alterações climáticas

Em busca da restauração ecológica

O clima vai muito além de nossas impressões cotidianas e o tema não só é sério como fundamental quando discutimos sobre o futuro da humanidade

Adriana Giachinni
15/08/2019 às 10:11.
Atualizado em 30/03/2022 às 18:06

As alterações climáticas são tema constante nas rodas de conversa, sejam elas entre vizinhos, pais na porta da escola, colegas de trabalho, entre outros grupos. Inverno quente, período de chuvas com estiagem e outras discrepâncias climáticas no mundo todo. O clima vai muito além de nossas impressões cotidianas e o tema não só é sério (e de grande atualidade) como fundamental quando discutimos sobre o futuro da humanidade. A mudança repentina de temperatura é uma alerta e um convite para uma reflexão sobre os porquês das alterações climáticas cada vez mais sentidas em nosso dia a dia e suas consequências para o Planeta. A discussão, dessa forma, é também sobre o desmatamento, o aquecimento global e a importância da restauração das florestas – que, segundo dados da ONU, absorvem por ano cerca de 2 bilhões de toneladas de CO2. Atualmente, cerca de 20% das emissões de gases do efeito estufa são causadas pelo desmatamento. No Brasil, onde recentemente acompanhou-se a polêmica demissão do diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Magnus Osório Galvão, após apontar dados recordes de desmatamento da Amazônia, em junho — sendo questionado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) —, o tema ganha uma boa notícia: feita em Campinas, a pesquisa desenvolvida pelo ecólogo Vinícius Londe Ferreira, promete auxiliar pessoas envolvidas em processos de restauração ecológica. Em tese de doutorado defendida no Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, Londe abordou questões que podem auxiliar na escolha do método de restauração apropriado, na comparação de resultados com florestas maduras (originais), no esforço de amostragem adequado e no aperfeiçoamento de protocolos de monitoramento e políticas públicas voltadas à restauração. O resultado da pesquisa, apresentado em março, é decorrente de quatro anos de estudos intensos. “Eu sempre gostei de estudar formas de restauração e já tinha algo similar, feito para o meu mestrado, pela Universidade de Ouro Preto, em Minas Gerais. Porém o desafio e meu sonho era vir para São Paulo, que é o estado mais avançado nesta área”. O trabalho de Londe é voltado para áreas que necessitam de assistência para voltar ao chamado estágio maduro. Com o título “Contribuições para o monitoramento e avaliação de áreas em restauração na Mata Atlântica: esforço de amostragem ideal, valores de referência para os indicadores ecológicos e diferenças entre métodos”, a tese teve como orientadores os professores Fernando Roberto Martins, do IB da Unicamp, e Ricardo Ribeiro Rodrigues, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP – e financiamento de CNPq e Fapesp. “A Mata Atlântica é o bioma brasileiro com menor cobertura de vegetação original devido a vários processos de degradação e, por sua valiosa importância ecológica e socioeconômica, tem recebido grandes esforços de restauração”, observa Vinícius Londe. Nela, Londe acompanhou o monitoramento e avaliação de 967 áreas na Mata Atlântica, que somam quase 2 milhões de metros quadrados de amostragem; dessas, 733 são áreas em restauração. “Esse é o maior banco de dados de monitoramento de áreas em restauração que temos conhecimento. Os resultados foram obtidos em um banco de dados criado pelo pesquisador Fabiano Turini Farah (colaborador da tese) no Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal (LERF) da Esalq, englobando 550 áreas jovens em restauração, e em consultas na literatura científica realizadas por mim, que culminaram em 417 áreas em restauração mais antigas e florestas secundárias e maduras. Usamos essas informações para esclarecer algumas questões em aberto e de interesse para a restauração ecológica.” Própria vegetação oferece parâmetros para análises Uma das questões apresentada na tese do pesquisador diz respeito a valores de referência, algo até então inédito no Brasil. Todo o trabalho de Londe foi realizado em áreas após a implantação da restauração. Ele estudou o diagnóstico e a recuperação gradativa, fazendo uso de dados de monitoramentos. Com o cruzamento dessas informações, foi possível criar uma espécie de tabela de valores de referência. “Na prática, torna-se possível utilizar parâmetros da própria vegetação, para saber se está funcionando a recuperação. Tendo essa base de comparação, fica mais fácil fiscalizar e até mesmo demonstrar para órgãos públicos a eficiência do que está sendo feito”. A tese ainda aborda a amostragem ideal (quanto de área é preciso amostrar) e sua importância para monitorar adequadamente as áreas em restauração. Até o momento, segundo a Unicamp, apenas um estudo havia sido publicado com esse objetivo. “Conhecendo a área de amostragem ideal, os próximos monitoramentos podem ser melhor direcionados e gerar resultados confiáveis”,acredita. Londe estudou 14 indicadores ecológicos que refletem o desenvolvimento da vegetação nestas áreas. “Observamos que a área de amostragem ideal foi de 1.000 metros quadrados, excetuando-se a cobertura por gramíneas agressivas, que deve ter 90 metros quadrados.” Em sua pesquisa, o ecólogo trabalhou com três métodos de restauração de florestas: restauração ativa, com o plantio de mudas em área total; restauração passiva, também chamada de sucessão secundária, na qual após o abandono da área é trabalhado o potencial de regeneração natural – e que segundo ele é menos recomendada; e a restauração assistida, na qual, também se respeita a regeneração natural, porém com algumas intervenções para acelerar todo o processo. As áreas estudadas tinham entre três meses e 50 anos de idade.

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