AGUACEIRO

Em 18 dias, choveu a média prevista para este mês inteiro em Campinas

Entre 1º e 18 de janeiro, soma das precipitações atingiu a marca de 285 milímetros

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
20/01/2023 às 08:46.
Atualizado em 20/01/2023 às 10:45
Árvore interdita via no Jd. Paulicéia: Secretaria de Serviços Públicos divulgou que mantém 260 pessoas trabalhando continuamente para a retirada das espécies que caíram devido às chuvas (Rodrigo Zanotto)

Árvore interdita via no Jd. Paulicéia: Secretaria de Serviços Públicos divulgou que mantém 260 pessoas trabalhando continuamente para a retirada das espécies que caíram devido às chuvas (Rodrigo Zanotto)

Campinas superou nos 18 primeiros dias de janeiro a média de chuva para o mês inteiro. Entre os dias 1º e 18, a soma das precipitações chegou a 285 milímetros na Estação Meteorológica do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura da Universidade Estadual de Campinas (Cepagri/Unicamp), quando a média histórica é de 271,2 mm para os 31 dias. A cidade também está próxima de atingir a previsão de janeiro completo de 2023, que é de 308 mm. 

O Cepagri ampliou na quinta-feira (19) o risco de ocorrência de novas tempestades até amanhã, quando a previsão inicial era até hoje. Porém, os meteorologistas do Centro já haviam alertado sobre a possibilidade de temporais pelos próximos 15 dias. As chuvas intensas desta semana farão com que os estragos se acentuem em toda a cidade, com ruas bloqueadas por quedas de árvores e casas sem energia elétrica, situação agravada pela tempestade da quarta-feira. A chuva não foi tão forte quanto a do dia anterior, mas os ventos chegaram a 68,5 km/h, segundo o Cepagri, o que provocou vários danos. 

Com isso, moradores enfrentam dificuldades até mesmo para sair de casa. Segundo balanço da Secretaria Municipal de Serviços Públicos divulgado no início da tarde de quinta-feira, 240 árvores caíram em dois dias na cidade. De acordo com a Prefeitura, o maior volume de chuva na quarta foi de 35 mm em 1 hora, na região Noroeste.

Parte da Rua Francisco Moretzshon, no Jd. Santana, completou na quinta-feira três dias de bloqueio por conta de duas árvores que caíram durante a tempestade de terça-feira. O morador André Flávio de Moraes ficou sem energia na quinta-feira porque as árvores derrubaram o postinho de luz da casa e não havia previsão de quando seria restabelecida. Antes, seria preciso cortar os troncos e retirá-los para que o caminhão munck pudesse colocar um novo poste. "Somente depois disso é que a energia será religada", disse.

Nas ruas em torno da Praça Geraldo Mendonça de Barros, na Vila Pompéia, os moradores estavam na quinta-feira, no final da manhã, há 18 horas sem eletricidade, porque a queda de duas árvores derrubou um poste e danificou a rede de energia. "Há muito tempo sabíamos que isso iria ocorrer. Foram realizados diversos pedidos de poda ou corte para a Prefeitura, mas deixaram isso acontecer", reclamou o aposentado Roberto Francisco de Camargo, que reside no bairro há 52 anos.

Os moradores reclamam do risco de novas quedas e o problema pode voltar a se repetir em breve. "A próxima a cair será esta árvore", afirmou o comerciante Luiz Henrique Virtis, apontando para uma que está inclinada na praça após a ventania de quarta. "A Administração aqui é boa apenas para pagar", criticou.

Rua Herbert de Souza, Jardim São José (Edimarcio A. Monteiro)

Rua Herbert de Souza, Jardim São José (Edimarcio A. Monteiro)

Outros casos

Nas ruas Serra Diamantina e Enrico Castelani, no Jd. São Fernando, os moradores também estavam há 18 horas sem eletricidade e sem previsão de quando o serviço seria restabelecido. A queda de uma árvore grande derrubou um poste da rede e puxou outro, que ficou inclinado e também precisaria ser substituído. "Eu entendo que a cidade toda está nessa situação, mas é preciso que as equipes sejam reforçadas, que contratem empresas e providenciem a solução", cobrou a funcionária pública aposentada Dulce Regina Fim Lima. 

Diversas outras vias de Campinas estavam com o trânsito interrompido por causa de árvores que caíram, como a Rua Ângelo Amilcare Beltrame (Jardim Ipiranga) e Rua Leonor Augusta Pádua e Castro Mundt (Vila Nogueira). Na Rua Lafayete Arruda Camargo, no Pq. São Quirino, os galhos cortados se acumulavam no canteiro central e calçadas, o que indicava a queda de várias árvores naquela via.

