amor ao próximo

Elos do bem fortalecem a sociedade

São voluntários, que nem se conhecem, mas que tiveram o mesmo sentimento diante ao isolamento social, provocado pela Covid-19

Alenita Ramirez
02/04/2020 às 07:51.
Atualizado em 29/03/2022 às 19:10

Uma corrente de solidariedade foi formada em Campinas para suprir moradores necessitados da periferia. São voluntários, que nem se conhecem, mas que tiveram o mesmo sentimento diante ao isolamento social, provocado pela Covid-19. São pessoas que se comoveram com a situação de famílias carentes, cujos responsáveis perderam o emprego ou até mesmo com os moradores em condições de rua, que foram afetados pelo fechamento dos restaurantes e da movimentação no centro da cidade. Nessa corrente existem empresários, servidores públicos, pequenos comerciantes e até desempregados. Cada um fazendo conforme seu olhar movido pela empatia. “A gente não precisa gastar muito para ajudar o próximo. Temos de ver que há pessoas que têm menos do que a gente e estão passando necessidades”, avalia a comerciante Maria de Lourdes Santos, dona de uma pequena loja de roupas na Vila União. No último sábado, Maria de Lourdes ficou comovida ao ver reportagens com moradores em condição de rua sem locais para fazerem a alimentação básica. Ela e o marido Valdeci Lúcio Ribeiro,um policial civil, decidiram comprar alguns alimentos e fazer 20 marmitex e distribuir aos moradores de rua. No domingo de manhã, eles preparam arroz, feijão, farofa, frango cozido e salsicha no tacho, além de verduras, e distribuíram na região do Terminal Central. “Foi muito bom. Uma sensação de alívio de desejo cumprido. Só fiquei triste porque não foram suficientes”, disse Maria. “Sou da periferia e já passei fome. Sei o que é isso. A preocupação não pode ser só para a epidemia, mas também pela fome”, disse Ribeiro. O casal está recebendo doações de cestas básicas e planeja fazer ao menos 100 mamitex no próximo domingo e atender aos moradores de rua. “Não podemos fazer isso durante a semana porque não temos condições, mas ao menos ao domingo”, afirma o casal. Já na região do Campo Belo, o desempregado Alex Bahia, de 39 anos, iniciou o trabalho solidário na última sexta-feira, com o empréstimo de livros para as pessoas se distraírem enquanto ficam em casa. Esse trabalho acabou desencadeando outra ação composta por doação de cestas básicas para famílias carentes do bairro. A iniciativa acabou sendo turbinada pelas redes sociais e ampliando o voluntariado, se transformando no projeto Banco de Alimentos, que reúne nove pessoas de cinco regiões da cidade. “Têm muitas famílias que já estão passando fome, que não têm o que comer em casa”, disse Bahia. A solidariedade também moveu o coração do empresário Fabrício Felipe Evangelista, morador no bairro Cambuí, região nobre de Campinas. Dono de uma loja de conveniência, sem ligação com grupos políticos, ele disse que se comoveu ao ver crianças brincando nas ruas da Gleba B, região do Parque Oziel, quando foi levar uma das empregadas na casa dela. “Muitas famílias daquela região, estão com os responsáveis desempregados e as crianças sem escola. O alimento está acabando dentro de casa. Vi que há famílias sem comida”, disse. Para ajudar, ele buscou apoio de amigos e conseguiu 260 cestas básicas, que serão distribuída amanhã. Se as doações seguirem, ele pretende levar às famílias da Vila Brandina. “Arrecadamos o equivalente a 3,6 mil quilos de alimentos. Também conseguimos carrinhos de bebê, fralda, mas só vamos entregar depois desta fase de isolamento para evitar contaminação”, contou o empresário frisando que a entrega será feita por 20 pessoas, com is equipamentos de segurança, obedecendo as orientações do Ministério da Saúde. Literatura é alternativa para desligar as telinhas O desempregado Alex Bahia, de 39 anos, decidiu emprestar livros para quem está em isolamento social por conta do coronavírus e está sem opção de entretenimento em casa. Para apresentar a iniciativa, ele montou uma tenda em frente sua casa, no Jardim Campo Belo 1, em Campinas, e expôs as obras. São ao menos 340 títulos que vão desde livro técnico a romances e poesias. “Amo leitura e ao longo da vida fui colecionando livros. Como nesse momento, um ajuda o outro como pode, decidi compartilhar meu patrimônio com quem precisa”, disse. Bahia contou que tomou a iniciativa para ajudar com a comunidade a qual ele convide desde criança. Segundo ele, o bairro não tem quase infraestrutura, é carente de políticas públicas e o acesso a informação é apenas pela TV, já que a internet é muito ruim por lá. “Os bares e o campo de futebol são os únicos locais de diversão por aqui. Com os bares fechados e sem poder irem no campo, as pessoas podem ficar doentes, com depressão. E a leitura abre a mente, faz a gente se distrair”, falou. Para emprestar alguma obra, Bahia determinou apenas um cadastro simples, no qual a pessoa fornece endereço e telefone de contato. Essa opção é para que ele consiga controlar os títulos emprestados e com quem está. “Conheço todo mundo no bairro e confio em todos. É uma forma qie eu consegui de rever os livros, caso alguém esqueça de devolver. As pessoas podem pegar, ler à vontade. Tudo que quero e contribuir neste momento tão triste”, comentou. A casa de Bahia fica na Rua Lázaro Ferreira Barbosa número 358, no Campo Belo 1. a tenda funciona sexta-feira e sábado.

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