PROJETO SUSTENTÁVEL DA PUC-CAMPINAS

Em Campinas, alunos ensinam domésticas a fazer produtos de limpeza

Objetivo é evitar a poluição ambiental e prevenir casos de intoxicação

Edimarcio A. Monteiro / [email protected]
03/10/2022 às 12:41.
Atualizado em 03/10/2022 às 12:41
Projeto de extensão da Faculdade de Química da PUC-Campinas envolve 40 estudantes que, em parceria com o Sindicato dos Trabalhadores Domésticos, dão aulas sobre como fazer produtos sustentáveis (Divulgação)

Projeto de extensão da Faculdade de Química da PUC-Campinas envolve 40 estudantes que, em parceria com o Sindicato dos Trabalhadores Domésticos, dão aulas sobre como fazer produtos sustentáveis (Divulgação)

A Faculdade de Química da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) desenvolve um projeto para ensinar a comunidade a fazer produtos de limpeza sustentáveis na própria casa, de forma a evitar a poluição ambiental e prevenir casos de intoxicação. Em aulas desenvolvidas em parceria com o Sindicato dos Trabalhadores Domésticos de Campinas e de outras cidades da região, os participantes aprendem a fazer produtos de limpeza, utilizando itens atóxicos facilmente encontrados em casa, como sabão neutro, água, limão, vinagre, bicarbonato de sódio e outros. O trabalho envolve também ações de conscientização e distribuição de materiais educativos.

A pandemia da covid-19 levou ao aumento do uso de produtos de limpeza no Brasil, que chegou a 2,72 milhões de toneladas em 2021, o que representa uma alta de 6,04% em relação aos 2,56 milhões de toneladas consumidos no ano anterior, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes (Abipla). O País é hoje o quinto maior consumidor de produtos de higiene e limpeza no mundo, mercado que movimentou US$ 6 bilhões (R$ 32,4 bilhões) em 2021. O valor representou 3,41% do faturamento global do setor, que chegou aos US$ 176 bilhões (R$ 950,4 bilhões).

A utilização descontrolada de produtos e, principalmente, o uso de itens não biodegradáveis causam danos ao meio ambiente e podem colocar em risco a saúde humana. Assim, atividades simples como lavar louças ou roupas podem produzir resíduos que prejudicam a natureza. “Há produtos ácidos (com baixo nível de pH) que, ao chegarem à rede de esgoto, causam a corrosão das tubulações”, explica o coordenador do projeto “Conscientização sobre Utilização Correta de Produtos de Limpeza Comerciais e Confecção de Produtos de Limpeza Sustentáveis” e diretor da Faculdade de Química da PUC-Campinas, Marcelo José Della Mura Jannini.

Além disso, resíduos de sabão em pó e detergentes que não são biodegradáveis produzem, muitas vezes, substâncias tóxicas ou poluição que podem ficar meses ou até anos acumulados nos rios e lagos. A espuma impede a passagem do oxigênio e o resultado é a destruição de espécies de plantas e peixes.

"A utilização inadequada de produtos de limpeza é uma das principais causas de internações por intoxicação”, afirma Jannini. De acordo com o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), em 2020, foram registrados 4.652 casos provocados por saneantes no País, ou seja, uma ocorrência a cada meia hora. Esses casos equivalem a 6,11% das 76.115 intoxicações ocorridas no Brasil e colocam os produtos de limpeza em quinto lugar no ranking das principais causas, atrás apenas dos medicamentos, agrotóxicos (agrícolas e domésticos), produtos veterinários e raticidas.

Como funciona

Desde que foi iniciado em 2014, o projeto de extensão da PUC-Campinas envolve aproximadamente 40 estudantes de todas as séries do curso de Química. Os alunos vão até os sindicatos para ensinar os trabalhadores a fazer produtos de limpeza sustentáveis com materiais caseiros, de forma segura, e orientá-los sobre os cuidados necessários para evitar intoxicações.

O coordenador alerta que a simples mistura de produtos comerciais pode gerar riscos. Ele cita, como exemplo, o uso de água sanitária com água quente, o que causa a evaporação do cloro, que satura o ar. “Isso pode fazer com que pessoas que estejam no ambiente passem mal ou até desmaiem, podendo bater a cabeça e se machucar”, diz o diretor da Faculdade de Química.

