bom desempenho

Em Campinas, construção civil cresce e eleva geração de empregos em 33%

Apesar do aumento em relação a 2021, a previsão para 2023 não é tão positiva

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
18/06/2022 às 09:21.
Atualizado em 18/06/2022 às 09:21
Previsão é que o município acompanhe o desempenho do Estado de São Paulo, este ano, com alta de 3% no Produto Interno Bruto do setor, segundo balanço do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Kamá Ribeiro)

Previsão é que o município acompanhe o desempenho do Estado de São Paulo, este ano, com alta de 3% no Produto Interno Bruto do setor, segundo balanço do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Kamá Ribeiro)

O setor da construção civil de Campinas deverá fechar 2022 com crescimento pelo segundo ano consecutivo. A previsão é que o município acompanhe o desempenho do Estado de São Paulo, com alta de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) do setor, que é a soma de todos os bens e serviços finais produzidos, de acordo com balanço divulgado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre). Como consequência, os empregos gerados no setor este ano cresceram 33,33% em relação a 2021.

Para o diretor da Regional Campinas do Sindicato da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), Marcio Benvenutti, o resultado previsto para este ano é influenciado pelo bom desempenho registrado em 2021.

"A avaliação do setor é que o ano passado foi positivo em relação ao número de lançamentos imobiliários. Levando-se em conta que o prazo médio de uma obra gire em torno de 18 meses, ainda durante 2022 teremos os reflexos desses novos empreendimentos", afirma. De acordo com a Secretaria Municipal de Planejamento e Urbanismo (Seplurb), Campinas aprovou empreendimentos imobiliários, no ano passado, que somam R$ 9,133 bilhões em potencial de Valor Geral de Venda (VGV), dos quais 13.257 são unidades residenciais e 699 para a instalação de comércio e serviços.

A pasta aponta que o setor segue aquecido em 2022. Em janeiro e fevereiro, a Seplurb aprovou empreendimentos que totalizam VGV de R$ 735,8 bilhões, sendo 2.492 unidades residenciais e 161 comerciais. Uma construtora que atua em Campinas lançou recentemente um empreendimento com 130 apartamentos no Jardim Proença e tem outros dois previstos para chegarem ao mercado, com mais 210 unidades, no Cambuí e Chácara da Barra. Ela tem ainda outras cinco torres em construção, que totalizam 928 apartamentos, nos bairros Nova Campinas, Guanabara, Centro e Taquaral, programados para serem entregues entre novembro próximo e maio de 2025. 

Outra empresa prevê lançar, no segundo semestre, um empreendimento misto no bairro Botafogo com 150 apartamentos, duas lojas, um mercado, dois restaurantes e quatro salas de cinema. Os 33,4 mil metros quadrados de construção terão investimentos previstos inicialmente em R$ 50 milhões. 

Empregos

Como consequência da alta na construção civil, está ocorrendo a retomada na geração de empregos. De acordo com o diretor do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção, Montagem e Mobiliário de Campinas e Região (Sinticom), Juscelino Souza de Novaes Júnior, há atualmente cerca de 20 mil postos de trabalho ocupados, o mesmo patamar de 2019, último ano antes da pandemia da covid-19.

"Está melhor do que no ano passado, mas ainda não voltou ao mesmo patamar de 2010 a 2014", afirma. Em comparação ao ano passado, quando o setor empregava em torno de 15 mil pessoas, o aumento é de 33,33%. Porém, ainda está longe de voltar ao nível de oito anos atrás, quando o número de trabalhadores chegava a 50 mil. Ou seja, o total este ano é equivalente a 40% do verificado em 2014. De cada cinco postos de trabalho naquele ano, três foram fechados.

O reflexo dessa queda e da crise econômica que o País enfrenta, desde então, afeta os salários da categoria. "Nós estamos conseguindo repor as perdas salariais, mas não aumento real", afirma o sindicalista. Entenda-se por reposição os reajustes pela inflação oficial, mas Novaes Júnior aponta que os impactos que os trabalhadores sentem no bolso ao ir ao supermercado são maiores.

Perspectiva para 2023

O resultado positivo de 2021 e que deve se repetir este ano não garante, porém, uma perspectiva otimista para 2023. A economista Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos de Construção do FGV/Ibre, alerta que a escalada de preços dos materiais de construção reduz as margens de lucro das construtoras e ameaça paralisar as obras, reduzir as compras de insumos e causar demissões.

O diretor regional do SindusCon acrescenta outro ingrediente, a alta dos juros, que torna incerto o desempenho no próximo ano. "Com a manutenção do quadro atual de juros altos para financiamentos e constantes aumentos nos preços das matérias-primas para as construtoras, as expectativas do setor são negativas para 2023", afirma Benvenutti. 

O Índice Nacional de Custo de Construção (INCC), divulgado esta semana pela Fundação Getúlio Vargas, subiu 5,28% nos primeiros cinco meses deste ano, com a alta atingindo 11,59% em 12 meses. O indicador mede o aumento dos custos dos insumos utilizados em construções habitacionais. De janeiro a maio, já superou o teto da meta inflacionária de 5% prevista pelo governo federal para o ano todo.

O INCC é utilizado para reajustar as parcelas dos contratos de compras de imóveis em fase de construção. Ou seja, os clientes estão pagando prestações cada vez mais altas, que estão subindo mais rápido do que os salários. Com isso, comprometem uma parte cada vez maior do orçamento doméstico. 

Em maio, os materiais de construção subiram 1,7%, pressionados principalmente pela alta do preço do aço, que encostou em 7%. De acordo com o SindusCon, os aumentos estão levando o setor a buscar saídas para encontrar novos fornecedores e amenizar essa pressão de custos. Os empresários estão, por exemplo, comprando aço da Turquia. Dois lotes já foram adquiridos este ano e um terceiro está em vias de importação.

Além desse produto, pressionam o custo a alta do preço do elevador, que chega a 24,22% em 12 meses, e do cimento, que teve reajuste acumulado de 15% entre abril e maio. 

Para o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, o INCC superior à inflação geral provoca um descolamento entre renda, capacidade de compra e preço do imóvel. "A nossa preocupação é com o amanhã. A venda de hoje é o emprego de amanhã", disse. 

Outro fator a preocupar a construção civil é o aumento da taxa de juros. Na quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) indicou que poderá elevar a Selic, que é a taxa básica de juros, para até 13,75% ao ano na próxima reunião, que será em 2 e 3 de agosto. 

Os juros dos contratos habitacionais não costumam acompanhar a Selic, mas as entidades de financiamento do setor imobiliário dão como certa a desaceleração da oferta de crédito diante do receio de que os clientes não terão condições de arcar com os empréstimos. Atualmente, a taxa desse tipo de empréstimo varia de 9,75% a 10,75% ao ano. Em fevereiro passado, era 8,5% ao ano contra 4,5% no início de 2021. 

A Região Metropolitana de Campinas (RMC) é hoje a segunda maior tomadora de financiamentos imobiliários junto à Caixa Econômica Federal, que é responsável por 85% dos empréstimos nessa área no País. Ela fica atrás apenas da Região Metropolitana de São Paulo. 

Ana Castelo manifesta ainda preocupação com o efeito dos aumentos de saques do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), o que reduz os recursos para os financiamentos habitacionais.

Para o economista Robson Ribeiro Gonçalves, o cenário hoje está mais para uma desaceleração da economia, o que afetará também a construção civil. Ele aponta como fatores que contribuem para essa perspectiva a alta de juros nos Estados Unidos, a guerra entre a Rússia e Ucrânia e os lockdowns que prosseguem na China por causa da covid-19.

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