SOLIDARIEDADE

Em aula, alunos escrevem cartas para refugiados sírios

Tirar os alunos da realidade das redes sociais, resgatar o velho hábito de escrever cartas e a prática da cidadania: esses são alguns dos objetivos do projeto Love Letters (Cartas de Amor)

Rafaela Dias
29/04/2017 às 20:33.
Atualizado em 22/04/2022 às 19:33
A professora Aline Bottcher Ferrarezi verifica o material feito pelos adolescentes: uma experiência que desperta o hábito da escrita e a cidadania (Patrícia Domingos/AAN)

A professora Aline Bottcher Ferrarezi verifica o material feito pelos adolescentes: uma experiência que desperta o hábito da escrita e a cidadania (Patrícia Domingos/AAN)

Tirar os alunos da realidade das redes sociais, resgatar o velho hábito de escrever cartas e a prática da cidadania: esses são alguns dos objetivos do projeto Love Letters (Cartas de Amor), realizado pela professora de inglês do Colégio AESC Objetivo, Aline Bottcher Ferrarezi. A iniciativa começou no ano passado quando a educadora resolveu levar para as salas de aula, reflexões sobre os conflitos na Síria e a situação dos refugiados. “Mostrei alguns vídeos da ONU que revelaram a situação das milhares de pessoas que vivem nessa enorme crise humanitária e depois fizemos uma reflexão levantando algumas palavras que representassem os sentimentos de cada um. Trouxemos até um refugiado que hoje mora em Campinas para contar a sua experiência de vida. Os alunos ficaram muito sensibilizados”, contou. “Foi então que tive a ideia de começar um projeto onde os adolescentes pudessem contar suas histórias de vida e compartilhar palavras encorajadoras com essas pessoas. Entrei em contato com a ONG Care International e eles prontamente fizeram uma parceria”. Esse ano a educadora está colocando o projeto em prática com 140 alunos de 8º e 9º anos. “É uma experiência incrível”, foi assim que Nicole Gonçalves, de 15 anos descreveu a sua primeira carta no projeto. A adolescente mora com a avó, tem os pais separados e enfrentou a morte da irmã quando era mais nova. A carta, cheia de emoção, conta sua história de vida e leva esperança para os refugiados. "Do que eu posso reclamar? Tenho amor, comida e uma boa escola. Os problemas deles são muito maiores que os meus. Tentei pedir que eles não desistam da felicidade" , disse. Para a aluna, é muito importante a liberdade de poder escrever suas próprias ideias e ainda praticar o idioma. “Escrever em inglês é um desafio e tanto, mas participar do Love Letters é mais importante”. A professora contou que faz apenas correções ortográficas nos textos. “Não interfiro no conteúdo, mesmo porque se trata dos sentimentos desses adolescentes. Apenas dou uma direção gramatical. A ideia é que correspondências fiquem o mais natural possível, mesmo porque essa geração está muito habituada a escrever nas redes sociais e não usa mais papel e lápís. É um projeto cheio de pontos positivos. Desenvolvemos a escrita e a narrativa da língua, mas o mais importante é a vivência com a cidadania”, disse. As cartas feitas pelos alunos são enviadas para a ONG em inglês, depois são traduzidas em árabe e então enviadas aos refugiados. A educadora contou ainda que os alunos não recebem respostas e não sabem pra quem estão escrevendo. “Mesmo não recebendo respostas, as cartas se tornaram muito pessoais e permitem os alunos entrarem na realidade dessas pessoas que tanto sofrem”, diz. Para Vitor Marcomini de 14 anos, o projeto é uma grande reflexão. “Nós paramos para pensar no quanto reclamamos todos os dias por nada e isso nos inspira a mandar mensagens de esperança”. Lucas Leoniani, de 13 anos escreveu para os sírios a primeira carta da sua vida. “Achei muito legal essa ideia de escrever. É impossível descrever o que vimos sobre eles e o quanto nos impressionou. É muito bom saber que podemos ajudar de alguma forma”, conta o adolescente, que escreveu na carta ainda que gosta de jogar bola e que quer ser engenheiro. “Eles também devem sonhar com o futuro”, completou. Já a experiência de Rafael Shiba é diferente. O aluno de 14 anos passou a infância escrevendo cartas para a tia no Japão. “Minha mãe já me incentivava desde cedo, mas essa experiência é diferente. Depois do projeto sou muito mais grato pela vida. Espero estar ajudando essas pessoas de alguma forma”, disse. Para a diretora da unidade de ensino, Marta Ignatios de Almeida, o projeto é muito positivo. Segundo ela, a educação hoje não pode pensar só na formação. É essencial incluir a cidadania na rotina dos alunos. “Quando a gente discute temas como esse, a gente contribui para uma geração mentalmente saudável, reflexiva, sensível e que sabe dos seus direitos e deveres. Damos muita liberdade aos professores para que adaptem novos assuntos às suas disciplinas e a Aline fez isso muito bem. Nos orgulhamos da iniciativa”, disse. Ainda segundo a diretora, o projeto segue por tempo indeterminado.

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