Ele cita outras misturas que envolvem água sanitária que não podem ser feitas: com amoníaco, álcool, água oxigenada ou vinagre. “Essas combinações reagem entre si gerando produtos tóxicos à saúde”, afirma. Marcelo Jannini orienta a sempre utilizar água sanitária diluída em água fria e a nunca fechar as portas para limpar banheiros após higienizar os lavatórios com esse produto.

“Há produtos, mesmo os comerciais mais comuns, que aquecidos ou misturados a outros podem gerar gases tóxicos ou queimar a pele de quem manuseia sem proteção”, alerta o professor. Ele observa que muitos trabalhadores que participaram das aulas passaram a fazer produção caseira dos produtos e, em alguns casos, a usá-los também nas residências onde trabalham.

Novas etapas

O professor avalia a ampliação do projeto de extensão. Duas das possibilidades em estudo é levar o trabalho para condomínios e retomar as ações em comunidades, como já ocorreu anteriormente em outras cidades, como Hortolândia, Sumaré e Piracicaba. Este ano, foi iniciada a produção mensal de 440 litros de multiuso sustentável, de preparo fácil e atóxico, utilizado para a higienização de móveis e salas de aula do Centro de Ciências Exatas, Ambientais e de Tecnologias (Ceatec), o que gera uma economia anual de R$ 6 mil ao dispensar a aquisição do produto comercial.

Há previsão para que o uso seja estendido a todo o Campus I da universidade e, futuramente, para o Campus II. O multiuso é produzido em laboratório da Faculdade da Engenharia Química por seis alunos do 2º ao 5º ano. O saneante foi testado pela equipe de limpeza da PUC, que aprovou a qualidade e eficiência antes de iniciar o uso em escala.

Uma nova etapa do projeto é a produção de desinfetante e detergente, que estão em fase de testes. A Faculdade de Química da PUC-Campinas faz análises de laboratório para avaliar a qualidade dos itens de limpeza comerciais, dos saneantes sustentáveis e também dos chamados produtos piratas, aqueles vendidos por ambulantes nos bairros, oferecidos por preços mais baixos.

“Eles são coloridos e perfumados, mas não têm atividade nenhuma”, diz Jannini. Ou seja, os itens clandestinos são ineficientes para limpeza. Esses produtos foram comprados no varejo, são os mesmos que os consumidores adquirem. Os testes, acrescenta, mostram que os saneantes sustentáveis são eficazes, enquanto os comerciais apresentam os melhores resultados.

O coordenador do projeto orienta, no entanto, os consumidores a usarem a diluição indicada pelos fabricantes, pois a eficiência na limpeza será a mesma de usar o produto puro. “A pessoa somente vai gastar mais”, explica.

RECEITAS DE PRODUTOS SUSTENTÁVEIS

LIMPADOR MULTIUSO PARA COZINHAS E BANHEIROS

- 1/2 xícara de vinagre

-1/4 xícara de bicarbonato de sódio

- 2 litros de água

Modo de usar

Misture os itens e aplique o produto em um pano multiuso. Use-o para esfregar as superfícies da cozinha, pia, lava-louças, espelhos, janelas e chuveiros. Para ladrilhos ou pias de banheiro, limpe as superfícies primeiro com vinagre, depois esfregue com bicarbonato de sódio diretamente na superfície, finalize com um pano úmido e enxágue.

ALVEJANTE - BRANQUEADOR

- Suco de limão

Modo de usar

Coloque uma pequena quantidade de suo de limão sobre as manchas das roupas brancas e deixe-as ao Sol por um tempo. Em seguida, laveas como de costume.

AMACIANTE DE ROUPAS

- 5 xícaras de vinagre branco

- Óleo essencial da fragrância desejada

- 1 litro de água

Modo de usar

Adicione o vinagre e 6 a 10 gotas da essência à água. Agite. Adicione 1 ou 2 copos da mistura durante o ciclo da máquina de lavar roupas.

LIMPA PISO

- Vinagre branco

- Óleo essencial de lavanda

Modo de usar

Encha metade do recipiente com vinagre branco e complete com água. Depois, adicione de 15 a 20 gotas da essência e misture tudo. Despeje a mistura no chão, deixe agindo por alguns segundos e passe um pano limpo.

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