anos, o campineiro assinalava um potencial de consumo de cerca de R$ 600 milhões para esse item, tido como essencial. Atualmente, o valor fica na casa dos R$ 974 milhões. Pazzini frisa que na outra ponta do gráfico, os gastos com veículo próprio aumentaram só 10,2%, saltando de R$ 1,5 bilhão para algo em torno de R$ 1,6 bilhão. O executivo contextualiza que utilizar o transporte por aplicativo, por exemplo, elimina uma possível despesa com estacionamento, além de evitar a depreciação do automóvel. "Fora isso, você pode dividir o valor da corrida com outros três colegas", pontua. De acordo com Pazzini, em 2014, muitos financiamentos foram realizados possibilitando que as pessoas comprassem carros e motos. Para ele, atualmente, esses veículos têm permanecido mais tempo parados nas garagens das casas do que circulando nas ruas. Vale destacar ainda que o valor da tarifa do transporte coletivo em Campinas aumentou. Há cinco anos, era R$ 3,30. No momento, R$ 4,95. O ponto mais relevante, indica Pazzini, entretanto, é a crise que assolou o Brasil de lá para cá. Em 2014, o Produto Interno Bruto do País cresceu só 0,5 %. Em 2015 e 2016, caiu (-3,55%) e (-3,31%), respectivamente. Nos últimos dois anos, 2017 e 2018, mostrou leve reação subindo 1,06% e 1,12 %, respectivamente. A expectativa para este ano, segundo última estimativa do Relatório de Mercado Focus de junho passado, é de alta de 1%. Pazzini cita ainda o fator desemprego: segundo levantamento recente da Associação Comercial e Industrial de Campinas (Acic), a cidade tem mais de 80 mil pessoas fora do mercado de trabalho. "Em 2014, a população comprava a prazo porque tinha certeza que conseguiria honrar essas prestações. Isso, graças a garantia de emprego. Hoje, todos estão receosos e deixando de consumir", disse. "Quando não há consumo, a economia, de certa forma, fica paralisada, resultando em descompasso de preços entre as categorias", completou. No que diz respeito às despesas indispensáveis, na comparação entre 2014 e 2019, os gastos com artigos de limpeza cresceram 49,4%, pulando de aproximadamente R$ 133 mil para R$ quase R$ 199 mil. Já os valores despendidos para a alimentação no domicílio subiram 47%, passando de mais de R$ 2,3 bilhões para cerca de R$ 3,4 bilhões, enquanto recursos destinados à compra de medicamentos aumentaram em 46,7%, indo de R$ 749 milhões para próximo de R$ 1,1 bilhão. Em compensação, matrículas e mensalidades foi a única categoria a registrar retração, (-3%). O campineiro investiu em torno de R$ 740 milhões no item em 2014, e estima-se R$ 717 milhões para esse ano. As despesas com viagens cresceram somente 8%, saltando de R$ 497 milhões para R$ 537 milhões. Apesar do campineiro ter perdido poder de compra entre 2014 e 2019, o potencial de consumo de Campinas cresceu 24,4% no período, saltando de pouco mais de R$ 27,476 bilhões em 2014 para aproximadamente R$ 34,276 bilhões neste ano. No momento, o município é o segundo do Estado e o 12º do País em potencial de consumo. Há cinco anos a cidade apresentou o mesmo resultado. Em 2018, entretanto, Campinas estava duas posições acima na comparação nacional.  

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Anuncie
(19) 3736-3085
comercial@rac.com.br
Fale Conosco
(19) 3772-8000
Central do Assinante
(19) 3736-3200
WhatsApp
(19) 9 9998-9902
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por