Na Rua Arlindo Carpino, no Novo Taquaral, encerravam no final da manhã de quinta-feira os trabalhos de fechamento de uma cratera de 2 metros de profundidade que se abriu na terça-feira e engoliu parte da vida e da calçada. Os moradores, que tiveram a eletricidade restabelecida após 25 horas, contabilizam os prejuízos. O aposentado Armando da Rocha limpava os dois veículos da família atingidos pela enchente. Os bancos estavam sujos de barro e indicavam a altura que a água chegou a atingir.

"Acionei o seguro e vamos ver como vai ficar", disse ele, que perdeu vários móveis. A gestora administrativa Adriana Romasanta, na manhã de quinta-feira, ainda limpava a casa que foi invadida pela enchente. Nas calçadas da rua se acumulavam lixo, comida estragada e galhos das árvores que caíram e foram cortadas. "Se chover forte, tudo isso vai parar no córrego, vai fechar a passagem da água, que subirá de novo", disse ela, reclamando que, apesar das solicitações na Prefeitura, os detritos não foram retirados.

A Secretaria de Serviços Públicos divulgou que mantém 260 pessoas trabalhando continuamente para a retirada das árvores que caíram devido à chuva dos dias 17 e 18 de janeiro. As equipes priorizam a desobstrução das vias para liberação do trânsito e calçadas. Já as equipes da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec) atuam nas vistorias para atualização da situação atual dos pontos que prosseguem com interdições. Esse trabalho ocorre concomitantemente aos acionamentos cotidianos relacionados ao monitoramento de trânsito e acidentes.

Segundo a Administração, o aditivo do contrato de tapa-buraco será no valor de R$ 6.093.390,87 por ano, enquanto o do serviço de poda de árvores chega a R$ 1.956.230,96 também anual. "A árvore não pode ser vista como a inimiga número 1. Ela tem um papel importante na saúde das cidades, capturando o gás carbônico da atmosfera, além de serem protegidas pela Lei Florestal", afirma o secretário de Serviços Públicos, Ernesto Dimas Paulella. De acordo com ele, todas as podas e extrações têm de ser justificadas e são passíveis de fiscalização por agentes externos, como o Ministério Público.

Para o secretário, muitos pedidos de podas e cortes feitos pela população não se justificam após vistoria in loco. Para ele, as quedas que estão sendo registradas no município são principalmente por três motivos, que podem estar associados: saturação do solo, que está encharcado por causa das constantes precipitações; ocorrência de chuvas acompanhadas por fortes ventos; e idade das árvores, como algumas que caíram com até 70 anos.

De acordo com Paulella, a prioridade da Pasta para enfrentar o grande número de quedas é desobstruir vias públicas, entradas de garagem e cortar e retirar os galhos para permitir os reparos na rede pública de energia elétrica. A retirada dos troncos, que são deslocados para liberar o trânsito, ficará para um segundo momento, cujo prazo pode chegar a uma semana. 

Estragos da última quinta-feira (19) (Edimarcio A. Monteiro)

Estragos da última quinta-feira (19) (Edimarcio A. Monteiro)

Mais estragos

Na quinta-feira, o volume de chuva que caiu no final da tarde atingiu 99,8 mm em apenas uma hora. A tempestade mais uma vez causou alagamentos e transtornos. No balanço da Defesa Civil contabiliza 23 alagamentos em imóveis (Regiões Sul e Sudoeste), 20 moradias atingidas no Beco Mokarzel, 3 moradias em Sousas, 13 vistorias em moradias em risco, 12 quedas de muros, 10 quedas de árvores, 10 erosões (via pública e córrego), 3 quedas de pontes (Jardim das Bandeiras, Jardim Boa Esperança e Jardim Santa Letícia), uma ponte em risco interditada (Parque Brasília), 5 risco de queda de árvore, 4 risco de queda de muro, um deslizamento. As regiões mais atingidas até o início da noite de quinta-feira foram a Sudoeste e a Sul.

Previsão

Segundo os meteorologistas, vários fatores contribuíram para a ocorrência de chuvas desde dezembro. De acordo com o Instituto Brasileiro de Meteorologia (Inmet), um deles é a ação de uma massa de ar quente e úmida nesses locais, como influência da Alta da Bolívia - anticiclone típico para esta época do ano, que atinge toda a América do Sul. Nas primeiras semanas deste mês, também houve grande entrada de umidade vinda do Oceano Atlântico, o que possibilitou a formação de nuvens, resultando em chuva devido ao forte calor.

Rua Herbert de Souza, Jardim São José (Edimarcio A. Monteiro)

Rua Herbert de Souza, Jardim São José (Edimarcio A. Monteiro)

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